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Ano 3 - N° 137 - 13 de Dezembro de 2009

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)


Materialistas e incrédulos: como abordá-los?

A maior felicidade no amor pertence a quem ama

“Acima das nuvens brilha o Sol.”   -    Joanna de Ângelis


Quando vislumbramos a Luz, depois de milênios mergulhados nas mais densas trevas da ignorância; no momento em que a Doutrina Espírita começa a luarizar a noite de nossa milenar existência, nasce um desejo muito natural de fazer chegar essa luz aos nossos afetos do coração. E, ainda deslumbrados com os primeiros raios da claridade nova, investimos, um tanto atabalhoados, no mister de levar o esclarecimento espírita a todos.   Nosso caso não foi exceção. Mas, quando colhemos de volta a taça vinagrosa da indiferença, do escárnio, do descaso e até mesmo da ironia recortante do apodo, descoroçoamos...  Um Benfeitor Espiritual, medindo nossa frustração e angústia, falou-nos em tom ameno e carinhoso, mas com grande sabedoria: “Meu filho, o Pai tem soluções inimagináveis para tudo. Se os seus afetos do coração não lhe estão compreendendo agora, amanhã estarão palmilhando as mesmas sendas que hoje você, mercê da Bondade de Deus, encontrou. Não se aflija, pois... Aguarde o tempo e, por ora, siga sozinho mesmo; mais tarde, quem sabe!?...” Há tempo para tudo, como diz o Eclesiastes. 

Afirma o ínclito Mestre Lionês[1]: “Muito natural e louvável é, em todos os adeptos, o desejo, que nunca será demais animar, de fazer prosélitos. Visando facilitar-lhes essa tarefa, aqui nos propomos examinar o caminho que nos parece mais seguro para se atingir esse objetivo, a fim de lhes pouparmos inúteis esforços. 

O Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar.    

A Doutrina Espírita entende com todas as questões que interessam à Humanidade. Tem imenso campo, e o que principalmente convém é encará-lo pelas suas consequências.    Forma-lhe sem dúvida a base a crença nos Espíritos, mas essa crença não basta para fazer de alguém um espírita esclarecido, como a crença em Deus não é suficiente para fazer de quem quer que seja um teólogo. Vejamos, então, de que maneira será melhor se ministre o ensino da Doutrina Espírita, para levar com mais segurança à convicção. Mas não se espantem os adeptos com esta palavra — ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aquele que procura persuadir o próximo, seja pelo processo das explicações, seja pelo das experiências. O que desejamos é que seu esforço produza frutos e é por isto que julgamos de nosso dever dar alguns conselhos, de que poderão igualmente aproveitar os que queiram instruir-se por si mesmos. Uns e outros, seguindo-os, acharão meio de chegar com mais segurança e presteza ao fim visado. 

É crença geral que, para convencer, basta apresentar os fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamente não convenceram. A que se deve atribuir isso? É o que vamos tentar demonstrar”. 

Todo ensino metódico tem que partir do conhecido
para o desconhecido
 

“No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secundária e consecutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisamente o erro em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva a insucesso com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma. Ora, como pode o materialista admitir que, fora do mundo material, vivam seres, estando crente de que, em si próprio, tudo é matéria? Como pode crer que, exteriormente à sua pessoa, há Espíritos, quando não acredita ter um dentro de si? Será inútil acumular-lhe diante dos olhos as provas mais palpáveis. Contestá-las-á todas, porque não admite o princípio. 

Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que ele a observe, de convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis espírita, cuidai de torná-lo espiritualista. Mas, para tal, muito outra é a ordem de fatos a que se há de recorrer, muito especial o ensino cabível e que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros processos.  Falar-lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premissas... 

Antes, pois, de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, cumpre nos certifiquemos de sua opinião relativamente à alma, isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência da alma, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a morte.   Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espíritos seria perder tempo. Eis aí a regra. Não dizemos que não comporte exceções. 

Desde que se reconhece a possibilidade de um fato,
três quartos da convicção estão conseguidos

(...) O puro materialista tem para o seu engano a escusa da boa-fé; possível será desenganá-lo, provando-se-lhe o erro em que labora. No outro, há uma determinação assentada, contra a qual todos os argumentos irão chocar-se em vão. O tempo se encarregará de lhe abrir os olhos e de lhe mostrar, quiçá à custa própria, onde estavam seus verdadeiros interesses, porquanto, não podendo impedir que a verdade se expanda, ele será arrastado pela torrente, bem como os interesses que julgava salvaguardar. 

(...) Os meios de convencer variam extremamente, conforme os indivíduos. O que persuade a uns nada produz em outros; este se convenceu observando algumas manifestações materiais, aquele por efeito de comunicações inteligentes, o maior número pelo raciocínio. Podemos até dizer que, para a maioria dos que se não preparam pelo raciocínio, os fenômenos materiais quase nenhum peso têm. Quanto mais extraordinários são esses fenômenos, quanto mais se afastam das leis conhecidas, maior oposição encontram e isto por uma razão muito simples: é que todos somos levados naturalmente a duvidar de uma coisa que não tem sanção racional. Cada um a considera do seu ponto de vista e a explica a seu modo: o materialista a atribui a uma causa puramente física ou a embuste; o ignorante e o supersticioso a uma causa diabólica ou sobrenatural, ao passo que uma explicação prévia produz o efeito de destruir as ideias preconcebidas e de mostrar, senão a realidade, pelo menos a possibilidade da coisa, que, assim, é compreendida antes de ser vista. Ora, desde que se reconhece a possibilidade de um fato, três quartos da convicção estão conseguidos”. 

Com relação ao que não se convenceu pelo raciocínio, nem pelos fatos, a conclusão a tirar-se é que ainda lhe cumpre sofrer a prova da incredulidade. Deve-se, portanto, nesses casos, deixar à Providência o encargo de lhe preparar circunstâncias mais favoráveis, uma vez que não faltam os que anseiam pelo recebimento da Luz, para que se esteja a perder tempo com os que a repelem. 

Sem o raciocínio, os fenômenos não bastam para determinar a convicção 

O neófito deve começar pela teoria. Segundo explicação de Kardec1, “É na teoria que todos os fenômenos são apreciados, explicados, de modo que o estudante vem a conhecê-los, a lhes compreender a possibilidade, a saber em que condições podem produzir-se e quais os obstáculos que podem encontrar. Então, qualquer que seja a ordem em que se apresentem, nada terão que surpreenda. Este caminho ainda oferece outra vantagem: a de poupar uma imensidade de decepções àquele que queira operar por si mesmo. Precavido contra as dificuldades, ele saberá manter-se em guarda e evitar a conjuntura de adquirir a experiência à sua própria custa. Falamos, pois, por experiência e, assim, também, é por experiência que dizemos consistir o melhor método de ensino espírita em se dirigir, aquele que ensina, antes à razão do que aos olhos. Esse o método que seguimos em nossas lições e pelo qual somente temos que nos felicitar. O estudo prévio da teoria mostra imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance da ciência. (...) Sem o raciocínio, os fenômenos não bastam para determinar a convicção. Uma explicação prévia, pondo termo às prevenções e mostrando que os fatos em nada são contrários à razão, dispõe o indivíduo a aceitá-los. Tão verdade é isto que, em dez pessoas completamente novatas no assunto, que assistam a uma sessão de experimentação, ainda que das mais satisfatórias na opinião dos adeptos, nove sairão sem estar convencidas e algumas mais incrédulas do que antes, por não terem as experiências correspondido ao que esperavam. O inverso se dará com as que puderem compreender os fatos, mediante antecipado conhecimento teórico. Para estas pessoas, a teoria constitui um meio de verificação, sem que coisa alguma as surpreenda, nem mesmo o insucesso, porque sabem em que condições os fenômenos se produzem e que não se lhes deve pedir o que não podem dar. Assim, pois, a inteligência prévia dos fatos não só as coloca em condições de se aperceberem de todas as anomalias, mas também de apreenderem um sem-número de particularidades, de matizes, às vezes muito delicados, que escapam ao observador ignorante”. 

A quem esteja sinceramente disposto a aprender o Espiritismo e posteriormente praticá-lo, dinamizando assim, em sua própria intimidade os ensinamentos de Jesus, aconselha-se primeiramente a leitura dos seguintes livros na respectiva ordem: “O Que é o Espiritismo”, “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno”, “A Gênese” e a “Revue Spirite”, todos de Allan Kardec; e em seguida as centenares de obras subsidiárias sérias.   

A ética espírita-cristã não propõe nem admite
proselitismo de arrastão...
 

Saibamos dirigir nossas atenções para as criaturas que realmente se mostram receptivas.   Não violentemos o incrédulo renitente nem o materialista que se comprazem em sua ignorância. A ética espírita-cristã não admite proselitismo de arrastão... E se entre as pessoas refratárias incluem-se os nossos afetos mais queridos, deixemos ao Pai indicar-lhes, no devido tempo, os caminhos da própria evolução, entregando-nos incondicionalmente Àquele que garantiu que “não se perderia nenhuma das ovelhas que o Pai Lhe confiou”. 

Eis o lúcido conselho de Joanna de Ângelis[2]

“Esquece as sombras que tingem de escuridade as tuas esperanças, e a luz que acendas no caminho dos que te buscam será a lâmpada clarificadora para iluminar a rota dos teus próprios pés. 

Ama, esforçando-te a princípio, mesmo que se demorem no teu paladar afetivo os ressaibos de muitos desamores que te lancearam, e constatarás, sorrindo, que a maior felicidade no amor pertence a quem ama. 

Como é verdade que há muita incompreensão na Terra, não menos seguro é que há muita aspiração de entendimento entre os Espíritos que avançam no trâmite para os Rumos Infinitos. 

Deixa-te, portanto, transformar em harpa de amor tangida por mãos espirituais, e as vibrações dos acordes espalhados na comunidade sofrida em que te situas, formarão a bela sinfonia do bem, tradutora de Bem Infinito em toda a Terra. 

Jesus, incompreendido no reduto das mais carinhosas afeições, dilatou as expressões do próprio sacrifício, sorvendo sem reclamos ou queixumes o conteúdo abundante do fel e do vinagre da má vontade, encorajando, amando os companheiros tíbios e cantando com eles a música da esperança, para a fixação da Boa Nova no país dos corações, fazendo-Se, Ele mesmo, a mais augusta oferenda de Amor à Humanidade”.         

                                              

 

[1] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte, cap. III, itens 18 e seguintes.

[2] - FRANCO, Divaldo .Lampadário Espírita. 2. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1971, cap. 60, p. 245.



 

 

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