que se lhe
apresentam. “Com
o Espiritismo –
diz ela - tenho
aprendido a me
conhecer melhor,
a ser capaz de
deixar
ressentimentos;
tenho aprendido
a me perdoar e a
perdoar, a me
dar conta dos
erros que faço e
tentar não
tornar a
fazê-los.”
O Consolador:
Que motivo a
levou a mudar-se
de Cuba para a
Espanha?
Vim morar em
Barcelona em
outubro de 2002.
Meu esposo veio
antes para
estudar, ficou e
decidirmos viver
aqui.
O Consolador:
Qual a sua
formação
escolar?
Universitária.
O Consolador:
Você exerce
algum cargo no
Movimento
Espírita?
Não. Nunca tive
nem tenho nenhum
cargo no
Movimento
Espírita.
O Consolador: Em
que atividades
na Casa Espírita
você participa
no momento?
Participo nas
atividades do
Centro
Barcelonês de
Cultura Espírita
e colaboro em
tudo o que eu
posso.
O Consolador:
Quando se deu
seu primeiro
contato com o
Espiritismo?
Meu primeiro
contato com o
Espiritismo
ocorreu em 1998,
aqui mesmo em
Barcelona, numa
viagem que eu
fizera antes de
me mudar pra cá.
O Consolador:
Houve algum fato
ou alguma
circunstância
especial que
haja propiciado
esse contato?
Antes de mais
nada, o fato da
viagem, porque
para um cubano
sair do seu país
já é coisa
transcendental.
Logo depois, meu
esposo conheceu
alguns livros de
Kardec. Um dia,
estava
procurando aqui
e encontramos
“No Invisível”,
de Léon Denis,
com prólogo do
Centro
Barcelonês de
Cultura Espírita
(C.B.C.E.), onde
aparecia o
endereço do
Centro. Fizemos
contato com eles
e assim
começamos a
conhecer a
Doutrina
Espiritista.
O Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família?
Meu esposo e eu
compartilhamos o
estudo do
Espiritismo,
vamos juntos às
atividades do
Centro e
tentamos
compartilhar
nossos
conhecimentos
com o nosso
filho. Assim,
tem sido muito
boa a reação da
família. E se
você pergunta
sobre a família
maior, formada
pelos meus pais,
meus irmãos,
minha avó, digo
que eles não
compreendem
muitas coisas,
mas respeitam e,
além disso,
muitas vezes
perguntam e se
interessam pelo
assunto.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo -
ciência,
filosofia,
religião - qual
o que mais a
atrai?
A filosofia.
O Consolador:
Qual dos
autores
espíritas você
gosta
mais?
Allan Kardec e
Léon Denis.
O Consolador:
Que livros
espíritas que
tenha lido você
acha
indispensáveis
para o
companheiro
iniciante?
“Que é o
Espiritismo?”,
de Allan Kardec,
e “Depois da
Morte”, de Léon
Denis.
O Consolador:
Para você o
Espiritismo é
uma religião?
Para mim o
Espiritismo não
é uma religião.
No C.B.C.E.,
concordamos
muito com a
citação de Allan
Kardec, inserida
no final do
Preâmbulo do
“Que é o
Espiritismo?:
“O Espiritismo é
ao mesmo tempo
uma ciência de
observação e uma
doutrina
filosófica. Como
ciência prática,
consiste nas
relações que são
possíveis
estabelecer com
os Espíritos.
Como filosofia
abarca todas as
consequências
morais que de
ditas relações
emanam.”
Termina esse
Preâmbulo com a
definição do
Espiritismo mais
clara realizada
por Kardec:
“O Espiritismo é
uma ciência que
trata da
natureza, origem
e o destino dos
Espíritos, e das
suas relações
com o mundo
corpóreo”.
Temos ressaltado
a expressão
“consequências
morais”, pois
pensamos que é a
que a mais se
aproxima da
estrutura
filosófica do
Espiritismo.
Além disso,
cremos que, se
Kardec houvesse
desejado se
referir a
“consequências
religiosas”, no
lugar de
“consequências
morais”,
havê-lo-ia
falado
expressamente
neste texto; e,
se assim
houvesse
realmente
pensado, não
definiria o
Espiritismo como
sendo uma
ciência, senão
como uma
religião.
Esta definição
de “Que é o
Espiritismo?”
tem uma grande
importância,
pois
praticamente é a
única que como
tal formulou
Kardec. Só temos
presente outra
definição de
Kardec no
vocábulo
Espiritismo, mas
que nada opõe à
já referida. Ela
está no cap.
XXXII –
Vocabulário
Espírita - de “O
Livro dos
Médiuns”, e reza
assim:
“Doutrina
baseada na
crença de que
existem os
Espíritos e as
suas
manifestações”.
O Consolador:
Como você vê a
questão dos
passes
magnéticos?
No Centro
Barcelonês de
Cultura Espírita
conhecemos a
obra
“Mediumnidad” e,
no tocante aos
passes, achamos
acertada a
opinião do Sr.
Armond, plasmada
no capítulo 20
dessa obra:
“É por isso que
toda
exterioridade,
todo cenário de
que se revista
sua aplicação
deve ser deixada
como inútil. Uma
simples
imposição de
mãos basta
muitas das vezes
para obter o
efeito desejado,
porque esse
efeito não
reside no gesto,
na mecânica da
aplicação, senão
no desejo
sincero que tem
o operador de
aliviar o
sofrimento do
enfermo”.
O Consolador:
Como vê a
discussão sobre
o aborto e como
este assunto é
tratado na
Espanha?
Na Espanha, o
aborto está
legalizado há
mais de 20 anos
e se está
iniciando, por
parte do atual
governo, um
processo de
revisão dessa
lei, para
ampliar,
provavelmente,
os pressupostos
e os prazos em
que possa se
produzir
legalmente a
interrupção da
gravidez.
Pensamos que não
seria adequada
uma oposição
beligerante a
essa ou a
qualquer outra
lei legalmente
estabelecida,
sempre que se
trate de leis
que PERMITAM,
mas NÃO
OBRIGUEM.
Além disso,
pensamos que o
Espiritismo deve
respeitar a
capacidade
legislativa dos
governos
democráticos,
ainda que as
leis promulgadas
sejam
incompatíveis
com o elevado
sentimento moral
do Espiritismo e
de outras
filosofias ou
religiões. O que
podemos fazer, o
que devemos
fazer desde as
fileiras
espíritas, é
predicar com o
exemplo e deixar
claro, tantas
vezes quantas
sejam possíveis,
que a atividade
abortiva nada
resolve mas
complica ainda
mais a vida
atual e
posterior da
mãe, do Espírito
reencarnante e,
na maioria das
vezes, das
restantes
pessoas
implicadas nesse
lamentável
procedimento.
O Consolador:
A eutanásia é
prática que não
tem o apoio da
doutrina
espírita.
Ultimamente
surgiu, porém, a
ideia da
ortotanásia,
defendida mesmo
pelos médicos
espíritas. Qual
a sua opinião?
Se entendermos
por ortotanásia
a defesa do
direito a
morrer
dignamente,
sem o uso de
meios
desproporcionados
e
extraordinários
para manter a
vida, e que
consiste em
deixar que a
morte chegue
naturalmente,
tratando os
doentes com os
tratamentos
paliativos
possíveis para
se evitar
sofrimentos,
concordaríamos.
Podemos lembrar
até, a respeito
do assunto, uma
frase inserta em
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo”, de
autoria de São
Luís:
“Mitigai os
últimos
sofrimentos
tanto como
podeis, mas
poupai-vos de
abreviar a vida,
mesmo quando não
seja senão por
um minuto,
porque este
minuto pode
evitar muitas
lágrimas no
porvir”.
No C.B.C.E.,
pensamos que,
inevitavelmente,
temos que ir um
pouco além da
recomendação do
Espírito de São
Luís, pois que
se mitigarmos a
dor tanto como
se possa – como
ele recomendava
- é praticamente
inevitável
minimizar a vida
do enfermo.
Cremos que
apesar disso é
legal aliviar as
dores das
enfermidades
tanto quanto
possível. É
provável que
essa diminuição
de dores possa
propiciar a
reflexão do
enfermo sobre a
sua situação
mais até do que
quando o
indivíduo se
encontre imerso
em contínuas
dores.
O Consolador:
Você conhece o
Movimento
Espírita
brasileiro?
Não conheço o
Movimento
Espírita
Brasileiro o
suficiente, mas,
embora a
distância, temos
um sentimento de
certa
perplexidade
ante a
supremacia das
obras mediúnicas
de estilo
novelão sobre as
obras de estudo
e análises da
doutrina.
O Consolador:
Como se
desenvolve o
Movimento
Espírita em Cuba
e na Espanha?
No meu país
natal, que é
Cuba, há
bastante
confusão com
respeito ao
Espiritismo, e
em poucos
Centros faz-se
um estudo sério
da Doutrina.
Entre esses
lugares onde se
estuda com
seriedade está a
Sociedade
Espírita Allan
Kardec, de
Holguín, de onde
tenho o prazer
de ser membro,
ainda a
distancia,
porque não perco
nunca o vínculo
com as pessoas
de lá e mantemos
uma relação de
amizade, de
fraternidade.
Sempre que
podemos
colaboramos com
algum livro ou
algum material
que possa ser de
utilidade para
eles. Quando
visitamos Cuba
não deixamos de
visitá-los e
trocar
conhecimentos e
experiências com
eles.
Na Espanha, meu
segundo país,
podemos dizer
que o Movimento
Espírita está
pouco infiltrado
no tecido
social,
provavelmente
por esquecimento
dos princípios
morais da nossa
sociedade, onde
se constata uma
grande presença
do consumismo
materialista
sobre os valores
da
espiritualidade.
E cremos que
assim acontece
na Europa toda.
O Consolador:
Quando e como se
originou o
Movimento
Espírita na
Espanha?
Quanto às
origens do
Movimento
Espírita na
Espanha temos
que procurar no
último terço do
século XIX,
quando o Sr.
José María
Fernández
Colavida
realizou a
primeira
tradução das
obras de Kardec
para o idioma
espanhol. Assim
mesmo, é de
ressalvar que em
1861 aconteceu
um “Auto de Fé”
contra livros
espiritistas,
como Kardec
relata em “Obras
Póstumas”.
Depois disso, o
Movimento
expandiu-se de
maneira
equilibrada na
Espanha dando
lugar à fundação
de muitos
Centros e à
publicação de
numerosos
jornais
espíritas. O
momento
culminante foi a
celebração do V
Congresso
Espiritista
Internacional em
Barcelona, em
1934. Depois,
com as terríveis
guerras que
assolaram a
Espanha
(1936-1939) e a
Europa
(1939-1945) e a
instauração da
ditadura
militar, o
Espiritismo
passou a ser uma
ideia duramente
reprimida, que
somente
subsistiu no
seio de algumas
famílias.
O Consolador:
Como vê você o
nível de
criminalidade e
de violência que
parece aumentar
no Brasil e no
mundo e como
nós, espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
alterada?
Acreditamos, tal
e como se
depreende da
ideia
espiritista, que
o bem é mais
importante que o
mal e que, tarde
ou cedo, o bem
sobrepujará no
mal. Também é
verdade que o
ruim é chamativo
e escandaloso
gerando sempre
muitíssima mais
expectação que
quaisquer obras
positivas. Já
Kardec
expressava essa
inquietude em “O
Livro dos
Espíritos”, na
questão 784:
“A perversidade
do homem é muito
grande, e não
parece que
retrocede sem
adiantar, pelo
menos desde o
ponto de vista
moral? “Tu te
enganas. Observa
bem o conjunto e
enxergarás como
adianta, pois
compreende
melhor o que é
mau e a cada dia
reforma abusos.”
No C.B.C.E.,
pensamos que a
melhor maneira
de cooperar na
luta contra o
mal é o bom
exemplo dos
espíritas como
bons cidadãos,
com um
comportamento
educado, sensato
e nobre e,
também, com a
divulgação –
adequada às
possibilidades -
dos valores
promovidos pela
moral espírita.
O Consolador:
Sobre os
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
Movimento
Espírita no
mundo?
Provavelmente,
além de cogitar
dos problemas
que enfrenta a
sociedade
terrena, haveria
que considerar
em primeiro
lugar os
problemas que
enfrenta o
Movimento
Espírita. No
C.B.C.E.
pensamos que,
ante as
divergências no
seio do
Movimento
Espiritista,
ante alguns
comportamentos
inadequados – às
vezes muito
inadequados – de
alguns
espiritistas,
deveríamos
primar pelo
retorno à
essência da
doutrina
codificada por
Kardec. Isso
deveria supor:
-
Respeito
entre todos
os
espiritistas.
-
Ser
consciente
de que não
se pode
concordar
com tudo,
pelo fato de
ser
espiritista.
Como muito
bem
exemplifica
André Luiz
(Opinião
Espirita,
Capítulo 9,
“Estar com
todo”):
Devermos
tratar com
benevolência
e suavidade
a aqueles
que não
pensam como
nós, porém,
com
intenções de
ser
agradáveis a
eles não
podemos
aceitar seus
preconceitos,
enganos ou
impropriedades.
A Doutrina
Espírita
está baseada
na lógica,
sendo por
isto que,
para ser
espíritas, é
impossível
nos
evadirmos
dela.
-
Não se
deixar
tentar por
um afã de
proselitismo.
“Pela
minha parte
– disse
Kardec em O
que é o
Espiritismo”,
Primeiro
Diálogo, O
Crítico-,
não dou
forças a
ninguém para
que se
convença.
Quando
encontro
pessoas
sinceramente
famintas de
se instruir,
e que me
fazem a
honra de me
pedir
esclarecimentos,
é para mim
um prazer e
um dever
responder-lhes,
na medida
dos meus
conhecimentos.”
-
Primar,
acima de
tudo, pelo
estudo da
doutrina e a
análise
minuciosa e
desapaixonada
das
comunicações
mediúnicas.
Quanto aos
problemas da
sociedade
terrena, os
espiritistas
temos de
colaborar para o
melhoramento do
clima moral da
sociedade como
um todo,
trazendo nossa
modesta
contribuição
tentando ser
cidadãos
sensatos,
educados e
defensores dos
valores morais.