Ibraim Filogônio
Neto:
“Todos nós
poderemos ser
espíritas, se
realmente o
quisermos”
|
Ibraim Filogônio
Neto (foto)
nasceu em Belo
Horizonte-MG,
onde reside.
Conheceu o
Espiritismo em
1987 e a partir
daí tornou-se
adepto e hoje
propagador da
doutrina através
de palestras que
realiza em
várias
instituições
espíritas de
Belo Horizonte e
de inúmeras
localidades. É
membro da
Fraternidade
Espírita Irmã
Scheilla,
situada na
capital mineira.
É também músico
e produtor
cultural.
Ibraim conversou
conosco sobre
sua participação
no movimento
espírita e sobre
interpretações
bíblicas, onde
prima por seus
estudos e
palestras. Nesta
entrevista
vários temas
foram abordados
e as respostas
de Ibraim Neto
seguem a
|
linha de uma
exegese
comparada, útil
e inteligente: |
Doutrina
Espírita e a
Bíblia. Em sua
opinião, devemos
apenas ater-nos
aos estudos
doutrinários ou
devemos também
vasculhar
aqueles livros
ditos sagrados?
Quando vemos que
o próprio Allan
Kardec publicou
em 1864 o livro
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo” que
busca trazer a
“explicação
das máximas
morais do Cristo
em concordância
com o
Espiritismo”,
ou seja, fazer
exatamente um “estudo
comparado entre
a Doutrina
Espírita e a
Bíblia”,
fica claro que
as pessoas que
não estão
interessadas em
fazer este
estudo
comparado, na
verdade, não
estão
interessadas num
estudo sério da
Doutrina
Espírita. O
livro “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”
nunca pretendeu
substituir a
Bíblia Sagrada,
mas sim trazer
explicações
sobre as
“máximas morais
do Cristo”, por
serem estas
máximas, segundo
as conclusões de
Kardec, o ponto
em comum entre
as diversas
doutrinas
cristãs. O livro
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo” é
uma atitude
ecumênica de
Allan Kardec
buscando agregar
todos os
cristãos dos
diversos credos
e não uma
tentativa de
substituir a
Bíblia Sagrada.
Qual o mecanismo
que melhor nos
capacita a
enriquecer os
valores
doutrinários a
partir dos
estudos
bíblicos?
Você deve buscar
adquirir uma
biblioteca
básica de
estudos que
tenha, pelo
menos: O “Vade
Mecum Espírita”
de Luiz P.
Guimarães,
Edição FAE; mais
de uma Bíblia
Sagrada, a
saber: Bíblia
Sagrada com
concordância da
Editora Vida;
Bíblia de
Jerusalém,
Paulus; Um bom
dicionário
bíblico (por
exemplo, o
“Dicionário
Ilustrado da
Bíblia” da
Editora Vida
Nova); O
Evangelho
segundo o
Espiritismo;
bons livros
espíritas que
estudam os
Evangelhos:
Parábolas e
ensinos de
Jesus, Cairbar
Schutel;
Elucidações
Evangélicas,
Antônio Luiz
Sayão; entre
outros. Ler
diariamente um
pouco. A questão
625 de “O Livro
dos Espíritos”
aponta Jesus
como “o tipo
mais perfeito
que Deus tem
oferecido ao ser
humano, para lhe
servir de guia e
modelo”.
Partindo desta
informação, nada
mais natural do
que buscarmos
nos diversos
livros da Bíblia
Sagrada os
textos que
tratam da
doutrina e da
história do
nosso amado
Mestre Jesus,
deixando claro
que a base moral
da Doutrina
Espírita tem
como fonte os
livros da Bíblia
Sagrada. Por
isso, estudar o
Espiritismo
seriamente prevê
um estudo
aprofundado dos
livros da Bíblia
Sagrada, em
especial, dos 27
livros que
compõem o Novo
Testamento.
Moisés – Jesus –
Kardec. Onde os
elos se
encontram?
Moisés, segundo
a
espiritualidade
superior, é a
primeira
revelação, à
humanidade da
Terra, da
existência de um
Deus único. Ele
nos fala da
vinda de Jesus,
o enviado de
Deus ou o
Messias, no
livro
Deuteronômio
18:18. Jesus,
explicando-nos
que “não
poderia nos
dizer todas as
coisas
naquele tempo”
(João 16:12 e
25), nos promete
a vinda do outro
Consolador, o
Espírito da
Verdade, que,
segundo Jesus em
João 14:26, “vos
ensinará todas
as coisas e vos
fará lembrar de
tudo o que vos
tenho dito”.
Allan Kardec,
quando estava na
casa do Sr.
Baudin em
25/03/1856
(Livro “Obras
Póstumas”, FEB,
21ª edição,
página 273 –
“Meu Guia
Espiritual”), ao
perguntar o nome
de seu guia
espiritual, este
se intitula “A
Verdade”.
Posteriormente,
este mesmo
Espírito irá
escrever o
prefácio do
livro “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo” e
dará 4 mensagens
que se encontram
transcritas
nesse mesmo
livro, na parte
“Instrução dos
Espíritos” do
capítulo 6, “O
Cristo
Consolador”.
Em sua opinião
há uma
identidade
conhecida para
aquele que
assina como “O
Espírito da
Verdade”
conforme o
prefácio de “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”?
Naquela data
acima citada,
Kardec pergunta
ao Espírito
“Verdade”: “Terás
animado na Terra
alguma
personagem
conhecida?”,
o Espírito só
responde: “Já
te disse que,
para ti, sou A
Verdade; isto
significa
discrição; nada
mais saberá a
respeito”.
Podemos ler em
João 14:17,
Jesus afirmar
sobre o Espírito
da Verdade “que
o mundo não pode
receber, porque
não o vê nem o
conhece”.
Assim sendo,
pouco sabemos
sobre a
identidade desse
Espírito que, ao
que nos é dado
saber, foi o
coordenador de
todo o trabalho
de Allan Kardec
no plano
espiritual para
a fundação da
Doutrina
Espírita. Mas é
razoável se
pensar que Deus
não tem nem
grupos nem povos
eleitos e que o
“Espírito da
Verdade” está
fazendo o seu
trabalho não
apenas para os
espíritas, mas
como em todas as
religiões do
mundo que levem
o ser humano a
Deus e à prática
do bem de
todos.
Qual a questão
de “O Livro dos
Espíritos” que
mais toca sua
sensibilidade e
por quê?
São duas, as
questões 625 e
642. Na 625,
porque aponta o
nosso modelo e,
na 642, porque
nos instrui
sobre o que Deus
espera de nós.
Sabemos que
Jesus é o
construtor – ou
coconstrutor –
do nosso
planeta. O que
mais instiga
nesta situação é
como Ele chegou
até o ponto de
tamanha
condição. Pode
nos dizer algo a
respeito?
Entre o Big Bang
ocorrido há 13
bilhões de anos
atrás (a grande
explosão que
gerou todas as
galáxias do
Universo) e a
saída do planeta
Terra do nosso
Sol, ocorrida há
4,5 bilhões de
anos, há um
espaço de tempo
de 8,5 bilhões
de anos. Neste
período é que se
deu a evolução
espiritual de
Jesus. Jesus é
um Espírito
muito antigo que
já alcançou um
altíssimo grau
de evolução
espiritual que o
permitiu
coordenar a
gênese do
planeta Terra
como um
cocriador do
Universo (João
1:1 e
seguintes),
assim como
também ser o
tutor da
humanidade que
evolui neste
planeta. Leia o
livro espírita
“A Caminho da
Luz”, que
Emmanuel
escreveu através
de Chico Xavier,
no capítulo 1,
intitulado “A
gênese
planetária” e
terá uma boa
visão do
trabalho de
Cristo na
construção
geológica do
planeta Terra.
Kardec é figura
maiúscula na
história da
humanidade. A
partir de qual
fundamento esta
frase está
correta?
Sem sombra de
dúvidas que o
grande mestre
Allan Kardec fez
um trabalho
inestimável pela
humanidade
cumprindo com
grande sucesso,
brilhantismo e
dedicação a
missão que teve
naquela profícua
reencarnação,
organizando
todas as
comunicações dos
Espíritos e
compilando-as em
livros que são a
base da Doutrina
Espírita,
doutrina que tem
como objetivo
nos fazer
entender melhor
os ensinos de
Jesus e dos
Espíritos
superiores.
Porém, quando
olhamos uma
pintura de muito
perto, poderemos
perder muitos
detalhes da
beleza do
quadro. É sempre
mais
interessante
observarmos a
obra quando
afastamos alguns
passos atrás e
conseguimos uma
melhor visão do
todo. Vendo a
obra deste
ponto, o grande
Allan Kardec
representa uma
das maravilhosas
pinceladas do
quadro da
evolução
espiritual da
humanidade do
planeta Terra,
quadro este que
é pintado, na
verdade, por
Jesus. Este
quadro é bem
maior do que o
Espiritismo e do
que a obra de
Allan Kardec.
Trata-se de um
projeto de
proporções
grandiosas, no
qual muitas mãos
já trabalharam e
outras ainda
trabalham sob o
amoroso comando
do Mestre Jesus.
Allan Kardec é
um dos
grandiosos
colaboradores do
projeto de Jesus
no planeta
Terra.
Instinto e
Inteligência.
Qual a melhor
conclusão que se
pode tirar
destes estudos?
Quando somos
criados por
Deus, somos o
que os Espíritos
superiores
chamam de
“princípio
inteligente”.
Para evoluirmos,
passamos pelos
reinos
inferiores da
natureza até
chegarmos ao
reino humano
(leia a resposta
à questão 540 de
“O Livro dos
Espíritos”).
Quando o
“princípio
inteligente”
está estagiando
no reino animal,
trabalha o
desenvolvimento
de seu instinto,
que é um tipo de
inteligência
limitada
(Questão 593 de
“O Livro dos
Espíritos”).
Quando o
“princípio
inteligente”
chega à condição
humana, não
perde o seu
instinto, mas
passa a
trabalhar o
desenvolvimento
da “razão”
através da
aquisição de
conhecimentos e
sentimentos.
Assim desenvolve
a sua
inteligência,
que é o grande
instrumento que
passa a utilizar
para evoluir
espiritualmente.
Dan Brown estava
certo quando
escreveu em “O
Código da Vinci”
que Jesus e
Madalena se
consorciaram?
“O Código Da
Vinci” é um
romance policial
e deve ser lido
como tal. O seu
escritor estará
certo ao
escrever o que
queira em seu
romance,
especialmente
porque este
tem como
objetivo o seu
sucesso
comercial e não
tem nenhum
compromisso com
a verdade.
Porém chega a
ser ridículo
para Dan Brown
expor a toda a
comunidade
literária
internacional o
seu profundo
desconhecimento
sobre a natureza
espiritual de
Jesus Cristo,
assim como
demonstra
desconhecimento
sobre a
grandiosidade de
sua missão, que
está muito acima
da digna missão
de um pai de
família. Este
livro - “O
Código Da Vinci”
- conseguiu
deter a
colocação de 11º
livro mais
vendido no mundo
e acabou virando
filme com
sucesso de
bilheteria. Este
livro agitou
tanto o
interesse humano
por um simples
motivo: Sempre
na história da
humanidade nós
tentamos colocar
nos deuses, ou
em seus
enviados,
características
das paixões
humanas,
rebaixando-os a
condições de
igualdade
conosco, apenas
para não termos
a obrigação de
nos elevarmos à
condição deles.
É dado ao médium
o direito de
refutar sua
tarefa dentro do
exercício da sua
mediunidade?
Claro. Deus nos
concede este
direito, usar o
livre-arbítrio,
e nos permite
fazer o uso que
quisermos de
todas as nossas
faculdades,
sabendo, porém,
que seremos
responsáveis por
“todo o mal que
haja resultado
de não haver
praticado o bem”
que poderíamos
fazer. (questão
642 de “O Livro
dos Espíritos”).
Porém, assim
como na parábola
dos talentos
(Mateus 25:14)
haverá aqueles
que
multiplicarão os
talentos
recebidos,
haverá também os
que enterrarão
os seus
talentos, ou
seja, as suas
possibilidades,
as suas
potencialidades,
as suas
qualidades e
características.
E “Deus
recompensará a
cada um segundo
as suas obras”
(Romanos 2:6).
Há centros
espíritas que
não admitem a
execução de
qualquer tipo de
manifestação
artística em
suas
dependências.
Você concorda?
Por quê?
Há centros que
fazem um
trabalho muito
bonito, parecido
com a Doutrina
Espírita, mas
que não pode ser
chamado de
Doutrina
Espírita. Não
permitir as
manifestações
artísticas
dentro da casa
espírita é
demonstrar nunca
ter lido a
questão 251 de
“O Livro dos
Espíritos” onde
aprendemos que “a
música celeste é
tudo o de mais
belo e delicado
que a imaginação
espiritual pode
conceber”. É
demonstrar
também não
conhecer a obra
“O Espiritismo
na Arte”, de
Léon Denis, que
explica no
capítulo 1º que
“O objetivo
essencial da
arte, já
dissemos, é a
busca e a
realização da
beleza; é, ao
mesmo tempo, a
busca de Deus,
uma vez que Deus
é a fonte
primeira e a
realização
perfeita da
beleza física e
moral”. Fico
imaginando como
os dirigentes de
tais casas que
não permitem a
música em suas
dependências
leriam na Bíblia
Sagrada, em
Mateus 26:30,
sobre o último
ato da missão de
Jesus com os
seus apóstolos
na última ceia:
“E, tendo
cantado um hino,
saíram para o
monte das
oliveiras”.
Como o espírita
deve se portar
diante das
profundas
informações que
a Doutrina
Espírita nos
oferece?
Deve usar o seu
livre-arbítrio.
Se realmente
busca uma
reforma íntima
de
comportamentos,
deve buscar pôr
em prática todas
as boas
informações que
obtém numa
vivência
consistente da
caridade. Se
busca apenas
obter
conhecimentos e
não pretende
colocá-los em
prática, deve
compreender que
a sua
responsabilidade
cresce a cada
conhecimento não
praticado.
Vemos espíritas
que dizem ser
muito difícil
ser espírita. É
sensata esta
afirmativa?
É sensata esta
afirmativa e é o
mesmo que dizer
que é difícil
ser um médico,
ser uma dona de
casa, ser uma
advogada, ser um
atleta, ser uma
bailarina, ser
um escritor, ser
um católico, um
evangélico etc.
Pensamos que
tudo que demanda
esforço e
disciplina para
se conseguir,
pode-se dizer
que é difícil.
Mas pensamos
também que se há
alguém que
conseguiu,
significa que
cada um de nós
também pode
conseguir, haja
vista que Deus
nunca dotaria a
alguns com a
capacidade de se
tornarem
espíritas e a
outros não,
porque isto
seria uma
injustiça,
incompatível com
Deus. Todos nós
poderemos ser
espíritas, se
realmente o
quisermos. Porém
há pessoas que
sentem que os
obstáculos são
muito grandes
para elas,
talvez porque a
sua força de
vontade ainda
seja pequena
demais para
transpô-los.
Em síntese, que
cartilha a
seguir para ser
um bom espírita?
Leiam em ordem e
pratiquem:
Mateus 25:35 a
40; Mateus 6:3;
1 Coríntios 13:1
a 13; Questão
642 de “O Livro
dos Espíritos” e
Mateus 5:19.
Suas
considerações
finais.
Agradecemos a
alegria do
contato com
nossos confrades
espíritas
leitores da
revista “O
Consolador”.
Esperamos estar
sempre juntos
para estudarmos
os profundos
ensinamentos do
nosso amado
Mestre Jesus e
aplicá-los
verdadeiramente
em nossa vida.