|
Tecnologia e calor humano
A comunicação digital atingiu tal preponderância entre
os humanos que é difícil imaginá-los hoje conduzindo
suas vidas sem o recurso das telas. A subjetivação
domina crescentemente as relações, e isso parece estar
afastando as pessoas, umas das outras.
Creio até que se está normalizando o fato de as pessoas
não se encontrarem mais, não se visitarem, não se
reunirem, e quase não se falarem. Elas se satisfazem e
tranquilizam-se obtendo algumas notícias e informações
através de fotos e vídeos pelas redes sociais.
Viver socialmente de modo tecnológico traz benefícios
quanto à praticidade, à instantaneidade, a abrangência
de resultados, tudo fica mais rápido, mais fácil, mas é
inegável constatar uma espécie de frieza e
antinaturalidade permeando a convivência.
Quanto a esse tema, pesquisas internacionais mostram que
os brasileiros passam nove horas por dia ao celular e em
outros aparelhos eletrônicos, com cerca de três horas e
meia só nas redes sociais, quatro vezes mais tempo que
no Japão, um país tecnológico por excelência. O Brasil
ocupa a vice-liderança mundial em dependência dessa
tecnologia.
Segundo esses estudos, o uso excessivo das redes
sociais, por exemplo, pode apresentar efeitos que
impactam negativamente a saúde mental associada a
problemas de autoimagem, a maior exposição ao cyberbullying *,
ao medo de não estar inteirado dos acontecimentos, e a
menor interação social presencial.
Além disso, o uso exagerado de redes sociais está
relacionado ao aumento da prevalência de depressão e
ansiedade.
Outra pesquisa, realizada por cientistas da University
College London, mostrou que adolescentes viciados em
internet passam por alterações cerebrais que podem levar
a mudanças de comportamento, incapacidade de resistir ao
impulso de utilizar a internet, influenciando
negativamente seu bem-estar psicológico, bem como a sua
vida social, e o futuro acadêmico e profissional.
A vida no mundo físico requer contato de maior ou menor
intensidade entre as pessoas. O desenvolvimento saudável
do indivíduo vem dessa interação. Compreende-se, por
inúmeras razões, que as pessoas se utilizem de
instrumentos virtuais de comunicação e relacionamento,
afinal, o telefone com fichas, a correspondência por
cartas, os recados via telegrama etc., são coisas do
passado. Mas o que não se pode dispensar é o calor
humano nas relações, não só através da voz, mas da
presença, do toque, do olhar. Isso faz parte da essência
humana que o contato presencial aviva. De modo natural
“os homens buscam a sociedade por instinto” (1),
numa ação contrária ao isolamento.
Esse deslumbramento tecnológico moderno que tem fascinado e
deixado sequelas em crianças, jovens e adultos,
fatalmente será substituído breve por outro
deslumbramento tecnológico que, espera-se, seja menos
perigoso e desagregador para as relações humanas,
familiares e sociais.
Enquanto a indústria da virtualidade não apresenta esse
novo “produto”, que os estudos e pesquisas já feitos
sirvam de alerta.
*Cyberbullying: Violência repetitiva e persistente que
ocorre pela Internet, com o intuito de intimidar, de
humilhar ou de maltratar alguém. (Dicionário Online de
Português-Dicio).
(1) Questão 767 de O Livro dos
Espíritos.
Fontes de referência:
Revista Piauí, 15/02/2024.
CNN Brasil, 13/06/2024.
Portal G1 Globo, 25/08/2023.
|