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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 3 - N° 148 - 7 de Março de 2010

 

O homem intransigente

 

Havia, certa vez, um homem possuidor de muitas virtudes que vivia numa pequena aldeia no sopé de uma montanha. 

Era bondoso e amigo, serviçal e trabalhador. Sempre que alguém necessitasse dele, não importava a hora, ele estava pronto para ajudar no que fosse preciso. 

Possuía, porém, um defeito. Era intransigente no seu ponto de vista e, como suas ações sempre se pautavam dentro da maior retidão, não admitia falhas e erros nos outros. 

Por isso, os habitantes da pequena aldeia, seus amigos, embora o estimassem sinceramente, temiam suas críticas e comentários. 

Procuravam-no, certamente, ao necessitarem de ajuda, mas, de modo geral, mantinham certa distância do seu convívio, temerosos de desgostá-lo de alguma forma e, ao mesmo tempo, não desejando contrariá-lo, pois o amavam fraternalmente. 

Essa situação criava um ambiente de insegurança e desconforto, dificultando a vida na aldeia que, não fora isso, seria tranquila e agradável. 

Certo dia, querendo dar-lhe uma lição, Deus enviou uma criança ao encontro de suas necessidades. 

Esse homem era carpinteiro. Estava em sua oficina, quando seu neto, garoto esperto de sete anos, chegou, demonstrando desejo de subir ao alto da montanha. 

Como naquele momento estava meio desocupado, e costumasse sempre que possível  atender  aos  caprichos do neto, ele  

aceitou o convite, achando que realmente ele também estava necessitado de um passeio.

Fecharam a oficina, vestiram roupas mais quentes, porque no alto da montanha fazia frio, colocaram uma mochila nas costas e partiram. O garoto ia contente, soltando gritinhos de satisfação ao ver as borboletas e passarinhos que voavam no meio do mato. 

À medida que eles subiam, o panorama que se descortinava ia aumentando. Em pouco tempo, a aldeia parecia um brinquedo de criança, e as pessoas e animais, pequenas formigas que se movimentavam no solo, lá embaixo. 

O menino batia palmas de alegria ao ver a paisagem que se revelava: o rio que serpenteava de um lado para outro parecendo um pequeno fio sinuoso, as pessoas, os animais, as árvores e as casas. 
 

O ar puro produzia um bem-estar imenso e o céu muito azul parecia envolvê-los. 

Aspirando profundamente o ar limpo da montanha, que chegava até ele com o perfume das flores, o garoto não se conteve: 

— Vovô, como tudo é tão lindo aqui de cima! Por que é que estando lá embaixo vemos tudo diferente? 

— Justamente por estarmos próximos de tudo. Você não percebeu que à medida que subimos o nosso campo de visão foi aumentando? 

— É verdade! — respondeu o garoto pensativo, e continuou — Sabe, Vovô, daqui de cima parece tudo tão pequeno e sem importância lá embaixo, que já nem me incomodo mais com a briga que tive com meu amigo João. Parece que está tão longe!... 

Parou de falar, pensativo, depois, olhando para o avô, perguntou: 

— Será que é por isso que Deus sempre perdoa nossas faltas? Mamãe me disse outro dia que ligar para coisas pequenas é próprio de almas pequenas. Que devemos perdoar as faltas dos nossos semelhantes como queremos ser perdoados também. 

E olhando para o alto, a fitar o infinito azul, completou: 

— E acho que Deus, nosso Pai, está tão alto! Para Ele, penso que somos bem pequenos, não é, Vovô? 

Certamente aquela era a visão de uma criança. Julgava Deus no Alto, muito longe, quando na verdade o Criador está em todos os lugares, inclusive bem próximo de nós, seus filhos.  

Porém, o velho carpinteiro baixou a cabeça concordando. Fora preciso que uma criança de apenas sete anos lhe abrisse os olhos e mostrasse como ele estava sendo pequeno para com seu próximo.  

A partir desse dia, todas na aldeia notaram que o velho amigo estava mudado. Ajudava a todos, tendo sempre uma palavra de incentivo e de otimismo nos lábios. 

Nunca mais se ouviu que censurasse quem quer que fosse. Quando ele percebia que alguém estava para cometer um erro, chegava com delicadeza e conversava de modo que o outro entendesse o que ele estava fazendo. E de tal modo procedia, com tal ternura e espírito fraterno, que a pessoa julgava ser ela própria a descobrir sua falha.     

                                              
                                                                        Tia Célia   
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita