Divaldo Franco:
“Todos temos
perguntas e o
Espiritismo
possui
respostas”
O conhecido
orador espírita
analisa diversos
assuntos da
atualidade e
afirma que Chico
Xavier é um
exemplo digno
de ser seguido
por qualquer
pessoa
|
Divaldo Franco
(foto)
esteve em
Londrina no dia
8 de março,
quando falou a
um público
numeroso no
salão de festas
do Londrina
Country Clube. O
tema que ele
abordou na
conferência foi
“Atualidade do
pensamento
espírita” e seu
propósito foi
demonstrar que
os 153 anos que
nos separam da
publicação d´O
Livro dos
Espíritos
não lograram
alterar nenhum
dos conceitos
exarados na
citada obra. A
reportagem sobre
a conferência
pode ser vista
pelo leitor na
edição 149 desta
revista,
disponível na
internet em
http://www.oconsolador.com.br/ano3/
149/especial2.html.
Dias antes, o
conhecido orador
concedeu-nos a
seguinte
entrevista
(1):
|
– Este ano
comemoramos o
centenário de
nascimento de
Chico Xavier e
muitos trabalhos
espíritas estão
prestes a ser
lançados, como
novela, filmes e
até história em
quadrinhos,
abordando
o Espiritismo.
Como o senhor
avalia este
momento para os
espíritas? Acha
que isso poderá
trazer novos
adeptos à
doutrina? |
É evidente que a
divulgação em
massa da
Doutrina
Espírita
conforme se
encontra nas
obras
fundamentais,
que constituem a
Codificação, tem
um significado
extraordinário,
em razão de
poder propiciar,
aos que a
desconhecem, os
seus fundamentos
lógicos,
apoiados na razão,
que enfrenta a
fé face a face
em todas as
épocas da
humanidade,
conforme afirmou
Allan Kardec.
Chico Xavier
não é apenas um
símbolo do
verdadeiro
espírita, mas um
exemplo digno de
ser seguido por
qualquer
indivíduo que
aspire ao bem e
ao ideal de
construção da
humanidade
feliz. Todas as
homenagens que
lhe estão sendo
feitas
representam o
mínimo da nossa
gratidão, pelo
quanto ele
realizou durante
sua nobre
existência.
Com o apoio da
mídia em todas
as suas áreas,
muitas pessoas
irão
interessar-se
pelo
conhecimento do
Espiritismo e
certamente
aderirão aos
seus
postulados.
– Como o senhor
avalia a
problemática da
criminalidade
nos dias atuais,
principalmente
na questão em
que se envolvem
os jovens
atraídos pelas
drogas. Na sua
visão, como
espírita,
acredita que
esses problemas
têm relação com
a transformação
da categoria do
planeta Terra,
como os
espíritas dizem,
de provas
e expiações para
um mundo
de regeneração?
De certo modo,
sim. A questão
tem raízes
históricas,
sociológicas,
educacionais e
de comportamento
religioso.
Durante muitos
séculos a
castração
religiosa e a
hipocrisia
social limitaram
o comportamento
das crianças e
jovens, assim
como dos
cidadãos em
geral. Ameaças
religiosas de
punições
eternas,
necessidade de
comportamentos
falsos,
mascarados de
civilizados,
exigências
domésticas
descabidas,
severidade de
julgamentos eram
impostos como
fundamentais
para uma
sociedade
correta...
Por ocasião da
década
1960/1970, com a
revolução
sociológica da
juventude na
América do
Norte, que se
negava seguir
para a guerra no
sudeste
asiático,
denominada de suja,
como se nenhuma
guerra fosse
limpa, surgiu
uma nova
mentalidade
revoltada, que
se opôs não
somente a essa
luta infeliz,
como também aos
paradigmas de
comportamento
vigentes.
