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por Bruno Abreu

 

A morte existe?


Uma das maiores crenças que os espiritualistas ou religiosos têm é que a morte não existe.

Esta ideia tem-nos levado à escolha dos caminhos errados, a escolha dos tesouros que terminam com o tempo, que a traça rói.

Estes tesouros não são apenas os bens materiais, mas todos os que o tempo extingue, pois os do céu são eternos.

Sei que pode ser um choque e que é assustador para a humanidade falarmos em morte, mas esta faz parte de um ciclo natural.

Vou tentar explicar com imagens, para se tornar mais simples.

Chegou a ver o filme “Nosso Lar”?

Lembra-se do Lísias? Um jovem que se tornou amigo do André Luiz e que estava breve para reencarnar?

O que acontece quando reencarnamos? Mantemos as memórias? Mantemos o eu que fomos na vida anterior?

O corpo, da vida anterior, já nem existe, morreu e retornou, através da decomposição, ao movimento químico e biológico natural do planeta.

A entidade que o habitava, neste caso, o Lísias, está próximo de desaparecer. Quando nascer, será uma nova entidade, com nome dado pelos pais, uma educação diferente, uma cultura diferente, alterada pela mudança geográfica e temporal do novo nascimento, acumulando novas experiências, influenciado pelas limitações ou capacidades de seu corpo.

Resumindo, o Lísias morreu.

Sei que o termo “morreu” é aterrador para a maioria, por isso, nos dar sensações de medo quando falamos ou ouvimos falar dele. Este só é mau se não nos familiarizarmos com ele, se o tentarmos entender, percebemos que não existe nada de mau neste, pelo contrário, leva-nos a uma vida pacífica de amor.

Algo morrer significa o final deste algo, uma nova época. Ou seja, a morte é um movimento de nascimento. Quando existe morte, existe nascimento.

No caso do Lísias, quando este morre, o novo personagem nasce, ou podemos ver ao contrário, quando o novo personagem nasce, o antigo morre.

Durante a vida, a morte e o nascimento acontecem muitas vezes, todos os dias, e por vezes, várias vezes por dia.

Por exemplo. A Manuela odeia a Carla. Quando a Manuela perdoa a Carla, aquele ódio morre, nasce, em seu espaço mental, algo de diferente que modifica a Manuela. O ódio deu lugar à paz e a algum amor, nem que seja de diminuta dimensão.

Se eu sou uma pessoa egoísta e entro na doutrina espírita, esta ensina-me a caridade e eu aceito. Aprendo a ser caridoso, mato aquele egoísmo em mim, torno-me diferente, pois no lugar do egoísmo acontece o espaço para nascer paz e amor.

Conseguem perceber o mesmo com todos as outras más tendências, como a raiva, o rancor e por aí fora?

A maior dificuldade que nós temos em ver a morte é com o ser psíquico que construímos, no meu caso o Bruno. Mas na teoria, graças ao ensinamento da reencarnação, podemos perceber teoricamente que este personagem não existirá na próxima vida, ele morre em algures.

Se perguntarmos a nós próprios o que sobrou do da vida passada, a maioria não sabe responder. Imagine que vivia no Egito, há duzentos anos, o que imagina que sobrou?

Jesus Cristo tem uma passagem na Bíblia, Lucas 9:59, que diz: “A outro, disse: - Siga‑me. Ele, porém, respondeu: - Senhor, deixa‑me ir primeiro sepultar o meu pai. Jesus lhe disse: ― Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o reino de Deus

Esta passagem parece-nos tão estranha, porque criamos a ideia de que ninguém morre. Jesus se refere aos mortos, não só ao morto de corpo, mas aos que estão vivos de corpo, ainda. Chama de mortos aos que iriam morrer. Quem são estes que morrem?

A ignorância do que somos leva-nos à crença de que somos este personagem. A maioria dos espíritas já afirmam de forma convincente que não são o corpo, mas continuam apegados ao personagem da Terra que irá morrer. Isso leva-os à escolha de uma vida em favorecimento a este personagem limitado, amealhando tesouros da Terra, onde estão incluídas formas de estar mentais.

Jesus, faz esta afirmação: Deixai o morto enterrar os seus mortos, porque aqueles que vivem a partir do personagem e em favorecimento a este, construindo, seja materialmente ou psicologicamente, estão a construir no que irá morrer.

A morte é extremamente importante para a evolução do espírito, sem ela, não existe evolução.

A forma como temos vivido é: O corpo nasce, temos a oportunidade de voltar a ser puros, pois é nosso o Reino de Deus. Cada vez que renascemos, somos crianças terrenas, e logo, em pequena idade, por influência da sociedade e hábitos enraizados na humanidade, criamos um personagem, com uma enorme força, um enorme caráter.

Este personagem é a individualização terrena, a separação de todo o resto, daí nascem todas as más tendências. O tal que está condenado a morrer.

A pergunta que devem estar a fazer é : Mas nós não morremos, pois não?

Quem somos nós? Esta é a verdadeira questão que devemos fazer, pois, se soubermos, estaremos a criar os tesouros certos.

Voltamos ao Lísias, para termos uma visualização. O personagem morre, o bebé nasce, não existe ainda um personagem, mas nós existimos. Segundo Jesus, é nosso (das crianças) o Reino de Deus.

O que realmente morreu?

Se soubermos o que morreu, deixamos de dar importância e alimentar o ser que morre. Passamos a dar importância ao que é eterno, ao que passa de uma vida para outra.

O que passa de uma vida para outra?

Não teorize, pois nenhuma palavra ou pensamento passa, tudo isso se inicia novamente.

Por essa ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: Quem é o maior no reino dos céus? — Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. — Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus — e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.” (S. Mateus, 18:1 a 5.)”

Como poderemos ser crianças toda a vida se não abdicando de nós?


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita