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Ano 3 - N° 116 – 19 de Julho de 2009

 


Um documento desnecessário e inoportuno


Anos de esforços e cooperação comum em prol do movimento ecumênico e do diálogo adulto que vinha sendo desenvolvido pelas diferentes denominações religiosas sofreram forte abalo com o documento “Dominus Jesus”, em que o Vaticano nega a condição de igreja de Cristo à Igreja Anglicana e às demais religiões surgidas com a Reforma.

Embora assinado pelo papa João Paulo II, sabe-se que seu texto foi elaborado pelo cardeal Joseph Ratzinger, então chefe da Congregação Vaticana pela Doutrina da Fé, posteriormente eleito papa na sucessão de João Paulo II. 

De acordo com o documento citado, existe para o Vaticano “uma única igreja de Cristo, que se perpetua na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro (o papa) e os bispos, em comunhão com ele”. Em face disso, as comunidades eclesiásticas que não conservaram o episcopado válido, ou seja, bispos ordenados por outros bispos católicos, nem a substância do mistério eucarístico, não seriam igrejas propriamente ditas. 

Segundo estudiosos católicos, a preocupação principal da “Dominus Jesus” foi alertar sobre as posições de alguns teólogos, sobretudo da Ásia, que, em sua tentativa de estabelecer o diálogo entre Cristianismo e as diferentes religiões, parecem, às vezes, pôr em dúvida alguns princípios fundamentais da doutrina cristã, como a realidade de Cristo, único salvador da humanidade e o caráter definitivo da revelação em Jesus Cristo. Simplificando o tema, tais teólogos chegaram a dizer: "todas as religiões são iguais", fato que prejudicaria a ação missionária da Igreja católica, que se apresenta como a única realmente autorizada a anunciar o Cristo a todos os povos.  

O documento papal afetou diretamente a questão do ecumenismo, por haver confrontado a Igreja católica com as outras igrejas. Mas o que mais magoou os evangélicos foi ter aplicado a palavra "Igreja" só à católica e às ortodoxas. A outras seriam "comunidades eclesiais", uma expressão usada pelo concílio Vaticano II, que, todavia, não definiu quais eram, de fato, tais "comunidades eclesiais".

Embora admita que as diferentes religiões contêm elementos de religiosidade procedentes de Deus, o texto entende que elas não possuem a “eficácia salvadora” dos sacramentos cristãos e muitas delas proporiam até mesmo superstições ou erros que acabariam se tornando mais um obstáculo para a salvação. 

O episódio se soma a uma série de atos desnecessários e inoportunos procedentes da mesma fonte – visto que criou um constrangimento que parecia estar superado entre as diferentes religiões ocidentais – e é, além do mais, absolutamente inútil, porque as condições da chamada salvação do ser humano já foram definidas com precisão por Jesus e nada têm a ver com ritos e dogmas estabelecidos pelos que dizem falar em nome dele. 

Duas passagens bem conhecidas de O Evangelho de Mateus tratam disso.  

A primeira, conhecida como a Parábola do Juízo Final (cap. 25, versículos 31 e segs.) é absolutamente clara. E, como se ela não bastasse, Mateus registra ainda no seu Evangelho (cap. 7, versículos 21 e segs.) a célebre advertência que Jesus fez no texto que se segue: “Nem todo aquele que me diz `Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim, aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: `Senhor, Senhor não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então, sem rodeios, eu lhes direi: `Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’.”



 


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