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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 5 - N° 219 - 24 de Julho de 2011
ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)

 
Karina Granado:

“Falta de respeito e pré-julgamento são os grandes vilões da aceitação social”

A confreira paulista conta como surgiu e funciona o Posto de
 Rua Eurípedes Barsanulfo, que atende a população de
rua na cidade de São Carlos

 

Karina Granado (foto), espírita desde a infância, voluntária da importante tarefa de atender desabrigados que dormem nas ruas, é a nossa entrevistada da semana. Natural de Jundiaí-SP, ela reside em São Carlos-SP, onde atua como advogada e professora universitária. Primeira secretária da Sociedade Espírita Obreiros do Bem, que mantém a mencionada atividade aos domingos, ela nos relata essa experiência, que foi inspirada em ação desenvolvida no Vale do Anhangabaú, na Capital de São Paulo. 

Descreva o trabalho desenvolvido pelo grupo nas manhãs de domingo.
 

O Posto de Rua Eurípedes Barsanulfo é uma atividade voluntária, sem fins lucrativos que existe em São Carlos-SP desde maio de 2002.  O trabalho acontece todos os domingos na praça Paulino Botelho (centro da cidade), a partir das 8 horas e atende entre 50 e 70 pessoas em situação de rua. Entre os voluntários, discutimos por meia hora assuntos relacionados a essa população, trocamos experiências e organizamos as tarefas. Na praça, primeiramente oferecemos um café. Depois, todos se reúnem para uma pequena palestra instrutiva sobre temas relacionados à rotina dessa população: trabalho, família, vícios, higiene, etc. Em seguida, inicia-se o ‘posto de higiene’, onde é possível fazer pequenos curativos, cortar o cabelo, a barba e as unhas, além da doação de roupas, calçados e itens de higiene. Concomitantemente, é servido uma nutritiva sopa e salada de frutas e quando possível – pois dependemos de doações – fazemos um cardápio diferente como macarronada, galinhada etc. O objetivo deste trabalho não é apenas a doação dos materiais acima citados: estes são apenas um meio para que a verdadeira intenção possa ser realizada: a ‘conversa fraterna’, oportunidade de ouvir as demandas de cada indivíduo, formando vínculos de amizade, resgatando a autoestima e mostrando a cada um que a situação de rua é provisória.  


Quando surgiu esse trabalho e qual foi a motivação inicial?

A motivação inicial foi a de perceber que esta população em situação de rua aumentava a olhos vistos diante do cenário brasileiro e não havia um trabalho que a atendesse de maneira direta. O Posto de Rua foi inspirado em um trabalho que era realizado no Vale do Anhangabaú em São Paulo, o qual, após adaptações, foi implementado em São Carlos. 

Quantas pessoas participam e de quantas instituições?

Somos em torno de 15 voluntários fixos e muitos outros que contribuem como podem. O interessante do Posto de Rua é que os voluntários participam de muitas casas espíritas e chegam até aqui com o desejo sincero de ajudar aqueles que não possuem moradia, trabalho, família, saúde, dignidade, respeito. A presença de cada um é especial e muito importante, mas com o tempo percebemos que somos os maiores ajudados, diante de tantos exemplos de vida. 

Qual a experiência mais marcante que ficou do trabalho ao longo dos anos?

Ao trabalhar no Posto de Rua, damos a cada dia mais valor a tudo o que temos: o simples abrir de uma torneira, um cobertor no inverno e o alimento no momento da fome são coisas tão simples mas que, com a correria do dia a dia, acabamos não lhes reconhecendo o valor. Reconhecemos ainda a importância da tolerância, da paciência, da amizade e da caridade.   

Quais os casos mais marcantes?

Temos histórias de homens empregados em metalúrgicas que perderam suas famílias em acidentes automobilísticos e, diante disso, largaram tudo e foram andar pelas ruas. A falta de amigos, familiares ou crença em algo maior às vezes torna insuportável o enfrentamento diante de uma dificuldade. 

Quais as maiores dificuldades?

Na verdade, a maior dificuldade é o preconceito que muitos possuem com relação à população em situação de rua. Neste trabalho vemos homens e mulheres iguais a nós, com medos, dificuldades, vícios e, infelizmente, são só os defeitos que saltam aos olhos. Todas as virtudes, sonhos, sorrisos e qualidades não são percebidos. No Posto de Rua temos esta oportunidade: reconhecer o outro como ser humano e respeitá-lo por ser um irmão, um igual que, momentaneamente, passa por difícil situação. Nossa função é ajudar naquilo que for possível.  

Quais os recursos de que precisam para execução do trabalho?

O trabalho depende exclusivamente de doações. Sempre pedimos roupas, calçados e utensílios de uso masculino e cobertores, porque são os materiais de que mais necessitamos. 

De onde vêm os recursos?

De pessoas sensibilizadas e dispostas a ajudar aqueles que nada possuem.  

Como a cidade reage ou recebe essa atividade que, ao longo dos anos, já deve ser bem conhecida?

Antigamente era mais difícil, mas muitos ainda não se conformam em "perdermos nosso tempo" com essa população. Acham que não vale a pena, pois julgam que são preguiçosos e estão nessa situação porque querem. Não é isso, porém, o que acontece. Desemprego, falta de oportunidade, humilhação social fazem com que "dar a volta por cima" seja muito difícil. A falta de respeito e o pré-julgamento do outro ainda são os grandes vilões da aceitação social. Já houve caso de uma pessoa muito abastada economicamente, mesmo vendo os trabalhadores em dia de chuva correndo para atender a todos os assistidos, parar e perguntar se não tínhamos medo de pegar piolho!... 

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Pedimos a ajuda de todos aqueles que puderem contribuir conosco. Qualquer dúvida, pode entrar em contato pelo e-mail: Karina_granado@yahoo.com.br  
ou divulgacao@obreirosdobem.com.br . Em breve estaremos com um site com maiores informações.  


Nota do autor:
 O Posto de Rua Eurípedes Barsanulfo e outras atividades mantidas pela instituição podem ser conhecidos no site www.obreirosdobem.com.br




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita