Tribunal da
consciência
É aí, na
consciência, que
o verdadeiro
tribunal de
justiça se
estabelece. As
precárias e
mutáveis leis
humanas vivem se
alterando, por
motivos variados
– desde como
consequência da
mudança de
hábitos e
costumes até às
adaptações para
interesses
variados –, com
desdobramentos
nem sempre
éticos e muitas
vezes até
raiando às
incoerências e
absurdos.
Nem é preciso
alongar as
argumentações.
As
interpretações
equivocadas,
inclusive com
requintes de
vingança ou
caprichos, e
muitas vezes
adaptadas, que o
cenário atual
apresenta deixam
escancaradas as
necessidades do
quanto nos falta
para uma justiça
plena.
Vamos à obra
básica O
Livro dos
Espíritos,
norteamento
doutrinário
incomparável:
Questão 875: Como
se pode definir
a justiça?
“A justiça
consiste em cada
um respeitar os
direitos dos
demais.”
a) — Que é o que
determina esses
direitos?
“Duas coisas: a
lei humana e a
lei natural.
Tendo os homens
formulado leis
apropriadas a
seus costumes e
caracteres, elas
estabeleceram
direitos que
podem ter
variado, com o
progresso das
luzes. Vede se
hoje as vossas
leis, sem serem
perfeitas,
consagram os
mesmos direitos
que as da Idade
Média.
Entretanto,
esses direitos
antiquados, que
agora se vos
afiguram
monstruosos,
pareciam justos
e naturais
naquela época. Nem
sempre, pois, é
acorde com a
justiça o
direito que os
homens
estabelecem. Ademais,
este direito
regula apenas
algumas relações
sociais, quando é
certo que, na
vida particular,
há uma
imensidade de
atos unicamente
da alçada do
tribunal da
consciência.”
Questão
876. Posto de
parte o direito
que a lei humana
consagra, qual a
base da justiça,
segundo a lei
natural?
“Disse o Cristo: Queira
cada um para os
outros o que
quereria para si
mesmo. No
coração do homem
imprimiu Deus a
regra da
verdadeira
justiça,
fazendo que cada
um deseje ver
respeitados os
seus direitos. Na
incerteza de
como deva
proceder com o
seu semelhante,
em dada
circunstância,
trate o homem de
saber como
quereria que com
ele procedessem,
em circunstância
idêntica. Guia
mais seguro do
que a própria
consciência não
lhe podia Deus
haver dado.”
Comentário do
Codificador:
Efetivamente, o
critério da
verdadeira
justiça está em
querer cada um
para os outros o
que para si
mesmo quereria,
e não em querer
para si o que
quereria para os
outros, o que
absolutamente
não é a mesma
coisa. Não sendo
natural que haja
quem deseje o
mal para si,
desde que cada
um tome por
modelo o seu
desejo pessoal,
é evidente que
nunca ninguém
desejará para o
seu semelhante
senão o bem. Em
todos os tempos
e sob o império
de todas as
crenças, sempre
o homem se
esforçou para
que prevalecesse
o seu direito
pessoal. A
sublimidade da
religião cristã
está em que ela
tomou o direito
pessoal por base
do direito do
próximo.
Os grifos são
meus, que
entrego à
reflexão do
leitor. As
deturpações
ocorrem, pois,
por nossa conta,
individual ou
coletiva. O
tribunal da
consciência,
todavia, cobrará
a reparação. Não
haverá castigo,
mas severa
cobrança
consciencial,
que nos imporá
retorno ao
cenário onde
aplicamos nossa
mediocridade
para corrigir e
reparar os danos
que causamos a
nós, aos outros,
à coletividade.
A questão é mais
séria que
parece. O tema é
oportuno no ano
que se lembra os
160 anos de O
Céu e o Inferno,
da Codificação
Espírita.
Antes que as
opiniões
pessoais –
sempre limitadas
e precárias – o
sentido exato da
justiça deve
prevalecer,
usando-se o
discernimento e
o bom senso,
para não cairmos
nos prejuízos
das seduções,
que iludem e
provocam os
extremos do
fanatismo e da
cegueira do
raciocínio.
Afinal como
indica a
resposta dos
Espíritos: Nem
sempre, pois, é
acorde com a
justiça o
direito que os
homens
estabelecem. Observação
grave, não é
mesmo leitor?
Pois que a
realidade atual
mostra que não
estamos nos
respeitando
mutuamente nos
direitos e
deveres.
Estamos
claramente nos
lesando
mutuamente.