Nelson Bastos:
“Cada vez que
encontro alguém
que cresceu
dentro dos
nossos trabalhos
assistenciais e
colocou-se no
mercado de
trabalho vemos
que o esforço
valeu a pena”
O presidente do
CEAC, uma das
mais importantes
instituições
espíritas do
Brasil, fala
sobre a casa que
dirige e as
atividades por
ela
desenvolvidas
|
Nelson Bastos
(foto),
atual presidente
do Centro
Espírita Amor e
Caridade (CEAC),
de Bauru (SP), é
o nosso
entrevistado da
semana.
Funcionário
aposentado do
Banco do Brasil,
Bastos nasceu e
reside em Bauru,
embora, por
conta de sua
atividade
profissional,
tenha morado em
diversos locais
do País.
Figura
extremamente
ativa no
movimento
espírita, foi
com gentileza
que ele nos
concedeu a
presente
entrevista, em
que fala sobre
suas
experiências, a
construção do
novo albergue
noturno e os 90
anos do CEAC.
|
O Consolador:
Como conheceu o
Espiritismo?
Nasci em família
espírita,
habituando-me,
desde pequeno, a
assistir a
reuniões
mediúnicas,
inclusive de
efeitos físicos.
Destaque-se que
naquela época
estudava-se
pouco, ou nada,
e
centralizavam-se
as atividades em
reuniões
públicas.
O Consolador:
Fale-nos sobre
sua trajetória
no movimento
espírita.
Fiz o
catecismo,
como se chamava
na época a
evangelização,
no Centro
Espírita Vicente
de Paulo, na Rua
7, aqui em
Bauru. Não frequentei a
mocidade, pois
aos 10 anos
mudei-me para
Mato Grosso,
hoje do Sul,
onde fiquei até
os 15 anos,
retornando aos
16 para Corumbá
(MS), onde fiz o
2º ano do
Científico.
Aprovado em
concurso para o
Banco do Brasil,
tomei posse em
Floriano (Piauí)
em agosto de
1962, onde
procurei frequentar
reuniões em um
centro espírita
improvisado,
pois a doutrina
não era bem
aceita naquela
região. Nesse
centro fazíamos,
sem qualquer
preparo e
conhecimento,
reuniões
mediúnicas
públicas.
O Consolador: O
que o
Espiritismo
representa em
sua vida?
Representa a
minha segurança.
Através do
conhecimento
passei a não
temer as
vicissitudes da
vida,
encontrando
sempre respostas
aos meus
problemas e
força para
superá-los.
O Consolador:
Atualmente o
senhor está na
presidência do
Centro Espírita
Amor e Caridade
na cidade de
Bauru. Conte-nos
um pouco sobre
esta
experiência.
Durante muitos
anos pertenci à
Diretoria, em
cargos diversos,
e na última
eleição, por
problemas
estatutários e
em vista da
ausência de
outros
candidatos,
assumi a
presidência do
CEAC. O Centro
tem uma boa
estrutura
administrativa,
mas os
dispêndios são
por demais
vultosos, embora
contemos com
diversos
convênios com o
Poder Público.
Estamos, a todo
momento,
correndo atrás
de recursos e,
com prazer,
dizemos que a
sociedade sempre
colabora.
O Consolador: Em
sua opinião,
quais são os
maiores desafios
enfrentados pelo
dirigente
espírita?
Os desafios são
os inerentes aos
das casas
espíritas:
motivação dos
frequentadores
para estudo,
cursos,
palestras,
seminários etc.,
criar uma
separação entre
a caridade e o
profissionalismo,
até dos
voluntários,
planejamento a
médio/longo
prazos etc.
O Consolador: O
CEAC, pelos
relevantes
trabalhos
prestados à
comunidade de
Bauru e região,
situa-se como
entidade de
referência
nacional. Por
gentileza,
discorra sobre
as inúmeras
atividades da
instituição.
Quantos
voluntários e
funcionários
estão engajados
nos projetos?
Colocamo-nos
entre as 10
maiores
instituições.
Temos 6 núcleos
de atendimento
na periferia:
Nova Esperança
(Projeto
Esperança),
Fortunato Rocha
Lima (Projeto
Girassol),
Jardim Ferraz
(Projeto
Crianças em
ação), Parque
das Nações
(Projeto
Crescer), Vila
São Paulo
(Projeto
Colmeia) e
Ferradura Mirim
(Projeto Seara
de Luz), onde
implantamos toda
uma estrutura
voltada para o
atendimento de
crianças, jovens
e familiares,
visando à
profissionalização
e inclusão no
mercado de
trabalho.
Funcionam,
também, duas
creches situadas
na Vila Nova
Esperança, com
160 crianças na
faixa etária dos
4 meses aos 5
anos e 11 meses,
e no Parque das
Nações, com 60
crianças na
faixa etária dos
3 anos aos 5
anos e 11 meses.
Temos o nosso
albergue
noturno, que
atende
preferencialmente
aos migrantes,
e, a partir de
março de 2008,
instalamos a
casa de
referência para
moradores de
rua, onde são
atendidas as
pessoas sem
endereço, sem
vínculos
familiares, e
que habitam
embaixo dos
viadutos,
marquises, casas
abandonadas etc.
O Projeto
Gestar, na sede
e nos núcleos,
atende as
gestantes com
cursos sobre o
cuidado com a
saúde do bebê,
noções de
higiene,
aleitamento
materno etc.,
com entrega, ao
final do curso,
de um enxoval. O
Grupo Irmão
Sheila atende
nos hospitais,
contando com 400
voluntários,
fazendo um
trabalho voltado
à presença junto
aos doentes,
contando
histórias,
ministrando
alimentos,
mamadeiras,
troca de
fraldas, banho
etc., tudo que
um leigo possa
fazer para
minimizar o
tempo de
hospitalização.
