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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 3- N° 106 – 10 de Maio de 2009

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)

 

Eugênia Maria Pinheiro Ramires:
 

“A educação de hoje não pode mais ser aquela que herdamos dos nossos pais e avós”

A educadora cearense, autora do livro Crianças Esquecidas,
fala sobre o tema crianças hiperativas ou com distúrbios
de atenção e diz como o assunto deve ser tratado
pelos pais e pelos educadores

 

Eugênia Maria Pinheiro Ramires, nossa entrevistada da semana, é educadora e jornalista. Nascida em Fortaleza (CE), reside atualmente na cidade de Jales (SP). Com três livros publicados e um no prelo, espírita desde a infância, vinculada ao Grupo de Estudos Espíritas em Jales e coordenadora de cursos de estudos espíritas, além de oradora espírita, como mãe viveu a experiência de uma filha hiperativa, que a levou a ampla pesquisa sobre a temática. A resposta à entrevista revela lances surpreendentes no depoimento de uma mãe que buscou respostas e agora auxilia outras mães. 


O Consolador: De onde surgiu seu interesse pela temática sobre crianças hiperativas?
 

Esse meu interesse surgiu quando descobri que minha filha caçula não tinha um comportamento neurotípico. Para conviver com ela precisei estudar muito, conhecer seu comportamento, saber quem realmente era ela, para não ignorá-la, nem rotulá-la. Era um desafio buscar essa descoberta, mas eu sabia que era um Espírito muito querido que retornava. 

O Consolador: Como foi a descoberta da hiperatividade em sua própria filha? 

Alguns especialistas diziam que ela era autista e hiperativa. Outros, que tinha asperger, uma forma leve de autismo, e outros não conseguiam dar um diagnóstico. Isso me levou a procurar grupos de estudos formados por profissionais da saúde e da educação e por pais, nos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha, onde os estudos nessa área estavam mais adiantados. Nessa época, também fui buscar informações no livro Autismo, uma visão espiritual, do Hermínio Miranda. 

O Consolador: E como ocorreu o processo de desenvolvimento de métodos para a educação da menina? 

Esse processo partiu do princípio de que a escola tradicional não sabia lidar com ela. Por exemplo: ela só foi falar aos três anos e meses depois começou a ler sozinha, de forma compulsiva e sem qualquer orientação dos adultos. Ela sempre foi muito independente. Trazia um conhecimento da vida espiritual muito grande, falava de reencarnação e sempre teve um sentimento de justiça aguçadíssimo. Era desapegada de coisas materiais. E o que complicava ainda mais seus relacionamentos na escola era que ela procurava argumentar isso com a turma. Dá para ter uma idéia do que isso representava na sala de aula? Tinha uma necessidade muito grande de aprender, mas a escola não era o seu lugar, como ela mesma sempre dizia. Por isso, busquei inspiração em Pestalozzi para educá-la em casa, somando a sua metodologia com as informações atualizadas que obtinha via internet, com esses grupos de estudos.  

O Consolador: Por que resolveu transformar sua experiência em livros e palestras? 

O acúmulo de informações que vinham das mais variadas fontes, todas com credibilidade comprovada, me levaram a uma reflexão muito séria sobre a necessidade de compartilhar aquilo tudo com tantas mães desesperadas por não saberem o que fazer com seus filhos em situações semelhantes. Foi quando criei o Projeto FloreSer. Um dos meus incentivadores nesse período foi o próprio Hermínio Miranda, que em uma correspondência me falava da minha maior conquista que era resgatar a minha filha e também dizia para continuar com meu trabalho. Ele dava muita importância para a divulgação da minha experiência e isso me levou a incluir o tema nas minhas palestras, quando também comecei a ser solicitada para dar cursos e seminários sobre o assunto. A repercussão foi tanta que decidi sintetizar parte desses estudos no livro Crianças Esquecidas, com referências pedagógicas e fontes de pesquisa para quem precisa lidar com essas situações. 

O Consolador: Quais são seus livros publicados?  

Meu primeiro livro foi Acordes do Coração, Editora Sirius, 1998. É um livro autobiográfico onde procuro narrar alguns episódios dessa minha busca de autoconhecimento, em forma de reflexões e exercícios, a partir do meu dia-a-dia. Diário da Meditação, Editora Sirius, 1999, veio em seguida, inspirado por meu mentor que me levou a viagens espirituais, numa verdadeira mensagem de paz e harmonia e como testemunho de que não estamos sós e nem vivemos só uma vez. Crianças Esquecidas, Editora Sirius, 2007, como já disse, faz parte do Projeto FloreSer. O livro ajuda a conviver com as diferenças. Nele, procurei fazer uma síntese do que consegui e do que existe de mais avançado nas pesquisas sobre a mente das crianças de hoje. Isso, junto com os estudos e ensinamentos sobre as formas de agir em casa e na escola. É um conjunto de estudos sintetizados que têm na sua base as referências pedagógicas de Kardec, Pestalozzi e outros educadores com visão espiritualista.  

O Consolador: Há outras obras inéditas? Quais são? 

Meu próximo livro tem como título Pedagogia das Diferenças e deverá ser lançado em breve, pela Mythos Editora. É onde narro minha experiência e meus passos, como mãe que foi se informar para lidar com a filha superdotada e os resultados dessa vivência tão rica e gratificante que transformou minha vida. Nesse livro procuro mostrar que qualquer pessoa que se dedique à verdadeira educação, desprovida de preconceitos e velhas tradições e com visão de um mundo em transformação, pode conseguir os mesmos resultados.   

