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Ano 2 - N° 80 - 2 de Novembro de 2008

FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com
Londrina, Paraná (Brasil)

 

Waldenir Aparecido Cuin: 

"Uma criatura moralizada será sempre um homem de bem onde quer que esteja”
 

O administrador de empresas Waldenir Aparecido Cuin (foto) é articulista em diversos semanários espíritas distribuídos em Votuporanga (SP), cidade onde reside desde a década de 1970 quando chegou com sua família, oriundo de Cosmorama (SP). Espírita desde 1972, Cuin foi um dos fundadores, juntamente com outros jovens da época, da Mocidade Espírita do Centro Espírita Humberto de Campos, de Votuporanga, onde atualmente é o presidente da casa.

Autor de sete livros, o dedicado confrade foi também um dos principais responsáveis  pela  criação  da  Associação

Beneficente “Irmão Mariano Dias”, departamento do Centro Espírita Humberto de Campos, onde atualmente são atendidas 170 crianças e adolescentes. Na entidade, que funciona como centro de educação infantil, os jovens recebem aulas de pintura, língua estrangeira, artesanato, informática, bordados, além de apoio escolar. Segundo Cuin, que também é coordenador geral da associação, a entidade também presta atendimento aos pais das crianças assistidas oferecendo-lhes cursos de eletricidade, hidráulica e bordados. 

O Consolador: Que cargos ou funções você já exerceu no movimento espírita ao longo de sua vida?

Fundamos a Mocidade Espírita no Centro Espírita Humberto de Campos, mas depois de um tempo, por problemas verificados no Centro, quando toda a diretoria o deixou, acompanhada de praticamente todos os freqüentadores, nós da Mocidade assumimos a direção e com enorme dificuldades e esforços, contando obviamente,com o socorro espiritual, conseguimos reorganizá-la, de modo que o Centro Espírita Humberto de Campos segue suas atividades até os dias de hoje.  

O Consolador: Qual atividade exerce neste momento?

Sou presidente do Centro Espírita Humberto de Campos e coordenador geral da Associação Beneficente Irmão Mariano Dias. No campo da divulgação, publicamos duas colunas espíritas semanais, uma no “Diário de Votuporanga” e outra no “Jornal A Cidade”, também de Votuporanga. Na imprensa espírita, publicamos artigos mensais na “Folha Espírita”, artigos bimestrais na “Revista Espírita Verdade e Luz”, de Lisboa, Portugal; artigos freqüentes na revista eletrônica “O Consolador” e em vários sites. Também publicamos sete livros, sendo que a renda auferida, embora pequena, é toda destinada às atividades assistenciais e de promoção humana da Associação Beneficente Irmão Mariano Dias. 

O Consolador: Quando você teve contato com o Espiritismo pela primeira vez?

Através de um primo, pois sabíamos da sua opção pelo Espiritismo, enquanto toda a nossa família pertencia às fileiras católicas. Por curiosidade nos aproximamos dele querendo informações sobre a vida após a morte do corpo. Na oportunidade, isso em 1970, ele nos presenteou com um volume de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, e um volume do livro “Vozes do Grande Além”, de Espíritos diversos, psicografia de Francisco Candido Xavier. A leitura dessas obras nos parecia familiar, algo que realmente deveria ser verdade. Mas o fato marcante mesmo foi que o nosso sonho era ser jogador de futebol. Com dezessete anos iniciávamos nossa carreira na Associação Atlética Votuporanguense, time da cidade que disputava o campeonato da 1ª divisão do Futebol Paulista. No entanto, seis meses após, sofremos uma grave contusão no joelho direito, tendo que ser submetido a processo cirúrgico, sem sucesso, onde passamos mais de seis meses em tratamento médico, não sendo mais possível continuar com o nosso sonho. Nossa carreira ficou interrompida e uma enorme frustração nos levou a questionar o porquê dessa ocorrência. Depois de muito procurar, e sem poder jogar mais futebol, começamos a trabalhar, pois a necessidade material preocupava nossa família. No emprego conhecemos um senhor muito generoso, José Bruno Mattiazzo, que nos ouviu algumas vezes, e, diante da nossa história, nos conduziu ao Centro Espírita Humberto de Campos, onde estamos até hoje, para outros desafios, não mais nos gramados, mas diante de tantos problemas e dores que afligem os corações humanos. 

O Consolador: Qual foi a reação de sua família ante sua adesão à Doutrina Espírita?

Inicialmente foi de preocupação, porque corria um boato falso, em nossa comunidade, que quem se ligasse a um Centro Espírita se fanatizava e acabava por deixar tudo de lado em nome de uma religião demoníaca. Mas o tempo e nossa perseverança conseguiram provar o contrário. Hoje, praticamente, toda a nossa família é espírita, tendo em meus pais, irmãos, esposa, filho e nora, grandes aliados e colaboradores das atividades que exercemos. 

O Consolador: Qual dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – mais o atrai?

Os três são fundamentais para que possamos compreender o Espiritismo. O científico nos esclarece e explica os fenômenos mediúnicos e sua abrangência; o filosófico nos ensina a forma correta de viver, de seguir pela vida tirando o máximo de aproveitamento das oportunidades que surgem e o religioso nos apresenta as condições para a necessária e urgente reforma moral. O conhecimento e a maneira de viver bem são muito importantes, mas o crescimento interior, a prosperidade moral, o progresso espiritual, com o desenvolvimento dos sentimentos do amor e da fraternidade, são urgentes e imprescindíveis, e isso conseguimos com o entendimento e a prática do Evangelho do Cristo. Por isso temos profunda admiração pelo aspecto religioso do Espiritismo. Uma criatura moralizada será sempre um homem de bem onde quer que esteja. 

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?

Gosto muito de Pedro de Camargo (Vinícius), Richard Simonetti, Léon Denis, Herculano Pires, dentre outros. 

O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura indispensável àqueles que se iniciam no Espiritismo?

O correto é começar bem: “O Principiante Espírita”, “O Que é o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”, ou seja, a obra de Allan Kardec, que é de fácil entendimento e, a partir de então, o estudante terá plenas condições de estudar outras obras, sem correr o risco de se perder em leituras enganosas e equivocadas que hoje grassam no meio espírita. 

O Consolador: Se você fosse para um local distante, sem acesso às atividades e trabalhos espíritas, que livros levaria?

Levaria os livros de Kardec, a obra de André Luiz, os cinco clássicos romances de Emmanuel, e o livro “Fonte Viva”, também de Emmanuel. 

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Sem dúvida, é uma religião, pois que nos apresenta as lições de Jesus Cristo com uma clareza e abrangência sem precedentes. O Espiritismo nada acrescenta aos ensinamentos de Jesus, mas os explica de tal forma e com tanta lógica que permite a todos nós acesso fácil ao seu conteúdo, criando a ambiência desejada para a tão necessária reforma moral de casa um. 

O Consolador: Outro tema que suscita geralmente grandes debates diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Obra confusa e totalmente dispensável. Nada acrescentou ao que Allan Kardec e a equipe de o Espírito da Verdade apresentaram ao mundo. Temos Kardec, Léon Denis, Herculano Pires, Bozzano, Pedro de Camargo (Vinicius), Emmanuel, André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda, Bezerra de Menezes, Humberto de Campos e tantos outros luminares da literatura espírita que oferecem material para longas e profundas meditações. Não precisamos correr o risco de ler o que é duvidoso, pois que temos o que é totalmente correto e devido. 

O Consolador: Qual sua opinião sobre os passes padronizados propostos na obra de Edgard Armond, embora saibamos que no Brasil prevalece hoje, quase que de forma geral, a simples imposição das mãos, tal como recomendado por J. Herculano Pires?

Ficamos com J. Herculano Pires, pois as narrações evangélicas nos indicam que Jesus também assim fazia, colocando as mãos sobre os necessitados e os ajudando fluidicamente. O passe nasce do nosso desejo de ajudar o próximo, contando com o apoio do mundo espiritual. Assim não cremos que deva existir padrão para a expressão do amor e da fraternidade.   

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? Acha que os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida, como, aliás, tem feito a Igreja?

“O Livro dos Espíritos”, na questão de nº 358, informa: “Há sempre crime, quando se transgride a lei de Deus. A mãe ou qualquer pessoa cometerá sempre um crime ao tirar a vida à criança antes do nascimento”. Portanto, abortar é tirar a oportunidade de um Espírito vir ao mundo físico para a aquisição de novas experiências evolutivas. Nós espíritas precisamos, sim, ousar mais, obviamente dentro de um padrão de equilíbrio, mas sem medir esforços para evitar, através dos meios que estiverem ao nosso alcance, que a legalização do aborto se concretize.

Lamentavelmente o Ministro da Saúde, Doutor José Gomes Temporão, defende a idéia de que a legalização do aborto virá resolver um problema de saúde pública, em se referindo à enorme quantidade de abortos que são feitos às escondidas. Perguntamos, então: Os tóxicos, hoje consumidos largamente, têm feito grande número de doentes e criminosos e, por certo, é também um problema de saúde pública e de segurança. Deveremos, então, legalizar e liberar o uso da cocaína, do crack, da maconha, do ecstasy e outros? 

Uma lei poderá tornar o aborto um procedimento legal, mas nem por isso ele deixará de ser imoral, acarretando terríveis danos aos praticantes, pais, médicos, influenciadores etc. Nossa luta deverá ser sempre pela vida e nunca pela morte. 

O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a idéia da ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual é sua opinião a respeito?

