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Estudo Metódico do Pentateuco Kardequiano  Inglês  Espanhol

Ano 8 - N° 373 - 27 de Julho de 2014

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com

Londrina,
Paraná (Brasil)
 

 

A Gênese

Allan Kardec

 (Parte 12)
 

Damos continuidade ao estudo metódico do livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, cuja primeira edição foi publicada em 6 de janeiro de 1868. As respostas às questões sugeridas para debate encontram-se no final do presente texto. 

Questões para debate

A. De todas as Gêneses antigas, qual é a que mais se aproxima dos modernos dados da Ciência? 

B. Se a Bíblia é de origem divina, por que contém erros?

C. A religião deve avançar com a Ciência?

Texto para leitura 

235. Papel da ciência na gênese – Incontestavelmente, não é possível que Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente, pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes é próprio.

236. Por guardar respeito aos Textos Sagrados, dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso como impedir que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias às religiões que se baseiem na verdade.

237. Se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha. Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas da Ciência, as quais funestas só o são às que se deixam distanciar das ideias progressistas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças.

238. A Gênese se divide em duas partes: a história da formação do mundo material e da Humanidade considerada em seu duplo princípio, corporal e espiritual. A Ciência se tem limitado à pesquisa das leis que regem a matéria. No próprio homem, ela apenas há estudado o envoltório carnal. Por esse lado, chegou a inteirar-se, com exatidão, das partes principais do mecanismo do Universo e do organismo humano. Assim, sobre esse ponto capital, pode completar a Gênese de Moisés e retificar-lhe as partes defeituosas.

239. Ocorre que a história do homem, considerado como ser espiritual, se prende a uma ordem especial de ideias, que não são do domínio da Ciência propriamente dita e das quais, por esse motivo, não tem ela feito objeto de suas investigações.

240. A Filosofia, a cujas atribuições pertence, de modo mais particular, esse gênero de estudos, apenas há formulado, sobre o ponto em questão, sistemas contraditórios, que vão desde a mais pura espiritualidade, até a negação do princípio espiritual e mesmo de Deus, sem outras bases, afora as ideias pessoais de seus autores. Tem, pois, deixado sem decisão o assunto, por falta de verificação suficiente.

241. Essa questão, no entanto, é a mais importante para o homem, porque envolve o problema do seu passado e do seu futuro. A do mundo material apenas indiretamente o afeta. O que lhe importa saber, antes de tudo, é donde ele veio e para onde vai, se já viveu e se ainda viverá, e qual a sorte que lhe está reservada. Mas a Ciência se omite quanto a esse assunto.

242. Todas as religiões são acordes quanto ao princípio da existência da alma, sem, contudo, o demonstrarem. Não o são, porém, nem quanto a sua origem, nem com relação ao seu passado e ao seu futuro, nem, principalmente, e isso é o essencial, quanto às condições de que depende sua sorte vindoura. Em sua maioria, elas apresentam, do futuro da alma, e o impõem à crença de seus adeptos, um quadro que somente a fé cega pode aceitar, visto que não suporta exame sério.

243. Dessas divergências no tocante ao futuro do homem nasceram a dúvida e a incredulidade. Entretanto, a incredulidade dá lugar a um penoso vácuo. O homem encara com ansiedade o desconhecido em que tem fatalmente de penetrar. Gela-o a ideia do nada. Diz-lhe a consciência que alguma coisa lhe está reservada para além do presente. Que será? Sua razão, com o desenvolvimento que alcançou, já lhe não permite admitir as histórias com que o acalentaram na infância, nem aceitar como realidade a alegoria.

244. Daí advém a incerteza, e a incerteza sobre o que concerne à vida futura faz que o homem se atire, tomado de uma espécie de frenesi, para as coisas da vida material. Esse o inevitável efeito das épocas de transição: rui o edifício do passado, sem que ainda o do futuro se ache construído.

245. Até o presente, o estudo do princípio espiritual, compreendido na Metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No Espiritismo, é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade mediúnica, mais desenvolvida presentemente e, sobretudo, generalizada e mais bem estudada, o homem se achou de posse de um novo instrumento de observação. A mediunidade foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o microscópio para o dos infinitamente pequenos.

246. A mediunidade permitiu que se explorassem, estudassem, por assim dizer, de visu, as relações daquele mundo com o mundo corpóreo; que, no homem vivo, se destacasse do ser material o ser inteligente e que se observassem os dois a atuar separadamente. Uma vez estabelecidas relações com os habitantes do mundo espiritual, possível se tornou ao homem seguir a alma em sua marcha ascendente, em suas migrações, em suas transformações. Pôde-se, enfim, estudar o elemento espiritual. Eis aí o de que careciam os anteriores comentadores da Gênese, para a compreenderem e lhe retificarem os erros.

247. Estando o mundo espiritual e o mundo material em incessante contacto, os dois são solidários; ambos têm sua parcela de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro, tão impossível seria constituir-se uma Gênese completa, quanto a um estatuário dar vida a uma estátua.

248. Capítulo V - Antigos e modernos sistemas do mundo – A primeira ideia que os homens formaram da Terra, do movimento dos astros e da constituição do Universo, há de, a princípio, ter-se baseado unicamente no que os sentidos percebiam. Ignorando as mais elementares leis da Física e as forças da Natureza, não dispondo senão da vista como meio de observação, apenas pelas aparências podiam eles julgar. Vendo o Sol aparecer pela manhã, de um lado do horizonte, e desaparecer, à tarde, do lado oposto, concluíram naturalmente que ele girava em torno da Terra, conservando-se esta imóvel. Se lhes dissessem então que o contrário é o que se dá, responderiam não ser possível tal coisa, objetando: - Vemos que o Sol muda de lugar e não sentimos que a Terra se mexa.

249. A pequena extensão das viagens, que naquela época raramente iam além dos limites da tribo ou do vale, não permitia se comprovasse a esfericidade da Terra. Como, ao demais, haviam de supor que a Terra fosse uma bola? Os seres, em tal caso, somente no ponto mais elevado poderiam manter-se e, supondo-a habitada em toda a superfície, como viveriam eles no hemisfério oposto, com a cabeça para baixo e os pés para cima?

250. Ainda menos possível houvera parecido isso com o movimento de rotação. Quando, mesmo nos nossos dias, em que se conhece a lei de gravitação, se veem pessoas relativamente esclarecidas não perceberem esse fenômeno, como nos surpreendermos de que homens das primeiras idades não o tenham, sequer, suspeitado? Para eles, pois, a Terra era uma superfície plana e circular, estendendo-se a perder de vista na direção horizontal. Daí a expressão ainda em uso “ir ao fim do mundo”. Desconheciam-lhe os limites, a espessura, o interior, a face inferior, o que lhe ficava por baixo.

251. Por se mostrar sob forma côncava, o céu, na crença vulgar, era tido como uma abóbada real, cujos bordos inferiores repousavam na Terra e lhe marcavam os confins, vasta cúpula cuja capacidade o ar enchia completamente. Sem nenhuma noção do espaço infinito, incapazes mesmo de o conceberem, imaginavam os homens que essa abóbada era constituída de matéria sólida, donde a denominação de firmamento que lhe foi dada e que sobreviveu à crença, significando: firme, resistente (do latim firmamentum, derivado de firmus e do grego herma, hermatos, firme, sustentáculo, suporte, ponto de apoio).

252. As estrelas, de cuja natureza não podiam suspeitar, eram simplesmente pontos luminosos, de volumes diversos, engastados na abóbada, como lâmpadas suspensas, dispostas sobre uma única superfície e, por conseguinte, todas à mesma distância da Terra, tal como as que se veem no interior de certas cúpulas, pintadas de azul, figurando a do céu. Se bem hoje sejam outras as ideias, o uso das expressões antigas se conservou. Ainda se diz, por comparação: a abóbada estrelada, sob a cúpula do céu. 

Respostas às questões propostas

A. De todas as Gêneses antigas, qual é a que mais se aproxima dos modernos dados da Ciência?   

A que mais se aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém, é incontestavelmente a de Moisés. Note-se, porém, que alguns desses erros são mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou então decorrem da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra, em vez de se lhe procurar o espírito. (A Gênese, cap. IV, itens 5 e 6.) 

B. Se a Bíblia é de origem divina, por que contém erros?  

Não há revelação que possa sobrepor-se à autoridade dos fatos. Incontestavelmente, não é possível que Deus, sendo todo verdade, induza os homens ao erro, nem ciente, nem inscientemente, pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que Deus não as pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes é próprio. Aí é que reside a causa dos erros contidos na Bíblia, como foi mencionado na questão anterior. (A Gênese, cap. IV, itens 7 e 8.)

C. A religião deve avançar com a Ciência?  

Sim. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma em sustentar erros manifestos.

Se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha. Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas da Ciência, as quais só são funestas àquelas que se deixam distanciar das ideias progressistas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças. Uma religião que não estivesse, em nenhum ponto, em contradição com as leis da Natureza, nada teria que temer do progresso e seria invulnerável. (A Gênese, cap. IV, itens 9 e 10.)

 


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