Pensando dessa
forma,
lembramo-nos de
que vivemos em
um corpo físico
cuja vida é
temporária e que
um dia finda.
Então,
perguntamos: Se
nem o nosso
corpo nos
pertence, aqui
no mundo, por
que então
relutamos em
doar nossos
órgãos, após o
encerramento de
nossa vida
física, podendo,
com isso, salvar
outras vidas?
Resolvemos, em
face disso,
entrevistar uma
companheira
espírita, Jeanne
Policastro
Gagliardi
Specian
(foto),
casada há 28
anos e mãe de
dois filhos, que
trabalha numa
Central de
captação de
órgãos e
tecidos. Jeanne
frequenta o
Núcleo Espírita
Hugo Gonçalves
na cidade de
Londrina, do
qual é uma das
colaboradoras e
também
palestrante.
Eis a entrevista
que ela nos
concedeu:
Jeanne, onde
você nasceu, em
que é formada e
onde trabalha?
Nasci em
Jaboticabal,
estado de São
Paulo. Sou
formada em
Enfermagem e
Obstetrícia e
pós-graduada em
Saúde Pública e
Gestão
Descentralizada
de DST/AIDS. Sou
funcionária
pública da SESA
(Secretaria da
Saúde do Estado
do Paraná) há 28
anos, mas
trabalho com
captação de
órgãos há quase
oito anos, na
17ª Regional de
Saúde de
Londrina.
Você é de
família
espírita?
Desde pequena
meus pais
falavam sobre
espiritualidade,
mas na forma da
Umbanda. Vim
conhecer o
Espiritismo e
frequentar o
Centro Espírita
Nosso Lar
(Londrina) há
mais ou menos
vinte e cinco
anos, levando
meus filhos para
a Evangelização
aos domingos.
Fiquei um
período afastada
e quando
retornei trouxe
meu marido
comigo.
Como é o nome da
instituição
captadora de
órgãos em que
você trabalha e
quais as maiores
dificuldades
encontradas
nesse serviço?
O nome é
Comissão de
Procura de
Órgãos e Tecidos
para
Transplantes,
cuja sigla é
COPOTT, mas
também a
chamamos de
Central de
Transplantes.
Quanto às
dificuldades,
vão desde a
falta de
conscientização,
conhecimento e
mesmo da
“vontade” de
alguns médicos
intensivistas,
que trabalham em
Unidades de
Terapia
Intensiva, em
realizar e
acompanhar o
processo do
protocolo de
morte encefálica
(sem que
necessariamente
seja para doação
de órgãos), além
do rodízio dos
profissionais de
enfermagem, que,
muitas vezes,
após terem sido
treinados,
deixam o
hospital. E há
ainda o problema
da cultura e da
conscientização
da população.
Você acredita
que nós, os
espíritas,
deveríamos nos
empenhar mais em
participar de
campanhas de
doação de
órgãos? Por quê?
Acredito, sim,
que os espíritas
deveriam
participar nas
campanhas de
doação de
órgãos, pois,
assim como em
outras
campanhas,
estaremos sendo
solidários com
quem precisa de
um órgão para
sobreviver. Como
sabemos, o corpo
é somente um
invólucro do
nosso Espírito.
Se o órgão
estiver bom, por
que não doar
para quem
precisa? Isso
seria um
verdadeiro
desprendimento
espiritual.
Como poderia ser
essa
participação, em
sua opinião?
A princípio
poderiam ser
esclarecidos
quais os
diagnósticos
relacionados com
a morte
encefálica e
como se dá esse
processo, para
que não haja
dúvidas entre a
população,
independente de
o indivíduo ser
espírita ou não.
Além disso,
seria
interessante
promover
periodicamente
fórum de debates
com a visão
espírita acerca
do tema.
Como se dá o
procedimento de
abordagem junto
à família que
acabou de perder
um ente querido,
ou que acabou de
receber a
notícia da morte
encefálica do
familiar?
O recomendado,
para a equipe de
saúde dos
hospitais que
fazem parte
desse processo,
é que se faça o
acompanhamento
junto dos
familiares,
acolhendo-os e
explicando cada
passo do
protocolo a ser
realizado, dando
orientações e
apresentando o
resultado de
cada etapa, até
o seu término.
Assim, quando o
protocolo
termina e a
morte encefálica
é constatada,
fica mais fácil
conversar com a
família, pois se
cria um vínculo
e é dada a
oportunidade,
aos familiares,
de doarem os
órgãos de seu
ente querido.
Como a equipe
lida com o
sentimento das
pessoas
envolvidas?
Tem-se que
conhecer um
pouco da
história de vida
daquele ser
humano; como ele
vivia, seus
hábitos, até
para saber se
aqueles órgãos
são viáveis.
Muitas vezes nos
deparamos com
histórias que
ficam por dias
em nossas
mentes. Ao mesmo
tempo ficamos
felizes em saber
quanto aqueles
órgãos vão
beneficiar
pessoas que
estão na fila
aguardando por
eles, as quais,
muitas vezes,
por questão de
dias ou horas,
se não houver o
transplante,
poderão
desencarnar.
De onde vêm as
equipes que
fazem a captação
dos órgãos?
Em Londrina,
temos uma equipe
que faz a
captação de
órgãos aqui, em
Apucarana, em
Arapongas, em
Cornélio
Procópio e em
Jacarezinho.
Muitas vezes as
equipes também
vêm de Curitiba
ou São Paulo,
conforme o local
onde será
disponibilizado
o órgão.
Jeanne, gostaria
que você
deixasse suas
considerações
finais sobre
esse tema.
Falamos tanto da
evolução do ser
humano! Ora, a
doação de órgãos
constitui uma
evolução tanto
humana quanto
espiritual.
Humana porque
até um tempo
atrás nem se
pensava que o
coração de uma
pessoa poderia
continuar
batendo no corpo
do outro,
prolongando
assim a sua
vida. Espiritual
porque a atitude
significa passar
do ter, para ser
e doar,
amenizando a dor
do outro e
demonstrando
assim o amor
incondicional
pelo próximo.
Falem com seus
familiares,
deixem expressa
sua vontade,
assim será mais
fácil para eles
tomar essa
decisão quando
chegar a hora.
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