Mediunidade e Espiritismo
Meus amigos, a paz do Senhor Jesus seja conosco.
Para os espíritas desencarnados, a mediunidade é
problema dos mais aflitivos no santuário de princípios a
que empenhamos a nossa fé. Sabemos que mediunidade não é
Espiritismo. Ela surge dentro da Nova Revelação assim
como em medicina dispomos do veículo para o remédio. O
álcool, a água, o xarope não constituem a entidade
curativa em si, contudo são instrumentos valiosos que
lhe fixam os valores.
Imaginemos a ignorância como sendo a moléstia do mundo.
Ignorância que aumenta a animalidade, que garante a
desarmonia e a loucura. Mentalizemos o Espiritismo como
sendo a luz medicamentosa e a mediunidade desempenhando
a função do canal que lhe dissemina a virtude.
Quanta realização proveitosa se as criaturas trazidas
aos misteres medianímicos encarassem as suas
responsabilidades com mais ampla musculatura moral! Para
nós, batalhadores humildes, exonerados da carne com o
propósito de acentuar observações em prol do trabalho
sadio nos arraiais de nossa luta, a análise aparece como
serviço dos mais preciosos. Formulamos indagações
justas… Consultamos arquivos… E ficamos sabendo que há
precisamente um século a Esfera Superior tem
providenciado o renascimento de múltiplas comissões de
batalhadores, constituídas, todas elas, por Espíritos
missionários, que se oferecem como colaboradores
voluntários de bandeira libertadora de nossa Doutrina,
por almas endividadas que pedem provações nos alicerces
do Cristianismo redivivo ou por criaturas que se lançam
à conquista de méritos indispensáveis à mais ampla
ascensão no mundo espiritual. Entretanto, quão raros são
aqueles que no conflito entre a sombra e a luz não caem
às primeiras investidas da treva!
Exclamou o Senhor, certa vez, para os seus discípulos:
“Eis que vos envio como ovelhas aos círculos dos lobos”.
O Mestre, no entanto, não faria mensageiros desarmados
moralmente em si próprios. As ovelhas que endereçava ao
combate eram Espíritos enriquecidos de conhecimento
superior, capazes de exemplos dignos para a renovação
mental dos lobos humanos reencarnados na Terra.
Assim também os tarefeiros da mediunidade não chegam ao
berço terreno sem a necessária preparação. Contudo,
vemo-los, quase sempre, enfraquecidos e inermes ante as
sugestões de forças primitivistas que se acastelam há
milênios na carne, procurando desmoralizar os princípios
emanantes do Céu.
Aqui são criaturas que, aos primeiros convites do
prazer, se acamaradam com vampiros que lhes aniquilam a
resistência… Adiante encontramos companheiros que, na
fome doentia de conforto material, se rendem a gênios
substancialmente perversos que lhes exploram as
energias, anulando-as para o serviço edificante do
Senhor. Mais além encontramos aqueles que, nos primeiros
embates do ministério, preferem a covardia da poltrona
morna, a qualquer preço, para que se não vejam
aborrecidos por qualquer ideia de renunciação
individual. E concorrendo com semelhantes calamidades
vemos a praga da dúvida, a velha cortina de fumo de que
se prevalecem os inimigos da luz para que os soldados do
bem sejam neutralizados em sua capacidade de combater.
Se essa vacilação se referisse à influência do mal, ela
seria, talvez, justificável, entretanto, por mais
complexo se nos faça o raciocínio, reporta-se
inteiramente ao bem que nos pede amor e consagração.
Raramente encontramos algum companheiro que, em
cometendo essa ou aquela falta, não esteja convicto
quanto ao império dos inimigos desencarnados que lhes
flagelam a vida. Esse ou aquele delito é justificado com
a presença do obsessor. Essa ou aquela omissão no dever
a cumprir é imputada à atuação de Espíritos infelizes,
mas em se tratando do sacrifício que devemos à causa do
bem, a favor do próximo, quase todos os colaboradores do
trabalho mediúnico costumam asseverar: “É possível que
isso seja meu. Tenho receio de mistificar… Estou em
dúvida e por isso devo guardar abstenção… Tenho medo de
mentir à minha própria consciência… Não tenho certeza se
me cabe agir dessa ou daquela maneira, porque não vejo
bem as entidades desencarnadas… Não ouvi com clareza o
Espírito protetor e por isso mesmo senti-me na obrigação
de evitar a mensagem…” Essas e outras frases explodem a
cada passo, aqui e ali, como se nós, em nossa clara
posição de inferioridade, estivéssemos realmente
habilitados à pratica do bem e como se esse bem não
fluísse da Esfera Superior, procurando os nossos
singelos recursos de interpretação.
Não podemos hesitar no culto à fraternidade. Todos
estamos armados com o discernimento preciso para saber
que essa ou aquela palavra, e que essa ou aquela
providência são destinadas à melhoria, ao consolo, ao
socorro e ao amparo daqueles que nos cercam. Basta que
façamos silêncio, guardando a coragem de emudecer nosso
personalismo delinquente para que o auxílio divino se
estabeleça através de nossas possibilidades, na garantia
da felicidade dos outros. Quanta lágrima enxugada,
quanto reconforto administrado, quanta riqueza emotiva
fixada em corações sofredores, quanta luz nas almas
obscurecidas pelas trevas se tivermos o desassombro de
entregar o coração, o cérebro, a voz e os braços à
glória do bem para que o amor se estenda puro!
É imprescindível acordar os companheiros da mediunidade
para a obra do bem incondicional, a fim de que não
estejamos imobilizando a ação dos instrutores do Alto,
abnegados e vigilantes na renúncia e na caridade, em
benefício do mundo. Mediunidade e Espiritismo!
Espiritismo é a lição divina de Jesus, como o sol
brilhando para todas as criaturas, indistintamente!
Mediunidade é instrumentação humana para a dosagem dessa
luz na redenção das consciências encarnadas e
desencarnadas. Ajudemos àqueles corações incumbidos de
desdobrá-la para que raciocinem a tempo, a fim de que o
tempo de permanência na carne lhes seja realmente
favorável, porque todos nos achamos em marcha para a
verdade suprema.
Mediunidade e Espiritismo! Espiritismo é bênção do
Criador. Mediunidade é trabalho da criatura. Mal
caminharemos, porém, se os médiuns, longe do estudo e
longe da prestação de serviço desinteressado, se
acomodarem com as trevas disfarçadas em aplauso do mundo
e exclusivismo doméstico. Não podemos esquecer a
obrigação de prosseguir no sulco dos pioneiros da nossa
fé, a começar pelo exemplo daquele pioneiro maior que
foi o apóstolo da Codificação, Allan Kardec!
É preciso não olvidar que todos nós encontramos no
Espiritismo a possibilidade da grande iniciação para a
Vida Maior, iniciação que pode ser sintetizada com o
primeiro mandamento da lei, “Amarás o Senhor teu Deus de
todo o teu coração e de todo o teu entendimento”, a
desdobrar-se no ensinamento vivido de nosso Senhor Jesus
Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”
Do livro Registros imortais, comunicação
transmitida psicofonicamente pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
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