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por Eurípedes Kühl

 

O futebol e a escola


Vindo da Europa, em particular, da velha Albion — nome tradicional da Grã-Bretanha, desde Ptolomeu —, o futebol (football = jogo de bola com o pé) desde que aqui aportou, nos fins do século 19, chegou para ficar.

A magia do futebol que reina na alma dos torcedores responde pelo expressivo número de fãs desse esporte coletivo, no mundo todo, mas aparentemente com mais encanto no Brasil.

Em nosso país, com efeito, o prazer de participar de uma simples “pelada” [1], já a partir da infância, talvez explique a fantástica e crescente quantidade de craques brasileiros.

Interessante notar que esse esporte, tão decantado por flamantes locutores esportivos, traz em si mesmo, dentre outras, a característica particular do “envelhecimento/aposentadoria” precoces, principalmente sobre jogadores profissionais, famosos ou não, com luzes dos holofotes brilhando sobre uns e outros, intensamente ou pouco, mas por pouco tempo para todos eles...

É comum que os jogadores profissionais que se destacam, quando a idade ronda ou pouco ultrapassa os trinta anos, sejam inexoravelmente conduzidos para o término (precoce) da carreira, o que representa o ostracismo para eles, que um dia vivenciaram a fama... situação difícil de ser administrada.

Mas, se no futebol esse é o enredo, na escola é outro, conquanto entre ambos exista um ponto comum: o tempo da prática futebolística e o tempo de frequência escolar, como períodos adjacentes à idade do jogador ou à do aluno. Nos campos esportivos ou nas escolas, respectivamente, mergulham suas vidas, seus sonhos, seus projetos e o seu futuro.

Comparando o futebol com a escola e jogadores com alunos:

- no futebol, além dos onze jogadores, há o técnico, o juiz principal, o juiz auxiliar, os dois bandeirinhas, o massagista, os boleiros etc., e na escola há os alunos, o diretor, os professores, os inspetores, os auxiliares da administração escolar e as equipes de serviços gerais;

- na prática do futebol o jogador amador pouco ou nada ganha, mas ao se transformar em profissional recebe salários (alguns astronômicos...) e na escola os alunos da rede pública nada pagam, mas os da rede particular desembolsam mensalidades (algumas astronômicas também...);

- quando o jogador de futebol se aposenta é mais ou menos no tempo em que o aluno que se formou e se especializou inicia sua carreira profissional;

- o jogador faz gol(s), alguns simples, outros espetaculares; o aluno tira nota em provas, algumas regulares, outras, máximas;

- o futebol será sempre mais produtivo se jogado com espírito de equipe, tanto quanto a aprendizagem compartilhada será aquela que ofertará mais conhecimentos;

- o futebol irmana o time, a escola une a classe;

- o jogador inescrupuloso é expulso do campo; o aluno desleixado cedo abandona os estudos;

- o bom jogador treina intensamente, o bom aluno estuda bastante;

- jogadores mudam de time, alunos mudam de escola;

- alguns jogadores vão jogar no exterior, alguns alunos vão se aperfeiçoar em outros países;

- futebolistas e trabalhadores, cada um e todos fazendo suas escolhas, esportivas ou profissionais: prósperas realizações, individuais ou coletivas;

- o futebolista, assim como os demais profissionais diplomados em geral, em sua caminhada trabalhista correta escolhida, vencem os “exames” da Vida: fama ou simplesmente consciência tranquila;

- finalmente: tanto o futebol, quanto a escola, são fontes inesgotáveis de construção de sonhos, de esperanças, de realizações, de alegrias, às vezes de tristezas. Quanto aos amores, breves ou “para sempre”, sempre visitam jogadores e alunos, ostensivamente àqueles (pela mídia), ocultos a estes; saudades de uns e outros, escondidas nos estádios vazios, gramados silentes, ou nas carteiras escolares, silêncio e férias...

Todas essas nuanças no tempo ou no espaço, semelhantes ou invertidas, fazem do futebol e da escola o tema da nossa proposta: refletir nos valores físicos e intelectuais doados por Deus aos homens, como ferramentas adequadas às suas vidas, com bem-estar, paz, harmonia e progresso, despertando e vivenciando emoções.

Reduzindo os termos:

O jogador de futebol consagrado geralmente começa nos times de base, alcança os da série superior, atinge o clímax da carreira na seleção nacional e depois, inexoravelmente, entra na descendente, até “aposentar-se”. Nesse contexto, terminada a carreira como atleta, não raro vincula-se a uma atividade correlata, seja como técnico, treinador em escolinhas de base, juiz esportivo, comentarista de rádio/TV, jornalista de esportes etc. Em seu sangue fala alto o encantamento de uma bola que rola na grama, que voa, e que principalmente beija a rede, onde se aninha: é o gol!

Já o aluno, que também começa nas séries do fundamental, passa para o ensino médio, para o superior, qualifica-se e é aí que inicia o exercício profissional de sua opção. Nova subida, agora de outra base. Vencendo obstáculos, com perseverança, dedicação e competência, alcançará o topo. Aposentar-se, então, significará vitória e a felicidade de contemplar o horizonte da sua vida, desde o passado até o presente e sentir-se um feliz vencedor.

Claro que tudo isso não são regras fixas da Vida, nem do futebol, nem da escola, mas apenas reflexões sobre alguns pontos em que atletas e alunos, fundamentalmente, irmanam-se em dois campos de ação, de tempo e espaço diferentes, bifurcados.

É assim que imaginamos irmanar esses dois campos de ação, extraindo deles conceitos similares de ética, de cultura e vivência, marcando muitos gols e obtendo excelentes vitórias, com aprendizagem para todos.

E então, quando as lembranças, sob comando da saudade visitarem jogadores e alunos, no encerramento dos respectivos ciclos, felizes serão os que fraternalmente vivenciaram conceitos de ética e desportividade, de aprendizagem e cultura — numa e noutra área profissional.

Deus, o Supremo Juiz, na hora exata, para todos sinaliza o início do Jogo da Vida... E depois, quando é a hora de cada participante parar!

 

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[1] “Pelada” - S.f. Bras. 1. Jogo de futebol ligeiro, sem importância, em geral entre garotos ou amadores, e que se realiza em campo improvisado. 2. Partida de futebol mal jogada ou sem maior interesse. (Novo Dicionário básico da língua portuguesa – FOLHA SP/AURÉLIO)

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita