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Ano 3 - N° 138 - 20 de Dezembro de 2009

PEDRO BEZERRA NETO
paulodetarso1@bol.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

Terá sido o Espírito André Luiz
o Dr. Carlos Chagas?

"Dois meios podem servir para fixar as ideias sobre as questões duvidosas: primeiro, é submeter todas as comunicações ao exame severo da razão, do bom senso e da lógica; o segundo critério da verdade está na concordância do ensino."
(Allan Kardec em O que é o Espiritismo - c. 2, n. 99.)

 

No livro "Na Próxima Dimensão" do Espírito Inácio Ferreira, psicografia de Carlos A. Baccelli, 1ª edição, lemos: 

1ª - c.33, p.210, "... mas, respondendo-lhe, digo-lhe que é preciso que eu esqueça, assim como não mais me lembro de que, um dia, fui Carlos Chagas, haverei de esquecer de que sou André Luiz..." (sic); e no c.35, p.221, vemos: "... inclusive o Umbral, onde estive durante uns oito anos..."; e

2ª - c.35, p.222, "... inclusive o Umbral onde estive durante uns oito anos...".

Vamos analisar tais passagens à luz da lógica, do bom senso e da razão, seguindo os ensinamentos de Kardec em epígrafe. Para tanto devemos contextualizá-las em face de dados biográficos de seus dois filhos Evandro e Carlos Chagas Filho; de informações prestadas pelo Espírito Emmanuel, na apresentação do Espírito André Luiz, intitulada “Novo Amigo”, datada de 3/10/1943 e constante do livro Nosso Lar; de dados e situações narradas pelo Espírito André Luiz nos livros Nosso Lar e Os Mensageiros; e de informação dada pelo Espírito Irmão Jacob no livro Voltei. Todos os livros foram psicografados por Francisco Cândido Xavier.

Primeiramente, trataremos da segunda passagem acima referida, considerando-a válida, visto que concordante com a passagem do c. 7º de Nosso Lar, em que Lísias diz: "Talvez você (André Luiz) não saiba ainda que a sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos".

Os dados mostram a impossibilidade matemática de o Espírito Carlos Chagas haver escrito o livro Nosso Lar

Em validarmos tal passagem, convém verificar a possibilidade lógico-matemática de ser o Dr. Carlos Chagas o autor espiritual do livro Nosso Lar, conforme dados biográficos dele e cronográficos dos livros Nosso Lar, Os Mensageiros e Voltei, a saber:

A - Falecimento de Carlos Chagas: 8/11/1934;

B - Data da apresentação "Novo Amigo" de Emmanuel: 3/10/1943, livro Nosso Lar;

C - Prefácio de Emmanuel no livro Os Mensageiros: datada de 25/2/1944; e,

D - Tempo para a afinização de André Luiz com Chico Xavier: 700 dias consecutivos, livro Voltei, c. 1º, confirmado pela carta de Chico Xavier, de 12/10/1946, a Wantuil de Freitas, segundo livro "Testemunhos de Chico Xavier", 1ª Ed. FEB, p. 97-99.

E - Tempo indeterminado entre o resgate de Carlos Chagas, Espírito, do Umbral e o início do período de setecentos dias para afinização com Chico Xavier, pois, estando no Umbral, teve necessidade de tratamento, recuperação e instrução a fim de se tornar apto ao mister de escritor espiritual.

Se correlacionarmos os dados supra e realizarmos uma adição, desta forma: 8/11/1934 + 8 anos + 1 ano e 11 meses (700 dias) + tempo indeterminado = 8/10/1944 + tempo indeterminado, concluímos, pois, pela impossibilidade matemática de o Espírito Carlos Chagas haver escrito o livro Nosso Lar, cuja conclusão deu-se, no máximo, em 3/10/1943, por ser a data em que Emmanuel nos apresentou o Espírito André Luiz.

Acrescente-se que, pelo resultado da soma acima, o livro Os Mensageiros não pode, igualmente, ter sido escrito pelo Dr. Carlos Chagas, tendo em vista a data do prefácio de Emmanuel, para essa obra, ser 25/2/1944.

Se supusermos um período de tempo similar para tratamento, recuperação e instrução do Dr. Carlos Chagas ao descrito por André Luiz em Nosso Lar, o livro Missionários da Luz, prefácio de Emmanuel de 13/5/1945, também não pode ser da lavra do Dr. Carlos Chagas, Espírito; além disso, o livro Obreiros da Vida Eterna, prefácio de Emmanuel de 25/3/1946, fica sob suspeita quanto ao seu escritor espiritual.

Há, também, o lado moral a considerar.

Carlos Chagas ficou órfão de pai aos quatro anos e não teria condições de participar de negócios
como André narrou

Vejamos as afirmações de Emmanuel ao apresentar-nos André Luiz:

1) "Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção."

2) "Por vezes o anonimato é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor."

3) "Entretanto, de há muito desejamos trazer ao nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir a outrem o valor da experiência própria, com todos os detalhes possíveis à legítima compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados laboriosos e bem-intencionados." (grifei)

4) "Guarde a experiência dele (André Luiz) no livro d'alma. Ela diz bem alto que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente..." (grifei).

Analisando essas assertivas de Emmanuel, vemos que, embora o anonimato assumido pelo Espírito comunicante, ao chamar-se André Luiz, ele relata experiências vividas por ele após o seu desencarne, mudando apenas o necessário à preservação do seu anonimato por amor aos seus familiares ainda na carne. Não temos, pela coerência do Espírito Emmanuel, na qualidade de Espírito mentor de Chico Xavier, revelada em seus livros e mensagens, no transcurso da vivência mediúnica do nosso amado Chico, por que duvidar quando ele nos concita a guardar no livro d´alma a experiência de André Luiz, seja ele quem for.

Fazendo abstração do fator tempo após o desencarne do Dr. Carlos Chagas, há passagens no livro Nosso Lar que, em face das assertivas de Emmanuel, de que o Espírito André Luiz falava de experiências próprias, se caracterizam por completa impossibilidade, como a passagem narrada no capítulo 35 - Encontro Singular, onde André Luiz encontra o Espírito Silveira, antigo devedor de seu pai, ficando constrangido conforme diz: "Queria desculpar-me e todavia não encontrava frases justas, porque, na ocasião, também encorajara meu pai a consumar o iníquo atentado...”. Ora, Carlos Chagas ficou órfão de pai aos quatro anos de idade e não teria condições de participar, em qualquer hipótese, de negócios de adultos da forma como André Luiz narrou.

Carlos Chagas teve dois filhos: Evandro Chagas
e Carlos Chagas Filho; André Luiz teve duas
filhas e um filho

Há ainda a questão da família a considerar. Carlos Chagas teve dois filhos: Evandro Chagas que faleceu em 1940, no Rio de Janeiro, de desastre aéreo, e Carlos Chagas Filho, falecido em 2000, católico, de vida equilibrada, chegando a ser presidente da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano. Ambos foram médicos.

Nos sites abaixo podemos obter dados sobre a família terrena do Dr. Carlos Chagas: a) http://www.etall.hpg.ig.com.br/chagas.htm;
b) http://www.medio.com.br/index.php (pesquise por Carlos Chagas); 
c) http://www.coc.fiocruz.br/areas/dad/guia_acervo/index.htm
d) http://www.coc.fiocruz.br/manguinhos/carlos.htm.

Vemos por esses dados que, à época da lavra do livro Nosso Lar, a família terrena do Dr. Carlos Chagas se constituía apenas da esposa e de um filho, visto que o outro já havia desencarnado, enquanto André Luiz nos diz que tinha duas filhas e um filho encarnados quando da sua volta, em Espírito, ao antigo lar.

Há ainda outras análises a serem feitas, mas finalizamos transcrevendo o conselho do Espírito São Luís, constante do nº 266 d´O Livro dos Médiuns: "Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que devereis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixar de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro".

Estudemos Kardec!

 

Nota:

O artigo acima foi publicado inicialmente no site:

http://www.institutoandreluiz.org/ca_pedro_bezerra_neto.html

Nossa confreira Lori Marli dos Santos, dirigente da instituição mantenedora do site referido, autorizou expressamente a publicação do artigo em nossa revista, tendo em vista a sua relevância e oportunidade.

 

 


 

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