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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 4 - N° 165 - 4 de Julho de 2010

WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)
 

Nélli Bócca Lourenço Machado:
 

“Sem preconceito fica mais fácil confiar, tolerar, compreender, trabalhar
em união”

Membro da comissão de doutrina de mocidades da União das Sociedades Espíritas de São Paulo, a confreira paulista fala sobre o trabalho desenvolvido pelas mocidades espíritas e sua importância para o movimento espírita

 

Nélli Bócca Lourenço Machado (foto), nossa entrevistada desta semana, nasceu em Birigui, interior do Estado de São Paulo, e atualmente reside em Bauru, no mesmo estado. Formada em nutrição, atua profissionalmente nessa área. Coordenadora de mocidades espíritas, vem percorrendo todo o Estado de São Paulo estimulando os jovens espíritas a dedicarem-se ao estudo da doutrina codificada por Allan Kardec. Pessoa muito participativa e atuante no movimento espírita de Bauru e região, foi com atenção e simpatia que nos recebeu para abordarmos alguns temas pertinentes à juventude espírita.   
 

Eis abaixo, na íntegra, a entrevista: 

O Consolador: Como conheceu o Espiritismo?

Nasci em família espírita. 

O Consolador: Atualmente você faz parte de algum departamento ligado à federativa do Estado de São Paulo ou outra instituição? 

Sim. Faço parte da Diretoria Adjunta do Departamento de Mocidades Espíritas da USE Regional Bauru e estive também por muitos anos como monitora do Centro Espírita Amor e Caridade – CEAC, de Bauru. 

O Consolador: Você está há muitos anos como uma das coordenadoras da MEAC – Mocidade Espírita Amor e Caridade. Quantos jovens fazem parte desse grupo e como ele é dividido? 

Sim, participo da MEAC desde 2000. Encontramo-nos para estudar a Doutrina Espírita todos os sábados às 17h no CEAC. Dividimo-nos por idade, porquanto o grupo é muito heterogêneo. Então, a Mocidade é formada por 3 salas: a que abrange os jovens de 12 a 14 anos, a sala com jovens de 15 a 17 anos, e por fim a sala com jovens de 18 anos ou mais. Não impomos limite de idade para participantes da MEAC, e criamos a sala dos jovens com menor idade para já recepcionarmos os que saem da Evangelização sem deixar espaço, ou seja, para que o jovem, se assim quiser, dê continuidade aos seus estudos doutrinários, encontrando oportunidade pra isso na fase da adolescência. O jovem, ou mais precisamente, o Espírito nessa faixa etária encontra portas abertas para nossos grupos de estudo em qualquer idade carnal em que se encontrar. Basta ter vontade de conhecer e de fazer amigos, pois, mais que grupo de estudo somente, somos um grupo de amigos que estudam juntos. 

O Consolador: Você nasceu em família espírita. Conhecer a doutrina desde cedo a ajudou em alguma coisa pertinente ao seu trabalho à frente da mocidade espírita? 

Ajudou e muito, já que havia recebido uma base sólida de conhecimentos e minha criação foi toda pautada em princípios cristãos e doutrinários. Assim, continuei só sendo eu mesma e aproveitando as oportunidades de crescimento que este trabalho me deu e tem-me dado. Por um período de minha participação como monitora da MEAC apliquei estudos a jovens que principiavam na Doutrina, que chegavam à Mocidade em busca de conhecimento e para sanar dúvidas pertinentes a morte, mediunidade, passe, justiça Divina etc. Tive certa facilidade intelectual com esses estudos, entretanto, ao mesmo tempo, pude perceber que, por ser já espírita desde cedo, isso não me propiciou “saber mais”, e aprendi com esses jovens muitas coisas, ou seja, juntei meu conhecimento pretérito à vontade de aprender deles e construímos um conhecimento mútuo. 

O Consolador: Quais são os projetos para a juventude espírita para os próximos meses? 

Desde que iniciei nunca tinha vivido um momento de tantas colheitas, e explico o porquê. O trabalho com a juventude é feito por jovens, e estes jovens trabalham, estudam, prestam vestibular, mudam de cidade, namoram etc. Sendo assim, jovens que se propõem a trabalhar pelo movimento espírita não são tão fáceis de encontrar e por muitos anos fomos poucos, levando com toda a garra e perseverança um trabalho que exigiu bastante de nós. Mas hoje há uma nova safra de jovens, Espíritos que estão chegando para ajudar, somar e enxergamos isso com muita nitidez, pois eles são muitos. Com isso, estamos investindo em encontros e estudos que tratam do tema autoconhecimento, educação, liderança, responsabilidade, tudo que envolva e dê suporte teórico e amoroso a estes trabalhadores da juventude do futuro. No mês de julho, dias 17 e 18, acontecerá um encontro de jovens em Bauru, a 1ª Prévia da COMJESP (Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo), em que será escolhido o temário para o encontro estadual que ocorrerá em abril de 2011 em Guarulhos-SP. Nos dias 11 e 12 de setembro acontecerá em Lençóis Paulista-SP o 12º EME (Encontro de Mocidades da Regional Bauru), cujo tema abordará liderança e autoconhecimento. Fora estes encontros intermunicipais, estaduais e até seccionais, os jovens se encontram semanalmente para estudar nas próprias mocidades. Hoje em Bauru existem apenas 3 mocidades, infelizmente. Número extremamente pequeno em face do número de casas espíritas existentes na cidade. A maioria das casas prioriza a evangelização infantil, sem dar continuidade a isso posteriormente na mocidade. Sem maiores críticas, tentamos entender a razão disso, haja vista que os jovens é que sustentarão a própria casa no futuro bem próximo, sem os diretores dessas casas atentarem para essa questão no hoje. Quem participou ou participa de alguma mocidade espírita tem um sentimento de gratidão, isso porque nessa fase existencial o Espírito passa por muitas confusões, sendo essa a época do encontro consigo mesmo e com toda sua bagagem, o que traz consigo dúvidas, revoltas, medos, angústias, aspirações várias. O que melhor para este jovem que a Doutrina Espírita para esclarecer, consolar? E o que melhor para este jovem que amigos que buscam a mesma coisa que ele: crescer e entender por que estão aqui encarnados? A Mocidade é bálsamo de luz e amor no mar de informações e cobranças que o Espírito na fase juvenil traça. Incentivar a existência do grupo de jovens na casa Espírita é, portanto, tão essencial quanto a existência da própria casa, em minha opinião. 

O Consolador: Você tem viajado muito pelo Estado de São Paulo em encontros de mocidades espíritas. Como estão os jovens espíritas? Andam motivados? Estão estudando a doutrina? Têm assumido compromissos em relação ao Espiritismo? 

Tenho visto muitos jovens interessados em estudar, compreender, pesquisar, participar. A motivação deles surge na proporção direta da felicidade que traz o esclarecimento propiciado pela Doutrina Espírita. Este esclarecimento consolador se dá de muitas formas, com os próprios estudos, com o trabalho, com a amizade e com tudo que isso traz e que não se traduz em palavras. Neste contexto, envolver-se, comprometer-se com o trabalho é mera consequência, e quando estes jovens se dão conta já estão trabalhando e muito pelo movimento. Desde encontros estaduais a intermunicipais tenho visto em todas as cidades jovens motivados, mais do que em qualquer outra época. No mês de maio tivemos um encontro de monitores em Americana-SP, que teve mais de 100 jovens líderes de mocidade e grupos de estudo do Estado de São Paulo todo estudando sobre Educação. Um jovem que sai de uma cidade distante no Estado para ir para outra em busca de se aperfeiçoar, estudar, interagir, para assim motivar outros jovens quando voltar à sua mocidade, é motivado, certamente. 

O Consolador: Os dirigentes espíritas têm deixado as portas abertas aos jovens para que eles assumam tarefas de direção e coordenação?  

De uns tempos para cá temos sentido as portas mais abertas sim, apesar de ainda sentirmos uma certa insegurança desses dirigentes em nos atribuírem algumas responsabilidades maiores, pois, até mesmo sem perceberem, certas vezes nos rotulam como muito inexperientes para assumir certas funções e concluí-las “ao agrado”. De uns anos para cá temos trabalhado arduamente, assumindo postos de maior responsabilidade e fazendo acontecer, com organização, muitos eventos e trabalhos no movimento, onde só jovens estão envolvidos. Então, por mais que não diretamente com esta finalidade, nossas realizações fizeram com que a visão que os dirigentes têm dos jovens fosse um pouco modificada para melhor. Ainda temos um caminho a percorrer, e nosso maior desafio nem é o de que acreditem mais em nós, mas que acreditemos em nós mesmos apesar da descrença de alguns. Superando tais dificuldades e vivenciando a doutrina dentro do movimento doutrinário, estamos crescendo e criando muitos frutos bons, que são os jovens de agora que nos usam como exemplo e norte para dar seguimento a este trabalho, que não para e cresce cada vez mais. 