Na cultura hippie do
gozo e do
prazer, o
matrimônio, a
família, a
sociedade
passaram a ser
instituições
superadas,
surgindo a
vulgarização da
conduta sexual,
o abuso de toda
natureza, a
libertação da
mulher, aliás,
muito justa, o
uso de
estupefacientes
e de drogas em
geral. Ficou
célebre o
encontro de três
dias de sexo,
drogas e rock’n
roll, na
cidade de
Woodstock, nos
Estados Unidos.
A rejeição a
tudo que
significava
ordem e dever
caracterizou
esse período,
cujos efeitos
maléficos ainda
a sociedade
experimenta. A
decantada volta
às origens,
aspirada pelos
jovens, deu
lugar à adoção
de doutrinas
orientais, mais
compatíveis com
a meditação e a
fuga psicológica
dos deveres e às
viagens em
direção de lugar
nenhum... Logo
depois, vieram a
desilusão, o
sofrimento
defluente dos
excessos, o
retorno para
casa, como
afirmou John
Lennon, porque
“O sonho
acabou”.
Ficaram as
feridas morais,
as drogas, o
erotismo, a
alucinação do
prazer e as
grandes sequelas
da depressão, da
ansiedade, da
solidão, da
violência.
Por outro lado,
a família
tradicional
cedeu lugar
à moderna, em
que tudo era
permitido,
facultando aos
pais não mais se
preocuparem com
os filhos que,
se sentindo
órfãos, fugiram
para as tribos,
os acasalamentos
e a
promiscuidade
sexual, o
rebaixamento
moral...
Outros fatores,
de natureza
psicológica,
política (falta
de exemplos de
dignificação e
probidade de
muitos deles), o
aumento da
população, a
proliferação das
favelas, o
desemprego e o
vazio
existencial
conduziram ao
desbordamento da
agressividade e
da vulgaridade
que impõe viver
intensamente
este momento, e
logo depois, que
importa?...
O Espiritismo
é o grande
antídoto para
essa tragédia do
cotidiano,
através da
educação, mas
não apenas a
educação formal,
que se aprende
nos livros, mas
aquela que tem a
ver com a moral, conforme
elucida Allan
Kardec em O
Livro dos
Espíritos,
no comentário à
questão 685 (a).
Quando a
criatura humana
tiver a certeza
da imortalidade
da alma,
conhecer a
responsabilidade
dos seus atos,
dando-se conta
que
é construtora do
seu destino,
sempre
responsável pelo
seu
comportamento,
vivenciando a Lei
de causa e
efeito,
modificar-se-á
para melhor,
assumindo
conscientemente
as consequências
positivas e
negativas dos
seus atos, assim
trabalhando em
favor da paz e
da justiça
social.
A drogadição
é uma
enfermidade
social, que
necessita mais
de
esclarecimento e
educação
preventiva do
que policiamento
e perseguição.
Enquanto houver
dependente
químico ou de
outras drogas,
haverá o
traficante... O
trabalho,
portanto,
terá que se
iniciar na
formação da
personalidade da
criança no lar,
nos exemplos
edificantes do
meio social...
Da mesma forma,
a violência,
que, segundo a
UNESCO, é uma
doença do
espírito,
somente no
espírito (na
psique) deve ser
tratada...
– O terremoto do
Haiti poderia
estar ligado
também a essa
transformação do
planeta?
Sem qualquer
dúvida,
porquanto, a fim
de que surja o
mundo novo, o
planeta vem
sofrendo
modificações,
como aliás tem
ocorrido em
todas as épocas,
sendo que as
mais recentes
tragédias
decorrentes dos
fenômenos
sísmicos, como o tsunami do
Oceano Índico,
há poucos anos,
os deslizamentos
de terra, o
aumento global
da temperatura,
também por
desrespeito do
ser humano à
Natureza,
erupções
vulcânicas,
terremotos,
tornados etc.
constituem
métodos seguros
para a depuração
moral e
espiritual das
pessoas que se
lhes tornam
vítimas.
– O Espiritismo
surgiu na França
e, no entanto,
há mais
brasileiros
espíritas que
europeus, de
acordo com dados
do próprio IBGE.
Como o senhor
avalia essa
numerosa
quantidade de
espíritas no
Brasil? Qual
seria a causa
disso?
Do ponto de
vista histórico,
a França sofreu
três guerras
calamitosas,
após o advento
do Espiritismo:
1870 - a
franco-prussiana,
1914/1918 – a
Primeira Guerra
Mundial – e
1939/1945 – a
Segunda Guerra
Mundial – o que
prejudicou
enormemente a
divulgação do
Espiritismo,
assim como a
preservação das
religiões
dogmáticas. As
novas gerações,
algo
amarguradas,
preferiram as
filosofias
existenciais de
Jean Paul Sartre
e Mme. de
Beauvoir, assim
como de outros
pensadores,
deixando à
margem as
propostas
religiosas...
Sob o aspecto
espiritual,
acreditamos que
um grande número
de espíritas do
século XIX eram
Espíritos de
origem francesa
que se
reencarnaram no
Brasil, e que ao
receberem uma
doutrina como o
Espiritismo, com
a sua dialética
alicerçada na
lógica,
facilmente
aceitaram os
seus conteúdos.
Renasce hoje o
Espiritismo na
França, e em
toda a Europa,
graças a muitos
brasileiros
espíritas lá
residentes, aos
que as visitam
com frequência
para divulgá-lo
e aos nobres
esforços do
Conselho
Espírita
Internacional
(CEI).
– A questão
ambiental tem
chamado a
atenção dos
governantes do
mundo todo,
revelando que
está havendo
mudanças
drásticas em
todo nosso
planeta e que o
ser humano
será o primeiro
a sofrer as
consequências. O
que o
Espiritismo diz
sobre esses
problemas?
O ser humano tem
o dever de
preservar a
Natureza.
É lamentável que
o comportamento
mental das
criaturas ainda
vinculadas ao
egoísmo perturbe
a grande mãe
Terra,
envenenando a
sua atmosfera
com os gases
danosos, os
rios, mares e
lagos, as
nascentes de
águas, e
destruindo as
florestas, em
decorrência da
ganância
agrícola,
pastoril ou
imobiliária, sem
nenhuma
consideração
pela vida que
estua em toda
parte.
O Espiritismo
trabalha com
seriedade pelo
ambientalismo,
pelo respeito a
tudo e a todos,
especialmente
à querida Gaia,
que tem sido a
nossa bendita
escola de
evolução.
Essas mudanças
drásticas, sem
dúvida, têm
muito a ver com
a
desconsideração
de quase todos
nós pelas forças
vivas do nosso
amado planeta.
– Ainda há por
parte dos leigos
muitas dúvidas e
principalmente
preconceitos em
relação ao
Espiritismo,
ainda mais
quando falta a
informação. O
que o senhor
diria às pessoas
que contestam a
doutrina e,
ademais, não
fazem questão de
a conhecer?
Não há, entre
nós, os
espíritas, a
preocupação de
impor o
conhecimento do
Espiritismo, mas
o saudável
objetivo de o
propor, de o
apresentar
àqueles que o
desconhecem ou o
conhecem en
passant.
Temos o
interesse de
apresentar uma
doutrina que é
uma ciência que
investiga, uma
filosofia que
esclarece e uma
ética moral de
natureza
religiosa que
conforta,
encaminhando a
criatura de
volta a Deus.
Todos temos
perguntas, e o
Espiritismo
possui
respostas. Nada
obstante, se
alguém o recusa
e o contesta sem
o conhecer,
respeitamos a
sua atitude, mas
compreendemos
que se trata de
presunção,
porque ninguém
pode combater o
que ignora.
Deixamos que o
tempo, o grande
transformador,
faça pela pessoa
o que ela, no
momento, evita
fazer-se a si
mesma, que é o
esclarecimento.
(1)
Esta entrevista,
com ligeiras
modificações,
foi publicada
inicialmente no
jornal Folha
de Londrina
em sua edição de
7 de março de
2010.