Sabem, mas não fazem
Os discípulos reunidos em torno de um mestre oriental
bebiam dos seus ensinamentos para o enriquecimento
espiritual.
Um deles, procurando uma fórmula para sintetizar o que
todos ouviam, perguntou o que era preciso fazer para
engrandecer a vida.
O mestre respondeu que era necessário amar sempre a
todos os seres da criação. Acrescentou em seguida que
também era preciso nunca fazer o mal a nenhum deles.
O discípulo, julgando ser aquela colocação muito óbvia,
argumentou que aquela orientação até crianças sabiam.
O mestre, olhando-o complacentemente, concluiu com um
leve sorriso que era verdade, até crianças sabiam, mas,
infelizmente, a maioria dos adultos não procedia dessa
forma.
Sempre que retornamos a uma nova existência por
misericórdia de Deus, trazemos a incumbência de
depositar em nossa caminhada o amor ao próximo na
proporção que nossas imperfeições nos possibilitem.
Nenhum professor vai exigir de um aluno que principia no
aprendizado de ler e escrever que ele demonstre a teoria
da relatividade de Einstein.
Da mesma forma, conhecendo as nossas limitações como
Espíritos ainda no início dos primeiros passos em
direção à perfeição possível de ser atingida, não serão
exigidas de nós semeaduras que marquem com um trajeto de
luz nossa passagem pelo mundo dos encarnados.
Para os Espíritos pequenos em termos de evolução, passos
pequenos nas atitudes voltadas ao bem geral, entendendo
que os anjos de hoje foram em seu longo trajeto
evolutivo o que somos no momento atual da nossa
evolução.
Aliás, essa realidade está contida no O Livro dos
Espíritos, em que é revelado na questão 540 a Kardec
que tudo evolui na Natureza, desde o átomo até o
arcanjo, que um dia foi átomo também.
A dificuldade de pautarmos pela linha do correto, do
amor ao próximo, da elaboração íntima de um homem novo
que busca, mesmo a duras penas, distanciar-se do homem
velho, objetivo pelo qual retornamos à existência
terrestre, está muito bem abordada por Joanna de Ângelis
no novo livro psicografado por Divaldo Franco, Sendas
Luminosas, LEAL editora, em página intitulada Desafios
ao Ideal.
Vale destacar o primor desse livro não somente em seu
conteúdo, como sempre são os livros dessa Benfeitora,
mas no aspecto externo de uma beleza que chama a
atenção. Parece até que foi um presente de aniversário
ao digno trabalhador de Jesus comemorando seus noventa e
oito anos em sua passagem vitoriosa pelo mundo atual.
Ensina Joanna que a perseverança, em qualquer
realização superior, exige vasta cópia de resistência
contra o desânimo e todos os demais agentes de
perturbação que conspiram vigorosamente em favor do
abandono do empreendimento abraçado.
E continuando seus ensinamentos encontramos que não é
diferente quando se está envolvido pelos ideais
grandiosos do bem, que pretendem instalar na Terra o
período da paz e do progresso.
Enquanto os obstáculos surgem de fora para dentro
através dos arautos do pessimismo, dos defensores de que
não tem mais solução, de que a maioria segue por
caminhos não recomendáveis, os ataques, apesar de
atingir os menos preparados, ainda não se caracterizam
pelas armas mais poderosas com as quais se combate a
regeneração do ser imortal e, por consequência, a do
planeta como um todo em seu sentido moral.
As piores agressões, os apelos mais sinistros e
altamente perigosos procedem do interior do próprio ser
que se debate entre o homem velho e o aceno do homem
novo nas fronteiras da paz, do amor e da felicidade para
a qual foi colocado na Vida imortal o princípio
inteligente que transitou pelos diversos reinos da
natureza agregando aprendizado em sua caminha evolutiva.
Enquanto o apóstolo Paulo revelava que tinha um espinho
na carne, muitos Espíritos na atualidade do planeta
Terra possuem um espinheiro encorpado a dificultar a
marcha evolutiva, o que é de se esperar devido ao
aumento do retorno a novas experiências no plano físico
da existência de almas endividadas perante a própria
consciência.
O orgulho, a vaidade e egoísmo que proporcionam os
prazeres imediatos, embora fugazes do mundo, levantam-se
bradando para que o status quo seja mantido na
falsa impressão de que isso os conduzirá a um
esconderijo seguro perante a própria consciência em
dívidas perante as Leis de amor do Universo.
Aninha-se em sua intimidade junto a esses três pilares
de quedas graves do ser imortal, agarrando-se aos
convites que a matéria direciona a ele com promessas de
uma felicidade que se dilui como a bruma frágil se
dissipa aos primeiros raios do sol de uma nova manhã.
Ensina Joanna no livro anteriormente mencionado que
ninguém transita poupado pelo campo da autoiluminação.
Enquanto não se lhe instalem as claridades íntimas, a
permanência da treva da ignorância propicia-lhe
oportunidade para a manifestação dos agentes destrutivos.
Jesus, que não tinha nenhum obstáculo interior a ser
vencido na prática do amor incondicional demonstrado
pela sua presença em um corpo físico para convidar a
todos a essa conquista de si mesmos, teve a maior das
agressões que um ser revestido de matéria densa pode
sofrer com a sua destinação ao sacrifício extremo na
cruz.
No entanto, rogou o perdão para a nossa ignorância e,
numa prova de que ainda pede ao Pai por esse mesmo
desconhecimento imenso de que ainda somos portadores,
continua de braços abertos, não mais na cruz do
sacrifício, mas na mensagem do Amor que nos aguarda a
todos para que retornemos como filhos pródigos
conduzidos pelo rebanho do Divino Pastor, para que
possamos comemorar a vitória do homem novo sobre o homem
velho, quando, então, nenhum espinho estará presente
para macular a comunhão de cada criatura com o seu
Criador.
Ricardo Orestes Forni, médico e escritor com várias
obras espíritas publicadas, reside na cidade de Tupã, no
estado de São Paulo.