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Ano 3 - N° 134 - 22 de Novembro de 2009

JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
 
 


 

Esquecimento do passado

É fácil conciliar a figura viril de João Huss e Kardec, mas
torna-se difícil ver esse mesmo Espírito apresentar-se
como Francisco Cândido Xavier

 
“Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que nisso há vantagem.”
– O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 11.
 

Vez por outra, recomendações de Jesus, de Kardec e de Benfeitores Espirituais são deixadas de lado em favor de posicionamentos pessoais apaixonados. Temos exemplos mais recentes na questão da identidade de Francisco Cândido Xavier e de André Luiz.

No caso do famoso médium, a recomendação se aplica por inteiro. Se houvesse interesse do Mundo Maior em que fosse revelado o seu passado, os Espíritos poderiam já tê-lo feito no momento oportuno. Mas, qual seria o objetivo de tal revelação? Em que aumentaria a credibilidade do médium ou da mensagem espírita?

Há muitos encarnados e desencarnados que gostam de controvérsias. Tão logo desaparece uma, providenciam outra. Alguns poderão dizer que não se trata de palpite de encarnados, uma vez que em mensagem recebida por médium conhecido e, recentemente, num livro psicografado, foi feita a afirmação a respeito da volta de Kardec na pessoa de Chico Xavier. Nesse particular, lembramos palavras de Emmanuel a respeito de outras “revelações” levadas a efeito por Espíritos, na questão de o Mestre ter vivido entre os Essênios, o que o Benfeitor nega: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que por força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos Espíritos desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas”. (A Caminho da Luz, cap. 12.) 

Quanto a André Luiz ter sido Carlos Chagas (foto), como querem alguns, o assunto toma caráter mais grave 

E o que dizer da “Saudação de Allan Kardec”, psicografada por Júlio César Grandi Ribeiro, na noite de 2 de janeiro de 1984, na comemoração do centenário da Federação Espírita Brasileira e da transferência de sua sede para Brasília, conforme publicado no “Reformador” de março de 1984? Bem, aqueles     que     quiserem    continuar

argumentando, sabemos que poderão dizer que o Chico poderia ter deixado seu veículo físico em Uberaba, possivelmente psicografando àquela hora – era uma segunda-feira – e ter ido a Brasília, fazendo toda uma revolução psicológica em si mesmo, a fim de apresentar-se como Kardec...

É fácil conciliar a figura viril de João Huss e Kardec, mas torna-se difícil ver esse mesmo Espírito apresentar-se como Francisco Cândido Xavier. Seria assim tão fácil para um Espírito fazer essa verdadeira revolução psicológica? Tome-se como exemplo o desempenho de Elias, que se repete em João Batista, alguns séculos depois.

Quanto a André Luiz ter sido Carlos Chagas, como querem alguns, agora reforçados em suas convicções por obra mediúnica, o assunto toma caráter mais grave, diante do fato de o famoso cientista ainda ter descendentes encarnados. Não bastasse o apelo ao bom senso, seria fácil verificar dados: Não é difícil calcular a época da desencarnação de André Luiz, tomando-se por base suas conversas com Lísias: “Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos” (Nosso Lar, pág. 47).

Em agosto de 1939, André Luiz ouvia Lísias, que lhe falava sobre a iminência da Segunda Guerra Mundial (Nosso Lar, pág. 132).  

Pode-se deduzir que André Luiz já estivesse desencarnado em 1930, enquanto Carlos Chagas desencarnou em 1934

Daí pode-se deduzir que já estivesse desencarnado há, pelo menos, nove anos, uma vez que já estava perfeitamente sadio. Por esse cálculo, ele deveria ter desencarnado, no máximo, em 1930. Carlos Chagas desencarnou a 8 de novembro de 1934, aos 55 anos de idade.

Deve-se notar que André Luiz deve ter recebido o título de médico pouco além dos 25 anos. Logo, se clinicou durante 15 anos, desencarnou com pouco mais de 40. André Luiz declara que deixou na Terra um filho e duas filhas. Carlos Chagas, dois filhos.

Além do mais, André Luiz fica perfeitamente caracterizado como clínico, médico de consultório, pelas palavras de Clarêncio: “(...) nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário a mais de seis mil necessitados. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra” (Nosso Lar, pág. 81).

Nessa referência ao seu trabalho na Terra, nada que pudesse identificá-lo com o eminente cientista: pesquisador, bacteriologista e sanitarista, que foi Carlos Chagas, que se dedicou à bacteriologia desde os seus tempos de estudante. Cientista reconhecido mundialmente, foi professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; recebeu o título Magister Honoris Causa das Universidades de Harvard e de Paris; pertenceu às academias científicas de Nova Iorque, Paris e Lima; foi premiado com medalha de ouro pela Universidade de Hamburgo (Prêmio Kummel); passou dois anos viajando pelo vale amazônico, levantando a carta epidemiológica da região; à frente de campanha profilática, erradicou a malária na cidade de Santos; foi Diretor do Instituto Oswaldo Cruz de 1917 a 1934, quando desencarnou.  

O que mudou no cenário terrestre para que fosse revelada a identidade de André Luiz? A quem isso beneficia? 

É de ver que a novidade anima tanto, a ponto de esses que se põem a propalá-la se esquecerem das palavras de Emmanuel ao apresentar André Luiz, no prefácio do livro “Nosso Lar”: “Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes o anonimato é filho do legítimo entendimento e do legítimo amor (...). É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo amigo e irmão na eternidade”.  E tudo indica que o anonimato não decorreu de decisão pessoal de Emmanuel, diante do que se lê na obra “Voltei”, no final do cap. 2: “... o esforço dele é impessoal e reflete a cooperação indireta de muitos benfeitores nossos que respiram em esferas mais elevadas”.

Diante disso, seria de se perguntar: Quem determinou fosse suspenso o anonimato? O que mudou no cenário terrestre para que fosse revelada a identidade de André Luiz? Qual o benefício dessa pretensa revelação, a não ser o de provocar discussões estéreis? Em que essas “revelações” contribuem para o esclarecimento das pessoas?

Não seria melhor ocuparmos nosso tempo em reuniões mediúnicas destinadas a esclarecer irmãos que sofrem?

O Espiritismo não tem como bandeira a caridade? Caridade para com desencarnados sofredores, para com crianças que carecem de orientação espírita através da evangelização.


 

 

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