Instalamos junto
aos hospitais
casas de apoio
onde os
familiares dos
doentes recebem
um lanche,
possibilidade de
descanso, banho
etc.
Contamos também
com o Projeto
Comini, em
parceria com a
Vara de
Execuções
Criminais, onde
atendemos os
familiares das
pessoas que
cumprem pena,
minimizando o
problema da
discriminação
que os
familiares
sofrem.
Há, ainda,
inúmeras
atividades
desenvolvidas
por voluntários,
através de
equipes que
preparam e
distribuem
alimentação nas
regiões
periféricas
carentes, onde
já mantemos
núcleos, acima
referenciados.
Contamos, hoje,
com 149
funcionários e
cerca de 900
voluntários.
O Consolador: E
as obras do novo
albergue
noturno, como
estão?
O albergue
funciona em
prédio bastante
antigo, onde
também está a
sede do CEAC,
com uma
estrutura
dispendiosa e
sem condições de
grandes
alterações.
Adquirimos parte
de um terreno
próximo à
Rodoviária e
contamos com a
doação de outra
parte pelo poder
público,
perfazendo uma
área de 2.000
m2, onde
iniciamos a
construção do
prédio em que
funcionará o
Albergue
Noturno. Essa
obra está
coberta,
rebocada, com
tubulações
hidráulicas e
elétricas e mede
453 m2.
Desenvolvemos
ampla campanha
na cidade e
contamos com a
adesão das
entidades de
classe, como
CIESP, FIESP,
Assim, Assinar,
Crime, Sinduscon,
Sincopetro, além
da Câmara de
Vereadores, do
Senhor Prefeito
Municipal e da
Polícia
Militar.
O Consolador: A
sociedade
bauruense vem
colaborando com
os projetos do
CEAC?
A sociedade tem
colaborado com
doações em
espécie e
materiais. Temos
contado, também,
com a classe
empresarial e
política.
O Consolador:
Durante tantos
anos de labor
espírita
certamente o
senhor teve
muitas alegrias
e experiências.
Pode
compartilhar
alguma com
nossos leitores?
Houve uma
experiência que
ficou marcada
pela falta de
conhecimento.
Como disse, em
1962 participei
de um grupo
mediúnico no
Piauí, sem
conhecimento e
preparo. Um dos
frequentadores
da plateia ficou
mediunizado,
tomou nas mãos
uma cadeira e
ameaçou jogá-la
em nós, os
componentes da
mesa. Foi um
Deus nos acuda.
Não sabíamos o
que fazer. A
sala ficava
limítrofe da
calçada e uma
das ideias foi a
de abrirmos a
porta e empurrar
o cidadão para a
rua,
livrando-nos do
incômodo.
Felizmente, não
fizemos isso.
Começamos a
rezar, olhando,
com os olhos
semicerrados,
observando,
conforme o
ditado, o peixe
e o gato. As
coisas se
acalmaram e
ficou a lição.
Como momentos
alegres tenho
tantos que é
difícil destacar
algum. Cada vez
que encontro
alguém que
cresceu dentro
dos nossos
trabalhos
assistenciais e
colocou-se no
mercado de
trabalho vemos
que o esforço
valeu a pena.
Sem contar com
inúmeros
companheiros que
chegam à casa
desorientados,
depressivos e,
com o convite ao
trabalho e
orientações,
readquirem o
entusiasmo e a
alegria de
viver.
O Consolador: E
quanto aos
jovens que
formam a
mocidade
espírita do CEAC
– como caminha a
juventude? Os
jovens estão
participativos?
Estamos lutando
para criar uma
nova motivação
nos jovens para
a mocidade. O
sistema antigo,
e por vezes
usado, não atrai
mais. O mundo
está muito
dinâmico e as
equipes
envolvidas estão
buscando
fórmulas que
possam agregar
mais
adolescentes.
Nada obstante,
nossa mocidade
conta com um
razoável
número.
O Consolador:
Sabemos que a
Doutrina
Espírita
pede-nos
constante
participação,
todavia
conhecemos
também as
dificuldades do
mundo
contemporâneo.
Como conciliar
os estudos
doutrinários e
as atividades
voluntárias com
nosso trabalho
profissional,
família, amigos
e as exigências
da atualidade
que nos convocam
à contínua
atualização?
Tempo sempre foi
uma questão de
preferência.
Contamos todos
os dias com
1.440 minutos e,
se bem
administrados,
podemos nos
envolver em
atividades
profissionais,
sociais,
religiosas,
familiares etc.
e ainda
sobrarão, tirado
o descanso,
muitos minutos
disponíveis.
Muitas vezes, no
entanto,
desanimamos
achando que são
coisas demais e
nos esquecemos
que nossa vida
deve basear-se
no servir,
que nos dá, em
retorno, a paz e
a felicidade que
tanto
almejamos.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Minhas palavras
finais são de
agradecimento em
poder falar do
CEAC e as
atividades
desenvolvidas.
Neste momento
dos 90 anos,
lembramo-nos com
carinho dos que
nos antecederam
e estendemos
nossa prece em
favor daqueles
que
voluntariamente
e de forma
anônima tornaram
e tornam
possível a
execução dos
trabalhos
desenvolvidos
pela Casa.
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