O Consolador: Nas palestras, quais as repercussões? Há depoimentos de outras mães? 

Muitos. As repercussões podem ser medidas exatamente com essa procura de mães e professores, em todas as nossas palestras e cursos e nos e-mails que recebo diariamente do Brasil e do exterior de pessoas querendo informações sobre essas questões e sobre o nosso trabalho. Sinto claramente e de forma cada vez mais intensa que na nossa mensagem há uma identificação muito grande com a ansiedade dessas mães, pais e avós que não sabem como lidar com essas crianças. O mais importante é que ao darem seus depoimentos essas pessoas se sentem confortadas em saber que existe uma solução diferente do comportamento tradicional. Na verdade, acredito que a grande maioria já sabia disso antes de conversar comigo, mas não tinha conhecimento dos mecanismos que levam às soluções que estão acima das posturas ultrapassadas. Essas mães sabem que os velhos métodos não resolvem as situações que elas estão enfrentando, mas também não sabem o que fazer. As dificuldades aumentam pelo fato de não serem compreendidas nessa tarefa, justamente pela mesmice, pela uniformização imposta pela sociedade atual que resiste, mas que está sendo transformada pela nova geração, já citada exaustivamente na literatura espírita, inclusive pelo próprio Kardec. 

O Consolador: Em sua visão, como a Doutrina Espírita orienta esse processo educativo? 

Como já vinha dizendo, estamos vivendo num mundo em vertiginoso processo de transformação que tem uma ligação muito estreita com o que Kardec chamou de nova geração. Precisamos compreender essas crianças “diferentes” que não são outras senão aquelas que Kardec já anunciava, há mais de 150 anos e que viriam para consolidar essas mudanças para um novo mundo. Sem essas informações fica difícil desenvolver um sistema de aprendizagem que exige, acima de tudo, uma visão nova, despojada dos valores materialistas e de sucesso a todo custo, mas que se preocupe, principalmente, com a qualidade de vida dessas crianças. A Doutrina Espírita é fundamental, como também são imprescindíveis os estudos e a dedicação, envolvendo toda a família, em torno desse projeto educacional. E esse aprendizado tem que ser compartilhado. Temos que fazer aquilo que Hermínio Miranda me disse em um de seus e-mails, que é levar essas informações àqueles que ainda não fazem essa leitura espiritual quando se deparam com essas síndromes. Só assim, ainda nos dizeres de Hermínio, estaremos colaborando para que um dia se remova o véu que a ciência materialista não tem como fazer.  

O Consolador: As idéias defendidas são provenientes de pesquisas? De que autores? 

Na verdade já são quase 15 anos que venho estudando as questões que envolvem educação inclusiva, dificuldades de aprendizagem, autismo, asperger, hiperatividade, déficit de atenção e altas habilidades/superdotação. É um trabalho que exige pesquisas e comparações sobre estudos e obras de diversos autores, mas que se soma aos depoimentos de mães e professoras que souberam lidar com essas crianças e que vêm obtendo sucesso nessa área, transferindo essas experiências para outras pessoas. É o que fazemos no Projeto FloreSer, reconhecido por autoridades no assunto como o professor Russell  Barkley, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Suny Upstate Medical University de Nova Iorque, autor de vários livros sobre TDAH e considerado o mais importante pesquisador e conferencista internacional nessa área. Nosso projeto é citado por Barkley em seu livro “Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH”, da editora Artmed, como referência no Brasil nessa área. Recentemente tivemos nosso trabalho destacado pelo editor do jornal da Sociedade Autística Nacional do Reino Unido que nos convidou para colaborar com artigos sobre o assunto. Trata-se da sociedade fundada pela psiquiatra Lorna Wing, a maior pesquisadora do autismo no mundo. 

O Consolador: E como lidar, no Centro Espírita, com essas diferenças de comportamento entre as crianças nas aulas de evangelização infantil? 

Como já dissemos, a educação nos dias de hoje não pode mais ser aquela que herdamos dos nossos pais e avós. A Doutrina Espírita ensina que educar é muito mais do que simplesmente ensinar boas maneiras e que trabalhar as diferenças passou a ser fundamental. Se a própria doutrina nos diz isso, temos que levar essa nova visão para as aulas de evangelização infantil, mesmo porque é nessa fase que a criança começa a despertar para os valores da vida. Assim, elas vão aprendendo desde o início que as pessoas não são iguais e precisam ser vistas e tratadas da forma como elas são, respeitando suas individualidades. Convivendo com as diferenças, essas crianças, “diferentes” ou não, estarão se preparando para viver melhor neste mundo em transformação. 

O Consolador: Suas palavras finais. 

Gostaria de falar um pouco mais sobre o nosso projeto. O FloreSer é uma organização sem fins lucrativos. Além de cursos e palestras, temos um trabalho de atendimento a pais e educadores, onde procuramos fornecer informações e orientações que permitem identificar essas síndromes para ajudar na educação e formação dessas crianças. Temos um site e um boletim diário em português, inglês e espanhol, distribuído no Brasil e exterior. Para quem se interessar nosso endereço na web é:
http://projetofloreser.blogspot.com/.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita