Cresci no
meio de duas
religiões, a
cristã pela
minha mãe e
islâmica pelo
meu pai. Ambas
não respondiam
às minhas
indagações, ou
pelo menos de
maneira lógica e
racional.
"Acidentalmente"
participei num
dos evangelhos
aos sábados às
15h da Comunhão
Espírita Cristã
de Moçambique (CEC),
a instituição
matriz da
Doutrina em
Moçambique.
Depois passei a
frequentar os
cursos e os
estudos e,
pontualmente, a
participar das
atividades.
O Consolador:
Como você pode
descrever o
movimento
espírita em seu
país?
Depois de muitos
anos de
algum retrocesso por
motivos
históricos, nos
últimos dois ou
três anos, com
ajuda de alguns
irmãos do
Brasil, trabalho
e
comprometimento
dos irmãos em
Moçambique, penso
que estamos no
bom caminho.
O Consolador:
Quantas
instituições
existem no país
e na capital?
Na capital de
Moçambique,
Maputo, temos 3
instituições. Existe
algum trabalho
do Grupo
Arco-Íris,
liderado pelo
irmão Raul
Calane, na
tarefa de levar
o conhecimento
do Espiritismo
para a Beira,
a segunda maior
cidade do país.
O Consolador:
Quais as maiores
dificuldades
encontradas?
A primeira
dificuldade é de
ordem
humana. Existe a
dificuldade de
entendermos que
a Doutrina não
vai resolver os
nossos
problemas. É o
meio para a
resolução dos
nossos
problemas, mas
passa por
um comprometimento
individual
de nos
transformarmos
interiormente. A
outra
grande dificuldade
é de ordem
material.
Explico: falta
de livros,
material
didático e
espaços físicos
para instalação
das
instituições,
razão pela qual
as
duas instituições servem-se
do espaço
dispensado pela
CEC.
O Consolador:
Qual a
influência
brasileira no
movimento
espírita do
país?
Tem sido de
alguns irmãos
que fazem parte
do movimento
espírita brasileiro,
os quais com
sua inestimável
ajuda têm
permitido
alterar esta
progressão lenta
do Espiritismo
em Moçambique.
Nomeadamente o
Raul Teixeira,
Emanuel
Cristiano, Orson
Peter Carrara,
Pedro
Aganian. Temos
também tido um
subsídio muito
grande do
movimento
espírita Sul
Africano de
Johannesburg.
Temos estado há
um ano a
trabalhar com
Angola, via
Pedro
Aganian, tentando
organizar
seminários
conjuntos e
criar
sinergias nas
ações
possíveis.
O Consolador:
Pela própria
influência
africana,
culturalmente
considerada, há
prejuízo no
progresso da
Doutrina
Espírita no
país?
De forma
nenhuma, pois a
cultura
africana é na
sua base
ou essência
espiritualista.
É óbvio que
existe uma
componente
ritualística
muito material,
mas o culto dos
chamados mortos
faz parte das
sociedades
africanas em
geral.
O Consolador:
Você considera
que está havendo
crescimento da
cultura espírita
no país?
Tem havido uma
adesão muito
boa, mas não me
parece algo
consolidado. É
esse trabalho de
consolidação que
tem sido o nosso
desafio nos
últimos anos.
O Consolador:
Como e por quê?
Porque o
movimento tem
tido um
crescimento de
fato lento,
mas contínuo e
relativamente
seguro. Isto
resulta de
ações empreendidas
que pareciam
impensáveis há
3, 4 anos atrás,
com um sucesso
relativo. Por
exemplo, o
início de um
primeiro curso
de introdução à
Doutrina com uma
afluência um
pouco acima das
nossas
expectativas, a
existência
de palestras
mensais
temáticas, as
atividades
caritativas com
alguma maior
consistência.
Penso que são
sinais claros de
crescimento.
Obviamente que
se tivéssemos um
apoio mais
constante e
seguro do Brasil
espírita, estou
a crer que mais
poderia ser
feito, mas penso
também que temos
que fazer mais
para merecer
esse apoio.
O Consolador:
E a integração
interna entre os
espíritas do
país, como
ocorre?
Já houve
momentos de
maior
dificuldade.
Penso que agora
cada um
dos grupos
encontrou o seu
lugar e temos
trabalhado de
forma cooperativa
e coordenada.
Está-se a
desenvolver uma
grande simbiose.
O Consolador:
Existe algum
intercâmbio com
outros países do
continente?
Tal como
indiquei
anteriormente,
mantemos um
intercâmbio
duradouro com a
África do Sul e
estamos tentando
fortalecer e
desenvolver o
que existe com
os movimentos em
Angola.
O Consolador:
A literatura
espírita
produzida no
Brasil chega com
facilidade até o
país?
A maior
dificuldade que
temos é de fato
com o acesso à
literatura
espírita, pois,
como se sabe,
Moçambique é um
dos países mais
empobrecidos do
mundo. Para a
generalidade das
pessoas, comprar
um livro exige
um sacrifício
extremamente
grande (o preço
médio de um
livro
corresponde a
40% do salário
mínimo);
isso por um
lado, e por
outro as obras
brasileiras
chegam a
Moçambique com
muita
dificuldade. A
primeira Feira
do Livro
Espírita
conseguimos
realizar com a
ajuda abnegada
de muitos irmãos
espíritas
brasileiros que
doaram muitas
obras que nos
permitiram por
um lado reforçar
a nossa
biblioteca e por
outro vendê-los
a preços muito
acessíveis.
O Consolador:
Como o Brasil
pode colaborar
mais ativamente
com o movimento
espírita
africano?
Penso que é um
grande desafio
para o Brasil,
pois seria mais
o entrosamento
do desejo de
grande parte dos
africanos dos
PALOP (1)
com uma das
componentes mais
valiosas que
resultam da
identidade
brasileira.
Sendo mais
específico,
creio que a
extensão dos
canais de
televisão e
rádio espíritas
existentes no
Brasil para o
continente
africano seria
um primeiro
passo, um pouco
à semelhança do
que têm feito
determinados
canais de
televisão e de
rádio, que, sem
grandes
alterações nos
conteúdos e com
alguma adaptação
nos horários,
fazem
transmissões
para o
continente via
DSTV (2).
As editoras
brasileiras e
espíritas
precisam também
começar a olhar
para os PALOP e
para África
lusófona, em
particular, como
uma oportunidade
de divulgação da
nossa
maravilhosa
doutrina. Volto
a frisar: é um
grande desafio
para o Brasil.
O Consolador:
E a experiência
da feira do
livro, como foi?
Foi uma
experiência
muito gratificante não
só pela
afluência, mas
sobretudo pela
apetência que
sentimos por
parte dos
espíritas e dos
curiosos que
acorreram ao
evento. Desse
número de
curiosos, muitos
deles hoje
participam do
primeiro curso
de introdução à
Doutrina
organizado e
levado a cabo
por espíritas de
Moçambique.
O Consolador:
Trace um perfil
das reuniões
espíritas
públicas na
instituição em
que participa.
Existem três
grandes grupos.
Aqueles que
estão à procura
de respostas e
têm vindo como
curiosos sem
grande
compromisso, mas
à procura de
soluções para os
seus problemas
individuais.
Aqueles que já
têm as bases
doutrinárias
e assimilaram o
compromisso de
automelhoramento
e trabalham para
esse propósito.
E, por fim,
aqueles que
depois do
comprometimento
sentem a
necessidade do
trabalho
caritativo,
sendo este grupo
mais reduzido.
Penso que é uma
situação comum
nas casas
espíritas. É
importante não
esquecer que a
liberdade
religiosa, por
razões
históricas, só
se fez sentir
nos últimos 20
anos em
Moçambique, pois
tivemos uns
longos períodos
de alguma
limitação ou
mesmo restrição
da liberdade
religiosa.
Notas:
(1)
PALOP - Os
Países Africanos
de Língua
Oficial
Portuguesa, cuja
sigla é PALOP, é
um grupo formado
em 1996 por seis
países lusófonos
africanos:
Angola, Cabo
Verde,
Guiné-Bissau,
Guiné
Equatorial,
Moçambique, São
Tomé e Príncipe.
Cinco deles
foram colônias
de Portugal na
África e
obtiveram sua
independência
entre 1974 e
1975. O outro é
a Guiné
Equatorial, que
em 2007 adotou o
português como
língua oficial.
(2)
DSTV é a sigla
em inglês de
Digital Satelite
Television. É TV
digital por
satélite, como a
Net Sky. E
existe nos USA,
Portugal,
Angola,
Moçambique e
outros países.
(3)
Contatos com o
confrade Afonso
Sicandar podem
ser feitos por
meio destes
correios
eletrônicos:
asicmz@gmail.com
e
asicandar@millenniumbim.co.mz.