Maria Georgina
Anchieta
Valente:
“A família
enfrenta os
problemas
resultantes da
época da grande
transição em que
vivemos”
|
Maria Georgina
Valente
(foto),
natural da
cidade gaúcha de
Rio Grande e
nascida em lar
espírita, reside
em Alvorada
(RS), atua na
Sociedade
Espírita
Obreiros do
Senhor e tem sob
sua direção o
Departamento de
Assuntos da
Família – DAFA,
órgão da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul (FERGS).
Mãe
de quatro filhos
e avó de dois
netos, desde
muito jovem
aceitou o
chamamento para
a evangelização
de crianças e da
família. E junto
com seu esposo,
Valmor, continua
esse trabalho na
FERGS, que, como
sabemos,
coordena o
movimento
espírita no seu
Estado.
|
Eis, a seguir, a
entrevista que
gentilmente ela
nos concedeu:
O Consolador: Na
Sociedade
Espírita
Obreiros do
Senhor, quais as
suas atividades?
|
Minha
participação se
faz na direção
do grupo de
estudos, na
exposição
doutrinária, e
nas atividades
mediúnica e dos
passes.
O Consolador:
Que tarefas já
exerceu
no movimento
espírita?
Desde muito
jovem tenho
trabalhado em
vários setores e
em vários
Estados e
cidades do
Brasil. No
movimento
espírita já
exerci a
vice-presidência
do C.E.
Francisco de
Assis em Macapá,
do qual meu
esposo era
presidente e
onde também
instituímos e
dirigimos o DIJ
– Departamento
de Infância e
Juventude. Fui
também diretora
do DIJ na Casa
do Pequenino,
SE; diretora do
DIJ no Instituto
E. Francisco de
Monte Alverne,
DF, e diretora
do DIJ e do DAFA
da UDE Partenon,
Porto Alegre,
RS.
O Consolador:
Sabemos que você
tem forte
atuação no setor
da família. Por
que essa
vinculação?
Iniciamos o
trabalho de
evangelização da
criança aos 13
anos de idade e
já se passaram
44 anos.
Evangelizando as
crianças fomos
sentindo um
compromisso
maior que se
estendia à
evangelização
também dos pais.
Moramos quatro
anos em Aracaju
(SE) e nessa
ocasião fomos
convidada para
evangelizar
crianças em um
sítio em São
Cristóvão. Nosso
trabalho
envolvia uma
equipe de
trabalhadores em
que alguns
elaboravam a
alimentação,
outros atendiam
na horta, na
evangelização...
Íamos pela manhã
e voltávamos à
tarde. A Luisa
dirigia o
trabalho no
sítio de sua
propriedade, mas
os pais ficavam
ociosos.
Iniciamos,
então, a convite
da direção, um
trabalho
direcionado aos
interesses
daqueles pais,
que procuravam
auxílio
material, mas
também consolo e
esclarecimento
para as suas
dores.
Começamos,
assim, o
trabalho com as
famílias, do que
guardo na alma a
lembrança do
mais belo cartão
de visita da
natureza, que se
descortinava em
cenário para as
nossa preces ao
Criador. Quando
voltamos ao Sul,
para Porto
Alegre, sentimos
que trazíamos na
alma um clamor
que nos levava
ao encontro da
necessidade de
engrossar as
equipes de
trabalhadores
que tentavam
minimizar os
conflitos da
grande família
humana.
Atualmente, na
direção do
Departamento de
Assuntos da
Família (DAFA),
da FERGS, temos
a oportunidade
de efetivar
junto a uma
equipe de irmãos
qualificados,
responsáveis e
abnegados, um
trabalho voltado
aos dramas que
assolam os
relacionamentos
familiares.
O Consolador:
Como se encontra
a família
atualmente?
A família está,
atualmente,
enfrentando os
problemas
resultantes da
época da grande
transição em que
vivemos. Um
momento de
grandes
desafios,
testemunhos e
dores. Vivemos a
era do
imediatismo, em
que a satisfação
plena de nossos
desejos é, para
muitos, a coisa
prioritária,
pouco importando
o bem do outro.
Ao lado dessa
realidade,
encontramos
irmãos
valorosos,
operantes no
bem, no
exercício do
amor ao próximo,
trabalhando pela
implantação do
mundo de
regeneração.
O Consolador:
Ao longo de 2010
você desenvolveu
uma série de
seminários no
Estado sobre o
tema Família
– “Onde foi que
errei?”
Como surgiu
esse tema?
Reconhecemos o
sucesso
alcançado no
Seminário
Onde foi que
errei?, tema
que aborda as
questões que
falam de perto
aos corações
aflitos dos
lares de nosso
tempo.
Realizamos o
Seminário
Estadual da
Família em Porto
Alegre, Santo
Ângelo, Cruz
Alta, Caçapava
do Sul,
Alvorada,
Uruguaiana,
Pelotas e Bagé,
e estamos
acertando agenda
ainda com Torres
e, para 2011,
com Rosário do
Sul, Jaguarão e
São Gabriel.
“Onde foi que
errei? é a
pergunta que nos
fazemos quando
reconhecemos que
“fracassamos”,
que deu “tudo
errado”, que
deveríamos ter
“agido
diferente”.
Diante das
questões
familiares,
nosso seminário
tem tentado
levar as
respostas
através das
oficinas que
abordam a
gestação, o
casamento, os
relacionamentos
pais e filhos, a
violência, a
sexualidade (bem
como a
homossexualidade),
a convivência
com o idoso, e o
Evangelho no
lar. Nosso
Seminário
realizado em
Uruguaiana teve
a participação
de nossos irmãos
argentinos e
uruguaios,
alcançando um
público recorde
em eventos do
DAFA.
Ressaltamos que
nossa equipe de
facilitadores
tem levado os
temas abordados
com
brilhantismo,
entusiasmo e
criatividade,
desta forma
divulgando e
multiplicando os
nossos objetivos
na evangelização
da família.
O Consolador:
Que experiências
ou lições tem a
relatar dessas
atividades?
Para nossa
alegria, o
público
não-espírita
também se fez
presente
participando
ativamente dos
debates
realizados, nos
quais
ressaltamos o
papel consolador
da Doutrina
Espírita no
esclarecimento
de que nossos
erros prendem-se
à existência de
“um passado”, em
que certamente
nos
comprometemos
com experiências
mal conduzidas.
O momento dos
questionamentos
não apenas nos
possibilita a
necessidade de
obter respostas,
mas também sair
da “zona de
remorso”,
procurando
caminhos de
recuperação e
soluções para o
conflito,
esperança e
crescimento
espiritual. Cada
viagem
representou para
a equipe uma
grande
oportunidade de
encontro e troca
de experiências,
onde os relatos
e desabafos
deram início a
uma nova
caminhada na
jornada de
testemunhos
terrestres com
mais esperança e
fé. Isso foi
gratificante!
O Consolador:
Como percebe a
situação atual
da família em
face dos novos
desafios
trazidos pelo
Século 21?
É um momento
especial... O
grande
desenvolvimento
científico, as
grandes
conquistas
contrastam com o
grande atraso
moral, o
materialismo, a
egolatria...
Esta é também
uma época de
grandes projetos
sociais,
projetos
pedagógicos
exemplares, leis
voltadas aos
direitos dos
homens.
Parece-nos que
vivemos em pesos
e medidas que
não se entrosam,
representam
valores opostos
na grande
balança da
evolução humana.
Nesse contexto,
a família estará
à deriva, se não
tiver por “leme”
seguro as leis
de amor,
exemplificadas
por Jesus.
Enquanto
trabalhadores do
Departamento de
Assuntos da
Família, podemos
auxiliar para
que o bem se
instale
efetivamente na
Terra e, quanto
a isso, estamos
otimista, pois
vemos em muitos
lugares
atividades
anônimas sendo
desenvolvidas,
por meio de
caravanas a
hospitais,
lares,
presídios, casas
geriátricas,
escolas. Num
trabalho
silencioso e
amoroso, são
como braços de
Jesus em auxílio
aos necessitados
da Terra. Neste
início de século
vemos, pois,
muitas dores,
mas também muito
trabalho de
abnegação: mãos
que pedem e que
socorrem,
lamento e
consolo,
ignorância e
esclarecimento.
Acreditamos ser
este o nosso
desafio:
minimizar as
dores, enquanto
espíritas
conscientes,
ante o que nos
apresenta o
Século 21.
O Consolador:
Qual a
importância do
Departamento de
Assuntos da
Família (DAFA)
nos Centros
Espíritas?
A importância do
nosso
departamento
está na
abrangência do
trabalho que
realizamos. O
Departamento de
Assuntos da
Família está
subdividido em
quatro setores:
Setor de Pais
Gestantes, Ciclo
de Pais, Ciclo
do Idoso e
Caravanas do
Evangelho no Lar
e, dessa forma,
atende
profilaticamente
ao Espírito
encarnado no
cerne de suas
maiores
necessidades.
Com objetivos
definidos para
cada ciclo, o
DAFA esclarece
os pais para o
momento especial
do espírito
quando retorna à
experiência
terrestre e
proporciona a
eles a reflexão
quanto aos
assuntos
pertinentes à
relação pais e
filhos;
proporciona aos
idosos momentos
de encontros e
diálogo,
oportunizando
aceitação e uma
velhice serena;
oportuniza ao
trabalhador
espírita a
oportunidade de
ir ao encontro
da dor e do
sofrimento
auxiliando os
irmãos que
permanecem em
seus lares,
hospitais, casas
geriátricas e de
detenção, com a
proposta
libertadora de
Jesus e o
benefício da
oração. Somos
ainda
responsáveis
pela Campanha de
Valorização da
Vida, onde
proporcionamos
esclarecimento,
estudo e
reflexão em
torno dos temas
suicídio, pena
de morte,
aborto,
dependência
química e
eutanásia.
Cada vez mais se
faz necessário a
estruturação do
DAFA nos Centros
Espíritas para
atender aos
conflitos
familiares,
fortalecendo e
esclarecendo o
homem do porquê
de estarmos
vivenciando a
experiência
familiar.
Lembremos que o
Centro Espírita
deve ser o posto
de atendimento
fraternal a
todos que o
procuram com o
propósito de
obter
orientação,
esclarecimento,
ajuda ou
consolação; casa
onde crianças,
jovens, adultos
e os idosos
tenham a
oportunidade de
conviver,
estudar e
trabalhar,
dentro dos
princípios
espíritas.
Certamente o
DAFA atende a
esta proposta.
O Consolador:
Como avalia os
novos arranjos
das famílias,
como as uniões
homoafetivas,
inclusive com a
adoção de
crianças?
Para 2011
estaremos
colocando em
oficinas para
debate o tema
“Os novos
formatos
familiares”,
incluindo dentro
da violência
doméstica o
drama da
pedofilia,
experiência
dolorosa que tem
assolado os
lares. Na
sociedade, nas
instituições
públicas e
estudantis estes
temas têm sido
abordados
amplamente,
devido ao índice
enorme de
conflitos nessa
área. Desta
forma, nós
espíritas não
podemos fechar
os olhos para
essa realidade
que se agiganta
tanto nos lares
pobres como nos
economicamente
favorecidos,
certos de que a
miséria moral
independe da
classe social e
econômica do
indivíduo.
Nossa opinião
quanto à questão
das uniões
homoafetivas é a
do
não-julgamento e
de respeito ao
livre-arbítrio
de cada um.
Sobre as adoções
acreditamos que
nossas crianças
sem lar e sem
amor podem
encontrar em
lares adotivos o
amor de que
necessitam.
Ficamos a pensar
que os
referenciais
psicológicos dos
papéis mãe/pai
são
responsabilidades
a serem
assumidas... Mas
como aquilatar
qual o “peso” de
nossas reais
necessidades?
Será o amor ou
serão os
referenciais dos
papéis?
O Consolador:
Você passou pela
experiência do
falecimento
precoce de uma
filha. O que
pode
compartilhar com
outros pais que
passam por essa
difícil
experiência?
Estamos vivendo
dias de grande
aprendizado,
saudades e
superação. Temos
quatro filhos,
três mulheres e
um homem. Uma de
nossas filhas
desencarnou há
seis meses em um
acidente
automobilístico,
aos trinta anos
de idade. Nossa
filha Liciane é
a terceira, um
Espírito ímpar,
lindo, com
defeitos e
qualidades, que
conquistou
durante sua
existência
muitos amigos e
o nosso coração.
Com a dor que
estamos sentindo
da separação
física e da
saudade que
dilacera nossa
alma, avaliamos
a dor dos que
perdem seus
filhos, pais e
irmãos sem a
nossa
compreensão
reencarnacionista.
Podemos dizer
que falamos com
alma, com
convicção e
certeza, quando
dizemos que Deus
existe, que é
Pai, justo e
misericordioso,
que a morte não
existe e que
somos capazes de
superar a dor
para auxiliarmos
os nossos entes
queridos que
voltaram para a
espiritualidade.
Na nossa bagagem
de experiências
terrena trazemos
a violência
doméstica, a
pedofilia, a
dependência
química, a perda
prematura de
entes queridos
como dores que
nos dão suporte
e empatia para
entendermos a
dor do outro.
Como presentes
de Deus, ainda
recebemos pais
terrenos
amorosos,
responsáveis,
dignos e
honestos; uma
união
compensadora de
trinta e sete
anos de
casamento com um
jovem também
espírita, que
nos tem
auxiliado a
desempenhar os
papéis de
mulher, mãe e
avó,
oportunidade
redentora, que
embala os nossos
dias de
experiências,
alegrias e
responsabilidades.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Como palavras
finais queremos
dizer aos
leitores que a
vida terrena é
uma oportunidade
maravilhosa e
que, apesar das
dificuldades que
enfrentamos,
podemos semear
para o amanhã a
felicidade de
que hoje
sentimos falta.
Ouvimos muitas
pessoas dizerem
que não podem
trabalhar no
DAFA, pois não
conseguem,
ainda, resolver
suas dores
familiares.
Podemos, no
entanto, dizer
que a nossa
bagagem de
experiências
instrumentaliza-nos
a ir ao encontro
daquele que
sofre. Trabalhar
pela
evangelização da
família é uma
oportunidade que
não podemos
postergar. Somos
um foco de luz a
irradiar com
muita ou pouca
intensidade, mas
sempre uma luz.
Muita paz a
todos.