O Consolador: Em sua opinião o que o movimento espírita pode fazer para trabalhar mais ao lado da juventude? 

Na verdade, nós sempre trabalhamos ao lado uns dos outros, jovens e adultos, pois trabalhamos pela mesma causa. Mas o que faria com que trabalhássemos juntos, fraternalmente falando, seria a quebra de preconceitos de ambas as partes. Se nos esforçássemos por visualizar a realidade de que somos todos Espíritos em aprendizado, que os jovens não são só empolgação, impulsividade, irresponsabilidade e inexperiência; nem os adultos são só inflexibilidade, rabugice, autoritarismo e prepotência, tudo seria mais fácil. Na verdade, tanto jovens quanto adultos têm suas dificuldades, suas facilidades, e todos nós estamos na Terra para crescer. Em obediência à Lei de Sociedade, creio que facilitaria todo o processo interior de cada um a quebra destes preconceitos para que juntos trabalhássemos em prol de nós mesmos e da Doutrina que nos dá suporte. Sem preconceito fica mais fácil confiar, tolerar, compreender, trabalhar em união. 

O Consolador: Ao longo desses anos quais foram suas maiores alegrias?

Difícil descrever, pois tive muitas alegrias. O encontro com amigos tão queridos, o aprendizado enorme com os estudos de que participei, tanto como monitora quanto como participante. Para exemplificar, ano passado fiz parte da comissão organizadora da 46ª COMENOESP que se realizou em Bauru. As dificuldades internas e externas que encontrei foram enormes, mas quando, no primeiro dia do encontro, após um ano contínuo de trabalho e superação, vi todos os jovens no salão assistindo à palestra do Edgar Miguel, percebi que tudo tinha valido a pena. E ao observar o olhar brilhante de todos aqueles jovens, eu chorei, chorei de alegria e gratidão, por ter tido a oportunidade de ajudar a proporcionar aquele momento a todos eles e por ter-me superado a cada obstáculo que me foi colocado. Senti alegria quando fui ao meu primeiro encontro de mocidades, no ano de 2001, onde vislumbrei um mundo de possibilidades de aprendizado e consolo que me era proporcionado. Difícil descrever a alegria que se sente ao ver que você, apesar das dificuldades inúmeras para enxergar que será melhor, entende que pode ser melhor sim, pois terá todo o amparo pra isso. Senti alegria quando, no ano passado, os pais dos jovens foram à mocidade para participar de um encontro de “Pais e Filhos”, e sem pudores fizeram um teatro interpretando os seus filhos e, colocando-se no lugar deles, sentiram como é ser seus próprios filhos, o que certamente auxiliou na harmonização destes seres em seus lares. Senti alegria quando no ano passado a Neli Del Nero nos convidou para participar da comissão organizadora da Feiramor (Feira anual da cidade de Bauru em que os centros espíritas organizam-se para arrecadarem fundos destinados às suas atividades) e confiou em nosso trabalho. Senti alegria quando percebi que tinha mais melhores  amigos que qualquer outra pessoa que conhecia, que cada pessoa que encontrei nesse trabalho me ajudou a ser quem eu sou hoje. Senti alegria quando percebi que alguns jovens me tinham como exemplo a seguir. Senti alegria quando fui chamada para responder a estas questões, pois alguém pode se servir de minha fala e se sentir melhor e mais esperançoso em relação a si mesmo ou a seus filhos. Sinto alegria todos os dias por fazer parte deste trabalho. Por trabalhar por mim e por muitas pessoas enfrentando as consequências de insistir em crescer. Em todo trabalho, não existe só alegria, mas neste as alegrias superam as tristezas e digo com certeza que faria tudo de novo desde o início, sendo que no inicio de tudo nem sabia que ganharia muita coisa.
 

Nélli Bócca Lourenço Machado
nellib@ig.com.br



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita