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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 4 - N° 188 - 12 de Dezembro de 2010

 

Teatro na escola

 

O Natal se aproximava. As pessoas pareciam mais amigas, mais sensíveis e generosas. A lembrança de Jesus, da sua vinda ao mundo, inundava os corações de fé e de esperança.

Carla, menina de sete anos, porém, não se deixara influenciar pelo ambiente de solidariedade. Natal, para ela, resumia-se em ganhar muitos presentes caros: roupas, calçados e brinquedos.

Havia nascido numa casa confortável, tinha pais amorosos e nunca sentira falta de nada. Tudo o que ela pedia o papai comprava. Assim, não conseguia avaliar a necessidade das outras pessoas.

Quando um homem batia à porta pedindo um prato de comida, ela o expulsava sem piedade.

Quando uma criança pobre passava pela calçada e parava fascinada ao ver Carla brincar no jardim, cercada de brinquedos caros e lindas bonecas, a menina logo dizia irritada:

— O que você está fazendo aí? Vá embora! Suma daqui antes que eu chame alguém!

E a criança, com lágrimas nos olhos, baixava a cabeça, e se afastava triste.

Nesse dia, alguém bateu à porta e Carlinha foi atender. Era pobre mulher magra e pálida, que tinha um bebê no colo e parecia estar com fome.

Cheia de asco, com maus modos, Carla perguntou o que ela queria.

A pobre mãe, com voz humilde, explicou-lhe a situação:

— Não sou mendiga. Sempre trabalhei e tive um lar. Meu marido me abandonou e agora, com o nascimento de meu filho, sem poder trabalhar, precisei entregar a casa. Não temos onde ficar e estou passando fome. O bebê chora porque meu leite secou e nada tenho para dar a ele. Tenha piedade, ajude-me!

— Aqui não tem nada para a senhora. Vá embora!

— Menina, ajude-me! Chame sua mãe, por favor. Falarei com ela e, por certo, entenderá meu problema, porque também é mãe — insistiu a mulher.
 

Indiferente, porém, às súplicas da pobre mãe, Carlinha afirmou:

— Minha mãe não pode atendê-la agora. Desapareça antes que eu solte o cachorro.

A infeliz mulher, vendo que não conseguia sensibilizar a menina, afastou-se desanimada, dizendo:

— Que Jesus a abençoe e que você, mais tarde, nunca passe pelo que estou passando.

Carlinha entrou. A mãe, que estava de saída, perguntou:

— Quem era?

A menina contou o que tinha acontecido e a mãe, com severidade, afirmou:

— Carla, minha filha, você não deve agir assim. Temos que ajudar aos mais necessitados. Já não lhe expliquei que é para oferecer sempre alguma coisa aos que batem à nossa porta? Precisamos dar graças a Deus porque nada nos falta! E se fôssemos nós a precisar mendigar? Jesus, com muita sabedoria, ensinou que devemos fazer aos outros tudo o que queremos que os outros nos façam. Então, que isto não se repita.

A menina foi brincar, porém ficou pensativa. Não conseguia esquecer a imagem da mendiga e as palavras de sua mãe.

No dia seguinte, na escola, iniciaram os preparativos para a festa de final de ano. Além de números de dança e música, teriam também um teatro. A classe de Carlinha faria uma dramatização do nascimento de Jesus.

Foram escolhidos os personagens, as vestimentas, o cenário. Carla, que tinha os cabelos claros e longos, seria Maria. O menino Jesus seria um lindo boneco que a menina trouxera de sua casa.

A professora explicou bem, após dar o texto para leitura:

— Cada um de vocês terá que se colocar no lugar do personagem. Realmente “viver” o papel, como se estivesse acontecendo naquele momento.

Carlinha conhecia a história de Jesus, que sua mãe contara muitas vezes, mas agora era diferente. Viver o papel era emocionante!...

Começaram os ensaios. À medida que o narrador ia contando a história, Carla cada vez mais mergulhava no papel. As roupas, o ambiente criado, a música, tudo fazia crer que realmente tivessem voltado dois mil anos atrás. 

Maria e José precisaram deixar a casinha onde moravam, em Nazaré, e fazer uma longa viagem, estando Maria grávida. Ao chegar a Belém, eles não conseguiram hospedagem. Procuraram em todos os lugares, mas a cidade estava cheia de gente e as estalagens encontravam-se superlotadas. Maria e José estavam cansados da longa viagem e com muita fome.

Nesse ponto, aflita, sentindo o drama de Maria e José, Carla começou a se lembrar da pobre mãe que ela expulsara de casa, e pôs-se a chorar.

José, arrumando o bigode que ameaçava cair, lhe disse:

— Tenha confiança, Maria. Arrumaremos um lugar para nos abrigar. O Senhor vai nos ajudar!...   

Finalmente, alguém, cheio de compaixão, deu-lhes uma estrebaria como abrigo e, entre as palhas, arrumaram um leito onde pudessem dormir, em meio aos pacíficos animais que a tudo observavam.

Naquela noite Jesus nasceu, e foi colocado numa manjedoura, forrada de palhas limpas e secas, e coberto com alguns panos, pois Maria não tinha roupinha para o bebê.

Mais uma vez, Carlinha lembrou-se da pobre mulher e do seu bebê lamentando, tardiamente, o tratamento que lhes dera. Como a mãe de Jesus, também a mendiga batera à sua porta sem receber auxílio. Agora Carla compreendia o que isso significava. O que era não ter onde ficar, não ter abrigo, nem comida e estar cansada

de tanto andar.  

O teatro terminava com a visita dos Reis Magos ao recém-nascido, enquanto uma música natalina tocava ao fundo.

No dia da festa foi um sucesso. O grupo todo foi muito aplaudido, especialmente Carla, que representara com muita emoção o seu papel.

A mãe foi cumprimentar a filha, abraçando-a com carinho, enquanto lhe dizia:

— Nunca pensei que você fosse ficar tão emocionada, minha filha. Até chorou!...

— Este teatro foi muito importante para mim, mamãe. Você nem imagina quanto!

Desse dia em diante, Carlinha começou a agir de forma diferente com as pessoas. Atendia com respeito a todos os que batiam à porta, mas ainda não estava satisfeita. Faltava alguma coisa.

Um pouco antes do Natal, perto da rodoviária, teve uma surpresa: viu aquela mulher com o bebê nos braços!

Cheia de alegria, correu a encontrá-la dizendo satisfeita:

— Graças a Deus, eu a encontrei. Há muitos dias ando à sua procura.

Reconhecendo a menina que a expulsara de casa, a mulher mostrou-se surpresa. Carla, porém, tranquilizou-a:

— Não tenha medo. Estou arrependida e quero ajudá-la. Venha comigo!

Conduziu a mulher e a criança até sua casa e disse à mãe:

— Mamãe, esta senhora está precisando de ajuda. Não tem onde se abrigar, e a nossa casa é tão grande!...

A senhora, satisfeita, concordou imediatamente:

— Claro, minha filha. Temos um quarto no fundo onde ficarão bem instalados. Além disso, ela poderá ajudar-me nos serviços caseiros, sem perder de vista o bebê. Estou mesmo precisando de alguém que me ajude.

A pobre mulher, ante tanta bondade e gentileza, disse à Carla, emocionada:

— Nem sei como lhe agradecer, menina.

Carlinha sorriu e afirmou contente:

— Agradeça a Maria de Nazaré e a seu filho Jesus! 

 

                                                                  Tia Célia  



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita