Os conflitos
Por que existem conflitos na humanidade?
Nós olhamos e identificamo-nos com as diferenças. Um dos
exemplos mais fáceis de entendermos é o nacionalismo.
Somos de países diferentes, e como tal achamos que somos
diferentes uns dos outros, batendo no peito a nossa
nacionalidade. Os países foram feitos pelos homens e a
maioria, há pouco tempo.
Ter uma nacionalidade é ter nascido em determinado ponto
do globo, que para uma criança pouco ou nenhum valor
tem, mas para o adulto tem um valor mental, um
significado psicológico.
Ao sermos de determinado país, somos educados com
determinada cultura, criando uma parte muito forte de
nosso caráter. Olhamos para as outras pessoas, como se
fossem diferentes de nós, mas a diferença está na
estrutura psicológica, que forma o caráter, as crenças,
os desejos, os certos e os errados.
Imagine que bate com a cabeça e que tem uma
amnesia temporária, perdendo a memória. É como se
voltasse a nascer, sem conhecimentos, sem caráter, sem
estrutura psicológica.
Se tivesse que aprender tudo de novo, seria uma pessoa
diferente, não passaria as mesmas experiências. Isto é o
que acontece, cada vez que nascemos. Nascemos em sítios
diferentes e captamos a cultura desta zona. Certamente,
já tivemos outras religiões, outras culturas muito
diferentes, mesmo que tenhamos nascido na mesma zona,
pois o tempo de séculos passados, fazem com que a
cultura seja muito diferente.
O que nos faz entrar em conflito com os outros?
As culturas diferentes, as religiões diferentes, estas
tem sido uma das grandes motivações aos conflitos no
planeta, os clubes diferentes, os bairros diferentes, o
conhecimento diferente. Já viu alguém em conflitos por
semelhança de opiniões?
Hoje, entramos em conflito por sermos de uma
nacionalidade, de uma religião, de um idealismo, ontem
entramos por outra nacionalidade, religião ou idealismo.
Onde está tudo isto que nos movimenta?
Se respondeu na cabeça, na parte psíquica, na mente, são
tudo respostas aceitáveis.
Por que será que nos maltratamos tanto por uma
construção psíquica?
Sabemos que vamos morrer, não me refiro ao Espírito, mas
ao corpo e a entidade que nele habita. Muitos confundem
o Espírito com esta entidade.
Nós não somos a entidade da vida anterior, possivelmente
esta era muito diferente da que somos hoje, se calhar
até entrou em conflito com aqueles que seguem a cultura
que seguimos hoje, bastava ser de uma cultura diferente.
Imagine que na outra vida foi muçulmano, quem eram os
infiéis?
Achamos 80 anos muito, quando temos 20, mas as
reencarnações passam rapidamente. Se numas temos uma
opinião, noutras temos outras, ou acredita que nasce no
meio de uma cultura diferente e terá as mesmas opiniões?
Se neste momento o melhore país para si é o seu, na
próxima vida, qual será?
As ideias e crenças que nos forma, que nos caracterizam,
são pelas quais lutamos e entramos em conflito, com os
outros. Elas são temporárias, como vento. Numa mesma
vida, mudam ao longo desta. Somos diferentes em cada
década, por que as defendemos com unhas e dentes, ao
ponto de perdermos amigos e familiares?
Hoje somos o que somos, amanhã poderemos ser quem
atacamos.
Será que não existe mais nada para além das crenças de
cada vida?
Claro que existe, senão o que passaria de uma para
outra. Já se perguntou o que é?
Se vai dar a resposta: eu, está um pouco equivocado,
pois o eu morre, o mais tardar no novo nascimento.
Tudo o que falamos em cima, são estruturas mentais que
constroem cada personagem novo em cada reencarnação. São
construídas pelas tendências anteriores, influência do
perispírito, educação dos Pais, das escolas, influência
da cultura onde nasceu, onde viveu e todas as
experiências que passou. Isto de uma forma muito
generalizada.
Mesmo antes de acumularmos toda esta informação, já
existimos. Jesus até afirma que é nosso o Reino de Deus,
nesta idade, mostrando que com o crescimento e a
imposição de ideias com a idade, nos afasta deste Reino,
por causa dos conflitos.
Podemos existir sem estas formações mentais?
Claro que podemos, existimos todos os dias e
continuaremos a existir de vida em vida. O que existe?
Parece uma advinha.
Feche os olhos e imagine noutra vida, onde está num país
longínquo, com uma cultura daquele local, onde não tem
acesso ao cristianismo. O que sobraria de si, da pessoa
que é agora.
Não diga nada, algo sobra, mas não pense que é o que
está ligado a educação, a língua ou ao meio social.
Feche os olhos como se não houvesse passado nem futuro,
como se não houvesse lembrança nem imaginação. Pode
parecer um vazio, mas é algo.
Tudo o resto, as construções psíquicas, está acumulado
depois deste “vazio”, que na sabedoria oriental, dizem
que é o nada que se transforma em tudo.
Neste estado não existe ódio, pois o ódio é fruto do
pensamento que é filho do conhecimento da reencarnação.
Pode ter alguém ao seu lado ou próximo que odiou na vida
anterior, para que se pudessem reaproximar, como não se
lembra, possivelmente, ama.
Neste estado não existe egoísmo, pois é filho do
pensamento, nem raiva, nem ira, nem orgulho, pois o
orgulho é filho dos pensamentos sobre o personagem
temporário, nem infelicidade.
Não existindo nada disto, podemos afirmar que existe um
grau de felicidade? Maior ou menor, pois não existe
infelicidade.
Não existindo raiva, ódio ou ira, podemos afirmar que
existe um grau de amor?
Parece-nos estranho e sem valor, porque o pensamento só
dá valor ao pensamento, mas é um facto que continuamos a
existir e que existe paz, felicidade e amor, nem que
seja num grau mínimo.
Qual a primeira regra da oração?
Recolhei-vos aos vossos aposentos e orai em silêncio
(silêncio mental, pois os aposentos já são silenciosos),
que nosso Pai em silêncio escuta. O silêncio que é a
vibração de Deus.
Por que preferimos teimar nos conflitos? Porque a
sensação de estarmos certos, com razão e impormos a
nossa vontade, é mais saboroso para nós, que o silêncio,
que é a vibração de Deus.
Queremos ser grandes na Terra, o que faz de nós pequenos
no Reino do Céu.
Bruno Abreu reside em Lisboa,
Portugal.
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