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Ano 7 - N° 348 - 2 de Fevereiro de 2014

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 
 

Anselmo Ferreira Vasconcelos

Jesus Cristo: examinando elementos de uma liderança perfeita
 

(Parte 2 e final)


 
Amor altruístico. 
Qualidade que engloba o perdão, gentileza, integridade, empatia/com-paixão, honestidade, paciência, coragem, confiança/lealdade e humildade.


Esperança/fé. 
Resistência e perseverança diante das tribulações; fazer o que é necessário (submeter-se às provações do caminho, carregar a própria cruz e, enfim, aceitar as experiências purificadoras); esticar as metas (ter o “coração puro” como Jesus recomendou, só pode ser conseguido mediante ingentes esforços); e expectativa de recompensa/vitória (total integração ao reino de Deus).14


Em síntese, a análise empreendida até aqui permite inferir que os postulados cristãos e o papel desempenhado por Jesus Cristo se encaixam perfeitamente num quadro mais amplo de teoria da liderança espiritual. Com efeito, nas evidências colhidas encontramos vários indícios de que Jesus Cristo empregou largamente elementos dessa escola em sua missão redentora. Tal conclusão, entretanto, não invalida a presença no seu papel de líder de aspectos ligados a outras vertentes teóricas. Referimo-nos aqui particularmente à escola da liderança autêntica - uma das mais estudadas na atualidade.

 

A “persuasão racional” é inerente ao Evangelho – Pesquisadores dedicados ao tema descrevem o líder dotado de tal perfil como um indivíduo confiante, esperançoso, otimista, resiliente, transparente, moral/ético e orientado ao futuro. Além dessas características, os líderes autênticos possuem a sensibilidade de dar prioridade ao desenvolvimento dos seus associados (apóstolos e seguidores). Ser verdadeiro é visto como outra das suas peculiaridades e o seu comportamento positivo/construtivo observável em constantes oportunidades leva à transformação ou desenvolvimento dos seus seguidores também como líderes. Essa escola advoga igualmente que o líder autêntico não tenta coagir ou mesmo racionalmente persuadir os seus companheiros(as). Ou seja, os seus valores, crenças e comportamentos configuram um modelo de desenvolvimento geral.15


Posto isto, é claramente perceptível a presença de vários elementos dessa modalidade de liderança na personalidade e no comportamento de Jesus. É notório também que alguns deles chegam a se sobrepor à escola da liderança espiritual. No entanto, cabe frisar que a “persuasão racional” é inerente à mensagem do Evangelho. Considerando esse ângulo, lá encontramos diretrizes e recomendações precisas quanto ao proceder que enfraquecem sobremaneira tal proposição. Para ilustrar, os trechos evangélicos abaixo citados reforçam o nosso argumento - ou seja:


[...] Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mateus, 22: 37).


“Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”
 (Mateus, 5: 48).


Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João, 14: 6).


[...] Tende fé em Deus” (Marcos, 11: 22).


“Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente” 
(João, 20: 27).

 

Jesus foi exímio líder transformador – Excetuando-se, portanto, o elemento acima destacado, há convincentes sinais de que a liderança autêntica se aplica perfeitamente a Jesus e ao seu messianato. Analogamente, a nossa análise engloba a perspectiva derivada da liderança transformacional.  Afinal de contas, líderes vinculados a essa escola geralmente possuem enorme habilidade de comunicar uma visão para a organização (cristianismo).16 Além disso, eles normalmente carregam enorme carisma, propagam uma visão arrebatadora e intelectualmente estimulante, oferecem atenção e consideração individual, assim como promovem uma cultura comum onde não há privilégios especiais ou tratamentos diferenciados.17


Vale acrescentar que há autores que acreditam que todo líder transformacional é de igual maneira um líder espiritual.18 Desse modo, não há como deixar de atribuir a Jesus a qualidade de exímio líder transformador, especialmente se considerarmos o seu papel de educador celestial ou psicoterapeuta na compreensão e divulgação da segunda revelação. Como exemplos de tal capacidade contidos no Evangelho podem-se destacar:


Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João, 6: 38)


“Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe” 
(Marcos, 3: 35)


“Eu sou  a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”  
(João: 8: 12).


Podemos ainda encontrar em alguns atos dos apóstolos inequívocos subprodutos dessa poderosa intervenção transformadora tais como:


“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” 
(1 Tessalonicenses 5: 18).


“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” 
(1 João, 5: 14)

 

A lei de permuta também se aplica às forças divinas – De maneira similar, podem-se identificar elementos de outras escolas de liderança menos pomposas na conduta de Jesus. É o caso daquela linha que comporta uma relação de troca entre líder e liderado (LMX)19. Essa teoria basicamente pressupõe que uma espécie de barganha medeia a relação entre ambos. De fato, encontramos a aceitação de tal proposição nos comentários do Espírito Emmanuel quando ele afirma categoricamente o seguinte:


“Não somente os homens vivem na lei de permuta. As forças divinas baseiam a movimentação do bem no mesmo princípio”.20


Nesse sentido, Jesus frisou com clareza meridiana como se dá essa troca ao afirmar: “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras”  (Matheus 16: 27).

Paulo de Tarso entendeu perfeitamente a referida lição, pois chegou a proferir:
O qual recompensará cada um segundo as suas obras ...” (Romanos 2: 6).


Outra escola de liderança intensamente examinada pela pesquisa é a servidora (servant leadership). Como o próprio nome sugere trata-se de indivíduos que têm um claro entendimento de que os outros (semelhantes) são a sua prioridade de vida. Vemo-los inseridos nas sociedades humanas orientando as pessoas com profundo carinho e atenção, aperfeiçoando processos, mas, acima de tudo, realizando tarefas notáveis a serviço dos mais necessitados. Entendemos que na área de ajuda humanitária há muitos líderes servidores desconhecidos.


A pesquisa revela que líderes servidores geralmente incorporam sete pronunciadas características, a saber: são servidores antes de qualquer outra consideração; consonante com as proposições de outras escolas, eles aqui também são vistos como articuladores competentes de metas (visão); pela sua conduta inspiram confiança; são excelentes na habilidade de ouvir; são mestres no prover feedback positivo; conseguem antever o porvir (intuitivos por natureza); e propositores do desenvolvimento pessoal.21

 

Jesus pode ser considerado uma criatura ímpar – Ademais, os líderes servidores empoderam as pessoas/parceiros, exibem humildade, são absolutamente autênticos, aceitam as pessoas pelo que elas são, fornecem-lhes uma direção e são guardiões que trabalham intensamente pelo bem do todo.22 Posto isto, pode-se afirmar que há abundância de aspectos de uma liderança servidora na conduta de Jesus. Na verdade, a literatura espírita traz inúmeros exemplos da sua incomensurável paciência em ouvir e orientar os seus seguidores. As suas palavras, a propósito, sempre forneciam diretrizes seguras e advertências adequadas para que o discípulo pudesse ser bem-sucedido. Além disso, o mestre guiou e continua guiando a humanidade por meio da sua mensagem alentadora. A sua visão abarca possibilidades inimagináveis para nós. Nesse sentido, a simples e oportuna lembrança do envio do Consolador Prometido não deixa dúvidas a respeito.


Nesse rápido exame, por fim, identificamos que Jesus Cristo conseguiu o feito extraordinário de reunir os moldes de várias escolas de liderança. Por conseguinte, ele pode ser considerado como uma criatura ímpar não apenas pelos seus feitos e legados luminosos, mas também por ter sabido mostrar uma capacidade de liderança incomum o que comprova a sua perfeição nessa dimensão igualmente. Obviamente, há outras escolas que não foram examinadas no presente ensaio - como a transcendental, por exemplo - porque estão ainda em fase embrionária de desenvolvimento teórico. Cabe ressaltar ainda que, embora às vezes parecidas, as escolas de liderança escrutinizadas têm sido desenvolvidas através de dezenas de estudos internacionais sistemáticos ao longo dos anos. As rigorosas medidas psicométricas às quais esses estudos foram submetidos dão confiabilidade e validade às suas conclusões e descobertas. No entanto, independentemente da abordagem perseguida, Jesus emerge sempre como um líder imaculado propagando a verdade divina, a sabedoria celestial e nos fornecendo lições, ensinamentos e exemplos que certamente lembraremos para todo o sempre.

 

 

Bibliografia:

 

1. KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Versão Digital. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 212, questão 625.


2. FRANCO, D.P. (Pelo Espírito Joanna de Ângelis). Ilumina-te. Catanduvas: Intervidas, 2013, p. 89.


3. FRY, L.W.; VITUCCI, S.; CEDILLO, M. Spiritual leadership and army transformation: theory, measurement, and establishing a baseline.
The Leadership Quarterly, v. 16, n.5, p. 836-837, 2005.


4. FRANCO, D.P. (Pelo Espírito Joanna de Ângelis). Ilumina-te. Catanduvas: Intervidas, 2013, p. 159.


5. KOUZES, J.M.; POSNER, B.Z. The leadership challenge. Fourth edition. San Francisco: Jossey-Bass, 2007, p. 21.


6. FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, v. 14, n. 6, p. 695, 2003; MILLER, W.C. Spiritually-based leadership. In: ZSOLNAI, L (Ed.). Spirituality and Ethics in Management. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2004, p. 169; LENNICK, D.; KIEL, F. Moral intelligence: enhancing business performance and leadership success.Wharton School Publishing: Upper Saddle River, 2005, p. 87.


7. GUILLORY, W.A. The living organization: spirituality in the workplace. 2nd Edition. Salt Lake City, UT: Innovations International, 2001, p. 186-187.


8. FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, v. 14, n. 6, p. 694-695, 2003.


9. FRANCO, D.P. (Pelo Espírito Amélia Rodrigues). Luz do mundo. 8ª edição. Salvador: LEAL, 2003, p. 103.


10. ______.______. p. 103-104.


11. ______.______. p. 104.


12. Religião. Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Religião> Acesso em: 23 out. 2013.

 

13. FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, v. 14, n. 6, p. 695, 2003.


14. ______. p. 695.


15. LUTHANS, F.; AVOLIO, B. Authentic leadership development. In: CAMERON, K.S.; DUTTON, J.E.; QUINN, R.E. (Eds.). Positive Organizational Scholarship. San Francisco: Berret-Koelher, 2003, p. 243.


16. TOURISH, D.; PINNINGTON. Transformational leadership, corporate cultism and the spirituality paradigm: an unholy trinity in the workplace? Human Relations, v. 55, n. 2, p. 151, 2002.


17. ______. p. 162.


18. Por exemplo, BOOROM, R. Spiritual Leadership: A study of the relationship between spiritual leadership theory and transformational leadership. Unpublished Doctoral Dissertation, Regent University, Virginia Beach, VA, 2009; TWIGG, N.W.; PARAYITAM, S. Spirituality as a determinant of transformational leadership: moderating effects of religious orientation. Journal of Management, Spirituality, and Religion, v. 4, n. 3, p. 326-354, 2007.


19. Leader-member exchange theory = teoria de troca entre líder e subordinado.

 

20. XAVIER, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). Vinha de luz. 4ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1977, p. 248.


21. KORAC-KAKABDASE, N.; KOUZMIN, A.; KAKABDASE, A. Spirituality and leadership praxis. Journal of Managerial Psychology, v. 17, n. 3, p. 169, 2002.


22. VAN DIERENDONCK, D. Servant leadership: a review and synthesis. Journal of Management, v. 37, n. 4, p. 1232, 2011. 



 


 
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