As obras
psicográficas de
André Luiz e,
principalmente,
as assinadas por
Emmanuel têm
sido
recriminadas por
alguns segmentos
do Movimento
Espírita.
Qual
a sua
opinião sobre
esse
comportamento?
Temos que
respeitar essas
tendências,
assim como a
diversidade de
opinião, mas eu
particularmente
admiro
profundamente os
dois autores
espirituais.
Considero o
Espírito
Emmanuel o maior
comentador do
Novo Testamento.
São nove livros
publicados
especificamente
comentando os
versículos do
Novo Testamento,
cinco deles pela
FEB. É um
aprofundamento à
luz do
Espiritismo que
está disponível
na Editora da
FEB.
Os romances
históricos dele
também recuperam
fatos, tendo
sempre como pano
de fundo o
Cristianismo, e
estão sendo
pesquisados hoje
por alguns
companheiros
nossos. Algumas
informações
históricas
divulgadas foram
confirmadas,
datas e fatos,
por exemplo. Na
obra Paulo e
Estêvão e no
livro Renúncia,
temos casos de
uma pessoa que
vem fazendo
pesquisa
exaustiva,
comprovando que
determinadas
descrições que
Emmanuel faz de
Paris no séc.
XVII e no séc.
XVIII conferem
com os registros
da época. Como é
que Chico
Xavier, uma
pessoa que
cursou apenas o
antigo grupo
escolar, morando
numa cidade do
interior, na
década de 30 e
década de 40,
que não tinha
acesso a
comunicação
nenhuma, saberia
disso? Emmanuel
nos presenteou
com uma
literatura
monumental.
Sobre André
Luiz, ele não só
detalha a
relação entre
mundo corpóreo e
incorpóreo nas
suas dimensões,
como desde o
livro Nosso Lar
traz informações
que são
antecessoras de
eventos
científicos e de
várias
inovações. Na
literatura de
André Luiz
encontramos não
só o melhor
entendimento da
relação do
psiquismo humano
com o espírito
imortal, e hoje
a medicina vem
estudando sobre
isso, mas
encontramos
também a
antecipação de
inovações
científicas e
tecnológicas,
com vários
aparelhos e
equipamentos que
começaram a ser
desenvolvidos a
partir dos anos
50. Nós
admiramos
profundamente a
obra de André
Luiz e a obra de
Emmanuel, e
conseguimos
estabelecer uma
vinculação clara
com a obra de
Kardec, e isso é
o mais
importante.
Considerando a
disseminação do
Evangelho com as
fundações de
“igrejas”,
visitas e,
sobretudo,
intercâmbios
epistolares de
Paulo de Tarso
com os “chefes”
dos núcleos
cristãos,
pode-se
identificar, nos
primórdios do
Cristianismo, um
movimento
organizado para
a unificação dos
postulados da
Segunda
Revelação?
Nós
identificamos
claramente, nos
primeiros
cristãos, um
trabalho que nos
serve de
inspiração e que
estamos
estimulando
presentemente.
Guardadas as
devidas
proporções,
acreditamos que
haja semelhança
entre o trabalho
dos cristãos
primitivos e o
Espiritismo. A
rigor, a
Codificação
Espírita tem
pouco mais de
cento e
cinquenta anos e
isso é um
período de tempo
muito curto. A
Doutrina se
apresenta como
Cristianismo
Redivivo e o
Consolador
Prometido, que
restabeleceria a
Verdade e
ensinaria
algumas coisas a
mais. Dessa
forma,
percebemos que
os trabalhos
pioneiros dos
cristãos nos
servem de
estímulos, sim!
Quando Paulo de
Tarso reunia os
interessados do
Cristianismo
para o estudo da
mensagem de
Jesus,
considerando as
condições da
época, fazia
visitas,
estimulava o
intercâmbio,
levava
orientação e
praticava
trabalhos
mediúnicos.
Observemos que
na Carta aos
Coríntios consta
a necessidade de
“ordem no
culto”. Quando
olhamos as
necessidades
dessa “ordem”,
claramente é
como se fosse
orientação para
prática
mediúnica, certa
disciplina. Ao
final do
trabalho, quando
percebeu que não
teria mais
condições de
visitar a todos,
Paulo foi
inspirado pelo
Espírito Estêvão
para minutar as
epístolas, ou
seja, estimulou
o contato
próximo, direto;
todavia também a
distância.
Identificamos aí
a origem, vamos
assim dizer,
daquilo que hoje
nós praticamos
na imprensa
espírita.
Essa era a razão
predominante, o
objetivo dele em
ajudar, apoiar e
orientar os
primeiros
agrupamentos
cristãos,
inclusive para a
prática da
caridade no
verdadeiro
sentido da
palavra.
Recordemos que
existia entre
eles muita
solidariedade –
dessa forma
encontramos
entre os
primeiros
cristãos as
bases que
inspiram o
Movimento
Espírita atual,
com um detalhe
fundamental:
naquela época
não existia
hierarquia, não
existia uma
organização que
preponderasse
sobre outra;
isso surgiu
muito mais
tardiamente, daí
ser importante
olharmos a
vivência dos
primeiros
cristãos e
verificarmos
aquilo que
aproveitamos
como parte de
reflexão e de
orientação para
o Movimento
Espírita atual.
Allan Kardec
comenta no item
334, cap. XXIX,
d´O Livro dos
Médiuns, que
a formação do
núcleo da grande
família espírita
um dia
consorciaria
todas as
opiniões e
uniria os homens
por um único
sentimento: o da
fraternidade.
Estaria aqui o
Codificador
formulando
alguma
programação
doutrinária
visando à unidade
dos espíritas
por intermédio
de instituições
colegiadas?
Allan Kardec
trabalhou
exatamente a
ideia colegiada,
e fala da
fundamentação,
do vínculo da
fraternidade.
Mas percebemos,
igualmente, em
“Obras
Póstumas”, que
ele nos orienta
sobre o
funcionamento
das
instituições.
Anota sobre uma
comissão não
centralizada
numa única
pessoa e essa
experiência que
nos sugere foi
uma ideia que
serviu de
referência para
a atualidade.
Notemos que a
noção de
presidencialismo,
não só na
questão
político-partidária,
como ocorre no
Brasil, mas
igualmente nas
instituições
espíritas, é um
presidencialismo
que às vezes
excede o
conceito do
termo
presidencialismo
em si; muitas
vezes chega a se
confundir com o
autoritarismo.
Allan Kardec
chega a propor
que as decisões
institucionais
sejam
colegiadas; que
se discuta, que
se troquem
ideias, e nós
estamos
vivenciando essa
experiência aqui
na FEB. Desde
que assumimos
primeiramente de
forma interina
em maio de 2012,
e atualmente
eleito,
trabalhamos em
conjunto com
todos os
diretores da FEB,
fazendo reuniões
com
periodicidade
muito curta e
tratamos todos
os assuntos e
decidimos em
nível de
diretoria.
Entendo que é
uma experiência
enriquecedora,
facilita a
tomada de
decisões e
evita, às vezes,
determinadas
tendências
pessoais.
Os princípios
institucionalizados
da Unificação
inibem o ideário
da união
espontânea entre
os espíritas?
A rigor, não. Em
1949 foi
definido através
do Pacto Áureo
um itinerário de
ação, dando
origem ao CFN –
Conselho
Federativo
Nacional, que é
composto pelas
entidades
federativas
estaduais com
base na obra de
Allan Kardec.
Hoje em dia,
dentro do
contexto da
ideia de união e
de unificação,
podemos
perfeitamente
estabelecer
propostas de
união e de
parceria entre
várias
instituições,
somando
esforços, e
portanto não há
necessidade,
desde que haja
propósitos
comuns, de
ficarmos na
dependência de
conceitos
antigos de
controles. Essa
é a ideia.
O Pacto Áureo
ainda pode ser
avaliado como o
grande marco da
Unificação?
Pode ser
considerado,
sim, pois ele é
genérico. Ele
define a obra de
Allan Kardec e
decide também
com base na obra
“Brasil Coração
do Mundo Pátria
do Evangelho”.
Os membros do
Pacto chegaram à
conclusão que
esse livro
mostrava qual
seria a missão
do Espiritismo
no Brasil e qual
a missão
espiritual do
Brasil também. É
esse o roteiro
que ele oferece.
O Pacto não
entra em
detalhamentos,
mas fala da
União e criou o
Conselho
Federativo
Nacional. Para o
CFN funcionar
ele foi
primeiramente
introduzido no
Estatuto da FEB.
Com a instalação
do CFN, a área
federativa da
FEB é
corporificada
com a ação do
CFN – é
importante que
saibamos disso.
Então o CFN é
que traz a
orientação geral
e define planos
para o Movimento
Espírita
Nacional. Esse
Conselho é
presidido pelo
presidente da
FEB, mas é
integrado pelas
representações
dos 27 estados.
Quais os grandes
desafios vistos
para o Movimento
Espírita
Brasileiro?
Nós estamos
vivendo vários
desafios. A
ideia de
difundirmos o
Espiritismo, na
sua pureza, é um
grande desafio,
pois, como ficou
claro, de várias
orientações de
Allan Kardec,
sempre haveria
alguma tendência
natural de se
valorizar
pessoas, de se
personalizar, e
com isso, o que
nós assistimos
atualmente é que
há uma diferença
entre a proposta
de Kardec e
algumas
práticas. Por
exemplo, na
apresentação de
O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Allan Kardec
explica que
optou por não
colocar o nome
dos médiuns
junto às
mensagens e
apenas colocou o
nome dos
Espíritos, a
cidade e a data.
Para Kardec era
mais importante
o conteúdo das
mensagens do que
o nome do
médium.
Infelizmente,
notamos que hoje
em dia muitas
pessoas, antes
de ler o texto,
querem saber
primeiro quem é
o médium, ou
seja, inverte-se
a situação.
Urge buscar-se
mais a coerência
doutrinária e
maior
compatibilidade
com a base da
Codificação ao
invés de
ficarmos
exaltando ou
levantando
fileiras em
torno de médiuns
A, B, C ou D, ou
seja, temos que
somar,
independente de
quem seja o
médium, desde
que a mensagem
tenha coerência
e esteja
fundamentada nas
obras de Kardec;
esse é o grande
desafio.
O modelo
federativo foi
idealizado por
mentes
superiores, não
temos dúvidas. O
crescimento do
Espiritismo gera
distorções e
perda na
qualidade da
mensagem e da
prática espírita
– é fato –
fenômeno
sociologicamente
explicável. Boa
parte dos
dirigentes de
casas espíritas
nem sempre
valorizam as
ações dos órgãos
de Unificação,
atribuindo-lhes
caráter
meramente
administrativo,
burocrático, com
pouco sentido
prático.
Considerando a
sua larga
experiência
doutrinária,
seja como
fundador de
mocidade
espírita,
conselheiro e
presidente da
União Municipal
Espírita de
Araçatuba,
membro fundador
de centro
espírita,
diretor e
presidente da
USE (União das
Sociedades
Espíritas do
Estado de São
Paulo) e, por
fim, presidente
da Federação
Espírita
Brasileira,
quais as ações
que pretende
desenvolver para
aproximar a FEB
das casas
Espíritas?
Reportarei a
minha primeira
experiência.
Quando era muito
jovem, assumi a
presidência da
União Municipal
Espírita de
Araçatuba –
órgão da USE -
São Paulo.
Naquele momento
batalhei contra
essas
dificuldades,
porque o
Movimento de
Unificação era
recente, tinha
apenas 20 anos
(pós Pacto
Áureo). Nessas
condições, havia
uma certa
confusão entre
as lideranças
espíritas,
sobretudo de
qual seria a
função do órgão
unificador.
Alguns tinham
receio de que
seria um órgão
controlador ou
fiscalizador.
Por outro lado,
havia muitas
pessoas (jovens)
no Movimento de
Unificação, que
pensavam também
assim, e
ocorriam muitos
conflitos. As
reuniões eram
simplesmente
administrativas,
então quando
assumimos a
presidência da
UMEA, dentro
desse contexto,
tornamos as
reuniões
minimamente
administrativas
e
preponderantemente
voltadas para
diálogos, para
as propostas de
ação, juntando
esforços, de tal
modo que
conseguimos
descentralizar,
fazendo as
reuniões em
rodízios pelos
centros
espíritas da
cidade.
Aproveitamos
experiências
para que elas se
tornassem
coletivas.
Essa a ideia
que, guardadas
as devidas
dimensões, ainda
seguimos, embora
atualmente
exista uma
abrangência
gigantesca e um
grau de
complexidade
muito maior, mas
mantivemos essa
postura para
tornar mais
dinâmicas as
reuniões do CFN.
Vejamos:
conseguimos
suprimir a
leitura de
relatórios, e
hoje as
federativas
encaminham um
relatório por
meio de um
formulário
eletrônico –
transferimos
para um DVD e
distribuímos;
desse modo
utilizamos o
espaço da
reunião para
discutir planos
de ação e,
assim,
avaliarmos
situações que
merecem
discussão para o
desenvolvimento espírita.
Entendemos que
esse seja o
melhor caminho.
Considerando que
as sandálias de
nosso Mestre
Jesus sempre
estiveram
próximas aos
necessitados e
sofridos, e
especialmente
junto a esses
irmãos em
humanidade foi
que Ele nos
ofereceu provas
de amor
insuperáveis, e
considerando que
sobre a FEB
repousam muitas
esperanças, mas
também
expectativas,
como atuará para
se aproximar dos
pobres e pouco
instruídos na
educação formal,
dado que
representam
significativo
estrato da
sociedade
brasileira?
Essa é uma
preocupação para
a qual estamos
procurando
colocar a
solução em
prática. Há três
anos
consubstanciamos
um projeto que
se titulava
“interiorização”,
ou seja,
estimulávamos a
ação de
representantes,
diretores e
colaboradores da
FEB juntamente
com uma
federativa
estadual para ir
ao interior, não
ficarmos só nas
capitais. Assim,
tive o prazer de
conhecer duas
cidades do
interior do
Amazonas, uma
delas viajando
de barco durante
duas horas,
justamente para
ter o contato
com a realidade
da base. Um
desses centros
que visitamos
não possuía luz
elétrica. A
nossa
participação à
noite foi
através do
clarão de uma
fogueira, porque
para eles era
uma ocasião
especial, pois
normalmente
usavam a luz de
velas.
Após essa
experiência
(interiorização),
começamos outros
projetos que
seriam
implementados,
que são as ações
integradas de
acolhimento,
consolo,
esclarecimento e
orientação no
centro espírita,
porquanto
concluímos
também que
aquela ideia de
departamento ou
setor, ou seja,
muita
burocracia, não
seria efetiva,
até porque a
grande maioria
dos centros
espíritas do
Brasil são casas
simples e
pequenas, não
tendo espaço nem
condições para
tais trâmites.
Assim, começamos
a trabalhar em
torno de um
projeto, uma
ação, um
acolhimento
junto a essas
pessoas simples,
além da ideia de
valorizar os
centros
humildes,
periféricos,
pequenos, que às
vezes não têm
condições de
manter os
custos, mas
podem
perfeitamente
seguir esses
passos de
acolhimento,
consolo e
orientação.
Nós estamos
caminhando nesse
sentido e aí me
recordo de um
companheiro
nosso que foi
muito feliz na
confecção de um
cartaz com a
imagem da
formiguinha. Ele
fez a comparação
com a formiga e
que nos remete a
uma mensagem de
Fénelon, no cap.
I d´O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
em que o
Espírito
examina: “não
são esses
animálculos
(formigas) que
conseguem
levantar o
solo?” É a ideia
do trabalho
simples, mas
persistente e em
conjunto, isso
que pretendemos
disseminar.
Suas palavras
finais.
As nossas
palavras finais
são de sugestão
aos espíritas
para que
aproveitemos o
momento que nós
estamos vivendo,
que é o período,
segundo
Emmanuel, de
aferição de
valores, e é um
momento bastante
delicado e
sensível, porque
nós temos os
compromissos
individuais e
compromissos
coletivos, e,
com relação ao
Movimento
Espírita, é
muito importante
lembrar o nosso
trabalho
respaldado no
propósito de
união, de
concórdia e de
benevolência
recíproca. Então
é isso que deve
animar a nossa
atuação conjunta
no Movimento
Espírita e no
relacionamento
com a própria
sociedade.