Maurício
Cisneiros Filho:
“Na Terra
estamos ainda na
fase de
remodelação do
nosso lar”
O presidente do
Conselho
Espírita dos
Estados Unidos
fala sobre o
movimento
espírita no país
em que ocorreram
em 1848 os
fenômenos de
Hydesville
|
Não existe lugar
no mundo onde o
Espiritismo seja
tão difundido e
– por que não
dizer? – tão
respeitado como
no Brasil. Até
mesmo na França,
pátria do
codificador
Allan Kardec, a
Doutrina dos
Espíritos não é
muito conhecida.
E, assim sendo,
muitos
brasileiros,
espalhados pelo
globo, vão
vencendo as
barreiras
culturais e
linguísticas
para difundir,
como podem, os
ensinamentos
espíritas.
Com o confrade
Maurício
Cisneiros Filho
(foto)
não foi
diferente. Nesta
conversa com os
leitores de
O Consolador
ele nos conta
como o
Espiritismo vem
sendo
trabalhado
nos Estados
Unidos da
América, onde
ele exerce
atualmente o
cargo de
presidente do United States
|
Spiritist
Council
(Conselho
Espírita dos
Estados Unidos).
O Consolador:
Onde você
nasceu?
|
Em Niterói, no
Estado do Rio de
Janeiro, mas
cresci em
Brasília (DF).
O Consolador: Em
que região dos
Estados Unidos
você mora
atualmente?
Na Flórida.
O Consolador:
Desde quando
você reside nos
Estados Unidos?
Desde 1988,
quando vim para
os Estados
Unidos à procura
de melhores
condições
profissionais.
O Consolador:
Qual é sua
formação
escolar?
Sou formado em
Tecnologia da
Informação (Information
Technology), com
especialização
em
telecomunicação.
O Consolador:
Que cargos ou
funções você
exerceu
anteriormente no
Movimento
Espírita?
Fui
vice-secretário
e
vice-presidente
da Federação
Espírita da
Flórida em
diferentes
gestões.
O Consolador: E
no momento em
qual instituição
atua?
No momento sou
presidente da
Spiritist
Society of Palm
Beach, em Boca
Raton, Flórida,
além de
presidente do
United States
Spiritist
Council.
O Consolador:
Quando você teve
o primeiro
contacto com o
Espiritismo?
Nasci em família
espírita e
cresci a uma
quadra do Grupo
Espírita Irmão
Estevão, situado
em Brasília
(DF), onde
passei pelos
diferentes
ciclos da
evangelização
infantil, assim
como pela
pré-mocidade e
pela mocidade
espírita.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo –
ciência,
filosofia e
religião – qual
o que mais o
atrai?
Diferentemente
de muitos
espíritas, nunca
tive
preferência.
Tudo que é
analisado com a
visão racional,
questionadora e
sentimental
espírita me
encanta
grandiosamente.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
considera
indispensáveis
ao confrade
iniciante?
Depende muito do
iniciante.
Geralmente “O
Livro dos
Espíritos” deve
ser o primeiro a
ser introduzido.
Mas existem
casos em que o
“Evangelho
segundo o
Espiritismo” ou
mesmo “Nosso
Lar” podem fazer
melhor serviço à
compreensão de
certos
indivíduos com
extraordinárias
particularidades
de
entendimento.
O Consolador:
Você pode citar
um livro
espírita que
seja para você
inesquecível?
“Jesus e Kardec
Como Modelos
Para os
Trabalhadores
Espíritas”, do
Dr. Alirio de
Cerqueira Filho.
Esse livro, o
primeiro de uma
série, é baseado
em ensinamentos
de Joanna de
Ângelis, mas com
um toque mais
explicativo para
que nós, simples
seres mortais,
consigamos
entender
minuciosamente a
análise feita
pelo Dr. Alirio
sobre a visão de
Joanna com
relação à nossa
movimentação
psicológica como
trabalhadores e
dirigentes
espíritas.
O Consolador:
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para
você, o
Espiritismo é
uma religião?
Somente aqueles
que ainda não
são espíritas
dizem que o
Espiritismo não
é uma Religião.
Se já o tivessem
entendido e
abraçado de
coração isso não
mais diriam.
O Consolador:
Outro assunto em
que a prática
espírita às
vezes diverge
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond. Embora
saibamos que o
mais comum, no
tocante ao tema,
seja a imposição
de mãos, qual a
sua opinião
sobre o assunto?
Todos aqueles
que estudam um
pouco que seja
sobre magnetismo
descobrem
rapidamente que
a padronização
aí não tem
lugar. Embora o
passe em
reuniões
públicas
regulares possa
ser administrado
de forma menos
complexa, o
passe em
reuniões de
tratamento já
deve ser mais
minucioso e
feito por
pessoas com
grande
entendimento de
causa. À medida
que avançamos
novas técnicas
vêm sendo
descobertas e o
uso delas é
imprescindível
para aqueles que
querem ajudar
mais
efetivamente os
recipientes de
passes. O livro
mais importante
que já li e
estudei sobre o
assunto foi
“Avaliando
Verdades
Distorcidas – O
Que Kardec Falou
Sobre o
Magnetismo”. O
grande problema
é que é sempre
mais fácil
trabalhar atrás
de conceitos
simplórios do
que aprender e
desenvolver
técnicas
melhores do que
as que já
utilizamos. Ao
mesmo tempo, é
um erro
acreditar que os
mentores vão
sempre suprir a
nossa
ignorância. Onde
resido existem
vários Centros
Espíritas que
trabalham de
maneiras
variadas.
O Consolador:
Como vê a
discussão em
torno do aborto?
No seu modo de
ver as coisas,
os espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida,
como tem feito a
Igreja?
O dever do
espírita é de
instruir e nunca
o de obrigar os
outros a
seguirem o que
pensamos. Dentro
de nossas
condições de
cidadãos do
mundo, vamos
fazendo o que
podemos para
minimizar a
prática do
aborto, mas
sempre
respeitando os
direitos dos
outros.
O Consolador:
Você tem tido
contato com o
movimento
espírita
brasileiro?
Considera-o
atuante, ou
falta nele algo
que favoreça uma
melhor
divulgação da
doutrina?
Tenho um
contacto
constante com
vários
companheiros
trabalhadores no
movimento
espírita
brasileiro. Não
há dúvidas de
que o trabalho
de divulgação do
Espiritismo no
Brasil é
excelente.
O Consolador:
Como se
desenvolve o
Movimento
Espírita nos
Estados Unidos?
Digamos que
estamos bem no
começo da
introdução do
Espiritismo nos
Estados Unidos.
Embora Chico
Xavier tenha
estado aqui há
mais de três
décadas, a
divulgação que
vinha sendo
feita não era em
língua inglesa.
Daí a completa
ignorância do
público
americano em
matéria de
Espiritismo.
Hoje a questão
da divulgação em
inglês já tem
tomado outro
rumo e aos
poucos os
agrupamentos
espíritas daqui
têm abraçado
essa bandeira.
O Consolador:
Quando e como se
originou o
movimento
espírita no
país?
Não se sabe
exatamente quem
foram os
primeiros
espíritas em
terras do tio
Sam. Há mais ou
menos cinquenta
anos já existiam
alguns poucos
agrupamentos
espíritas em New
Jersey, North
Carolina e na
Califórnia.
Depois disso
outros
apareceram na
Flórida. Todos
eles organizados
por
latino-americanos.
Hoje estamos
beirando 90
grupos
espalhados em
vários Estados
norte-americanos.
O órgão maior de
unificação do
movimento
espírita é o
United States
Spiritist
Council
constituído por
30 grupos
afiliados.
O Consolador:
Como é a
aceitação dos
norte-americanos
com relação à
Doutrina
Espírita?
Dados os
diferentes graus
de religiosidade
e
espiritualização
do povo
americano,
existem
diferentes tipos
de aceitação ou
não do
Espiritismo nos
EUA. Geralmente
o público mais
ortodoxo
(cristãos,
judeus etc.),
assim como o
mais
materialista, é
mais reticente
ao terem contato
com o
Espiritismo.
Entre os
espiritualistas
tipo “new age”
existe uma
tendência maior
à participação
nos estudos e
demais reuniões
oferecidas pelos
Centros
Espíritas, mas
muitos desses
têm uma tremenda
dificuldade em
aceitar
trabalhar com a
mediunidade ou
com a divulgação
dos
conhecimentos
espirituais sem
algum benefício
monetário.
Geralmente o
público de mais
fácil aceitação
é o dos
religiosos ou
não-religiosos
com a mente mais
aberta para o
estudo dos novos
conhecimentos
espirituais.
O Consolador:
Quais as maiores
dificuldades
para se
desenvolver o
trabalho
espírita fora do
Brasil?
Devido à
estrutura já
formada com
muito suor no
Movimento
Espírita
Brasileiro, aí
esse trabalho já
se encontra mais
fácil de ser
realizado. Aqui
nos Estados
Unidos, assim
como no Canadá e
na Europa, em se
falando de
estrutura,
estamos a uns
100 anos atrás
do Movimento
Espírita
Brasileiro. Uma
das maiores
evidências é o
próprio espaço
físico em que os
agrupamentos se
reúnem aqui.
Nenhum Centro
Espírita nos
EUA, como
corporação
constituída, é
dono de seu
próprio local de
trabalho. Todos
os Centros
alugam um espaço
ou, como é o
caso de alguns
poucos, pagam
financiamento de
imóvel para que
a porta da Casa
fique aberta. E
os preços são
realmente
exorbitantes, a
ponto de muitos
agrupamentos só
poderem alugar
locais por
algumas horas
semanais para
que suas
reuniões possam
ser realizadas.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
no Brasil e no
mundo e como
nós, espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Precisamos
continuar
divulgando a
Doutrina
Espírita de
todas as
maneiras, mas
principalmente
através de nossa
conduta. Um
sábio
companheiro
nosso, ao fazer
uma palestra
sobre a
conquista do
mundo de
regeneração, nos
dizia que
estamos em fase
de “remodelação
de nosso lar”,
daí estarmos
vendo nossas
paredes, piso e
móveis um tanto
que bagunçados.
Mas, assim que
terminarmos a
obra, nosso lar
estará mais
lindo do que
nunca e
propriamente
ajustado para
que possamos
melhor usufruir
dele com todo
conforto.
O Consolador: A
preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
expiação e de
provas, passando
plenamente à
condição de
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra amor
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
Acredito que em
50 anos, mais ou
menos, não
veremos mais a
reencarnação de
Espíritos ainda
imbuídos de
idealizações
maldosas. Mesmo
porque o nosso
planeta, como
esfera ambiental
isolada, não aguentaria muito
tempo mais as
barbáries que
vêm sendo
cometidas há
tanto tempo
contra a
natureza
terrestre.
O Consolador: Em
face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
mundo?
A de continuar
procurando
unificar a todos
em um sentimento
de fraternidade,
independentemente
das crenças
religiosas que
os outros
possuam.
O Consolador: O
que é o
Espiritismo para
você?