O médico estuda por longo tempo visando salvar vidas, aliviar as dores e o sofrimento das criaturas. Assim, deixar de medicar um paciente terminal, para que morra naturalmente, no mínimo será omissão de socorro. A ciência não consegue precisar com total acerto o momento em que um doente sem cura irá morrer. Seu drama pode durar horas, dias, meses ou anos. Muitos casos existem de pessoas que resistiram um tempo muitíssimo maior do que era previsto. Dessa forma, se um Espírito precisa passar pela experiência de ficar algum tempo em um corpo que não tem mais condições de vida, que fique pelo menos com um pouco mais de conforto que a medicina pode oferecer. Somos de opinião que tudo devemos fazer em prol da vida, enquanto existir a mínima possibilidade de alguém permanecer no corpo físico, pois minutos de reflexão de um Espírito atrelado à matéria poderá evitar grandes e longos aborrecimentos no futuro. 

O Consolador: O movimento espírita em nosso País lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

A Doutrina Espírita vem sendo divulgada com grandes esforços e a determinação de muitos irmãos. Sempre teremos mais a fazer e precisamos insistir para melhorar a sua propaganda, para que as lições do Espiritismo possam chegar a todas as criaturas, ficando como opção aceitá-las ou não. Os recursos financeiros têm sido escassos e o material humano também não é abundante, pois que a tarefa da divulgação é penosa, árdua e não dispensa a coragem, a perseverança, o idealismo e a consciência de passar adiante aquilo que tanto bem nos fez e vem fazendo. Cremos que o movimento espírita vem realizando o que pode. Devemos rogar imensamente a Deus por mais forças para que as tarefas da divulgação sigam seu curso, crescendo sempre. 

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o País? Na sua opinião, como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Os níveis da criminalidade e da violência são muito preocupantes, e, somente a educação poderá modificar o quadro social que aí está. Educar para formar o caráter das pessoas e com isso edificarmos homens de bem. A família, que é a base da sociedade, não vem no momento desempenhado o seu devido papel. Os modismos, as tolerâncias perigosas, a omissão paterna, a inversão dos valores morais, os descasos para com a disciplina da prole são fatores que comprometem as criaturas dentro do lar. Nossos filhos precisam também de educação religiosa, tanto quando de médicos, dentistas, roupas, calçados, escola. Precisamos cuidar do corpo, mas jamais esquecer de cuidar do Espírito, pois que reencarnamos para corrigir velhos hábitos e aprendermos novas lições de dignidade.

No contexto social em que vivemos, podemos fazer muito para ajudar no combate à criminalidade e à violência. Ergamos instituições filantrópicas e de promoção humana e criemos oportunidade às crianças e jovens que vivem na penúria. A computação, a música, as artes plásticas, a dança, o artesanato e tantas outras atividades têm feito verdadeiros prodígios nas comunidades de risco.  Aos filhos das famílias de melhor renda demos exemplos de dignidade, honradez e decência. Na verdade não existem crianças ou jovens ruins, mas sim aqueles que não encontram oportunidades dignas e, em decorrência disso, escorregam pelos desfiladeiros do mal. 

O Consolador: Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma eqüidade perfeita regulará as relações sociais?

Numa entrevista, Chico Xavier afirmou que o Brasil será o que os brasileiros fizerem dele. Aproveitando o mesmo raciocínio podemos dizer que a Terra será o que nós fizermos dela. Está em nossas mãos transformar o planeta de expiações e provas em um mundo regenerador.  Obviamente, não existe uma data definida para isso. Tudo vai depender de nossos esforços em promover as devidas mudanças íntimas, substituindo os defeitos por virtudes, e superar o mal fazendo o bem. Existem muitos e graves pontos de conflito na Terra. Uma guerra de proporção mundial, por certo, seria uma grande catástrofe e um atraso evidente para essa esperada promoção.    

Façamos nossa parte, empreendendo todos os esforços possíveis para ajudarmos na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, e estaremos contribuindo de forma decisiva para que a Terra chegue a ser um mundo regenerador. 

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, o que você acha que deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Empenharem-se ao máximo  para que as valiosas e profundas lições de Jesus Cristo cheguem a todas as criaturas do Brasil e do mundo. Pois somente será possível a paz na Terra se Jesus, definitivamente, morar no coração de cada homem. Muitos, certamente, não o aceitarão, outros permanecerão indiferentes, mas uma grande maioria da população mundial, cansada de tantos equívocos e ilusões, fará a tão desejada reforma íntima, “matando o homem velho que mora na intimidade para fazer nascer o homem novo”, conforme nos sentenciou Paulo de Tarso. Os dirigentes espíritas, acima de tudo, deverão dar exemplos da vivência prática do Evangelho do Cristo, pois as palavras informam, as letras instruem, mas os exemplos convencem e arrastam seguidores.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita