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por Martha Triandafelides Capelotto

 

Lei de Liberdade


No Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos temos o estudo das Leis Morais, um dos capítulos mais relevantes da obra, pois seu conteúdo traz um norte para que possamos dimensionar como funcionam as leis de Deus, já que todas enquadram-se nas Leis Naturais, imutáveis e aplicáveis a todos e que estão gravadas em nossa consciência, nos indicando o que devemos e o que podemos fazer e que, aquele que dela se afasta, se distancia também da felicidade.

Escolhi fazer algumas considerações sobre a lei de Liberdade.

Inicio, como sempre costumo fazer, trazendo o sentido etimológico da palavra liberdade que, segundo o dicionário ,significa a condição do indivíduo que possui o direito de fazer escolhas autonomamente, de acordo com a própria vontade; como também um conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado, poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei.

Na tradição cristã, a liberdade está muitas vezes identificada como livre-arbítrio.

Já no direito, liberdade está também relacionada com os direitos de cada cidadão.

A liberdade é classificada pela filosofia, como a independência do ser humano, autonomia, autodeterminação, espontaneidade e intencionalidade. A liberdade pode ser entendida em um sentido amplo ou mais restrito, pensado como liberdades e definidas pelo Direito. Alguns exemplos de liberdades são:

Liberdade de pensamento; Liberdade de expressão; Liberdade religiosa; Liberdade de Imprensa; Liberdade de Ir e Vir; Liberdade Condicional.

Assim, percebemos já de início, que a liberdade está atrelada aos direitos de cada criatura como também ao uso de seu livre-arbítrio.

Vejamos agora como Kardec sistematizou o assunto, no capítulo X, perguntas 825 a 872.

A primeira abordagem relaciona-se sobre o desejo humano de possuir uma liberdade absoluta em relação a seus atos e vontades, ao que responderam: “Não, porque vós todos necessitais uns dos outros, os pequenos como os grandes”.

Insistindo, Kardec pergunta se haveria alguma situação na qual o homem poderia ter essa liberdade de forma absoluta e a resposta: “A do eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e não terão eles, portanto, liberdade absoluta”

Desse modo, por essas duas respostas já depreendemos que, por sermos seres gregários, nunca teríamos liberdade, de forma absoluta, pois meu direito cessaria onde se iniciaria o direito do outro. Não só de direitos vivemos, mas, igualmente de deveres.

Também importante ressaltar que, apesar de gozarmos de uma liberdade relativa, não nos é retirado o direito de nos pertencermos.

Escravidão (Relação com a Lei do trabalho)

Outra questão levantada por Kardec foi a da escravidão e sua relação com a lei de Trabalho, e as respostas foram como sempre absolutamente esclarecedoras.

Vejamos: “Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso (que é também outra Lei Natural, A Lei do Progresso), como pouco a pouco desaparecerão os abusos. A lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente”.

Mesmo que a escravidão pertença aos costumes de um povo, o mal é sempre o mal, muito embora os Superiores fazem uma ressalva ao grau de culpabilidade, de acordo com o grau de entendimento. Se os que escravizam consideram algo natural e o fazem de boa-fé, serão responsabilizados conforme a razão se desenvolver e compreenderem que um escravo é seu igual perante Deus.  Mesmo que tratem seus escravos com humanidade, ainda assim, terão responsabilidade por privá-los do direito de pertencerem a si mesmos.

Infelizmente, ainda não nos livramos totalmente da escravidão, que sabemos ainda vigorar em alguns bolsões em nossa humanidade.

Liberdade de Pensamento

No tocante à liberdade de pensamento, o homem goza de uma liberdade sem limites, porque este não conhece entraves. Pode impedir-se a sua manifestação, mas não o aniquilar, sem contar que, perante Deus, deverá prestar contas.

Liberdade de Consciência

A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem.

A consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar, querer. É una e indivisível.

A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso. Constranger os homens de maneira diversa ao seu modo de pensar é torná-los hipócritas. Toda crença é respeitável desde que seja sincera e conduza à prática do bem. Devemos respeitar os que não pensam como nós. Quando nos depararmos com doutrinas perniciosas, podemos, com brandura e persuasão, a exemplo de Jesus, tentar mostrar o equívoco, já que a convicção não se impõe.

Reconhecer uma doutrina em correspondência com a verdade será toda aquela que nos induza à prática da Lei do amor e Caridade na sua maior pureza e na sua aplicação mais ampla.

Livre-arbítrio/ Fatalidade e Reencarnação

Aqui reside alguns pontos da maior relevância para bem compreendermos os meandros da Justiça Divina, perfeita e justa.

O livre-arbítrio é a liberdade que temos para procedermos às nossas escolhas. Sem ele, não passaríamos de uma máquina.

Relembrando o continuador de Kardec, Léon Denis, em sua obra “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” como sendo o Livre-Arbítrio, uma das potências da alma, ao lado da vontade e da consciência.

É de se ressaltar que nas primeiras fases da vida essa liberdade é quase nula e somos tutelados. Evoluindo gradativamente, vamos ganhando autonomia e sendo responsáveis por nossas escolhas. Assim, a liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. A noção de moralidade é inseparável da de liberdade.

O livre-arbítrio tem uma importância capital e graves consequências para toda a ordem social, por sua ação e repercussão na educação, na moralidade, na justiça, na legislação etc. Ele determinou duas correntes opostas de opinião, os que negam o livre-arbítrio e os que o admitem com restrição. Tanto uma como outra, sem adentrarmos as minúcias, partem da ideia de uma única existência. E é aí, neste ponto que vamos encontrar na nossa Doutrina, mais uma questão, para mim, a cereja do bolo, a reencarnação. A única capaz de explicar todos os acontecimentos que permeiam a nossa existência.

O livre-arbítrio, a livre vontade do Espírito exerce-se principalmente na hora das encarnações. Escolhendo tal família, certo meio social, ele sabe de antemão quais são as provações que o aguardam, mas, compreende, igualmente, a necessidade dessas provações para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos, despir seus preconceitos e vícios. Sabemos também, orientados pelos Espíritos que estiveram com Kardec, que essas provações podem ser também consequência de um passado nefasto que é preciso reparar. Em compreendendo todo esse mecanismo, procuraremos fazer melhores escolhas e irmos assim, gradativamente, subindo na escala evolucional.

Abençoada Doutrina que esclarece, que consola, que explica à luz da razão, quebrando dogmas obsoletos e equívocos de alguns pontos da ciência.

Como uma complementação a esses ensinamentos, Emmanuel, no livro Vinha de Luz, na lição 128, citando Paulo de Tarso, em Gálatas, 5:13, nos orienta: “Não useis, porém, da liberdade para dar ocasião à carne, mas, servi-vos uns aos outros pela caridade”.

Também oportuno lembrar, do próprio Paulo, quando ele disse: “Tudo me é lícito, porém, nem tudo me convém”.

E para encerrar, na Revista Espírita, 1860, no mês de abril, uma mensagem belíssima, pelo espírito Abelardo que assim diz: “Deus é amor e liberdade. É pelo amor e pela liberdade que o Espírito se aproxima d´Ele. Pelo amor desenvolve, em cada existência, novas relações que o aproximam da unidade; pela liberdade escolhe o bem que o aproxima de Deus. Sede ardorosos na propagação da nova fé; que o santo ardor que vos anima jamais vos leve atentar contra a liberdade alheia. Evitai, por meio de uma insistência muito grande junto à incredulidade orgulhosa e temível, de exasperar uma existência meio vencida e prestes a render-se. O reino da violência e da opressão acabou; o da razão, da liberdade e do amor fraterno está começando. Não é mais pelo medo e pela força que os poderosos da Terra adquirirão, doravante, o direito de dirigir os interesses morais, espirituais e físicos dos povos, mas, pelo amor e pela liberdade.

Que a Lei de Liberdade, possa assim, nortear os passos de toda a nossa Humanidade, principalmente daqueles a quem são confiados os postos mais elevados de comando, para que tenhamos uma convivência respeitosa, exercitando nosso direito até o limite em que não ferimos o direito alheio.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita