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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 9 - N° 409 - 12 de Abril de 2015
JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)
 

 
Jeanne Policastro Gagliardi Specian:

“A doação de órgãos constitui uma evolução tanto humana quanto espiritual”

Membro da Central de Transplantes de Londrina e companheira de lides espíritas, a entrevistada fala sobre as dificuldades pertinentes à captação de órgãos para fim de transplante 
 

Em março do ano de 2010 citamos em nossa coluna “Histórias que nos ensinam”, no jornal O Imortal, um depoimento de Divaldo Pereira Franco em que ele fala sobre uma entrevista feita pelo Espírito Humberto de Campos com Francisco de Assis, assim transcrita: “Sabe, um dia Humberto de Campos escreveu por minha mediunidade um

texto onde descrevia uma entrevista que teria feito com Francisco de Assis, no mundo espiritual. Disse ter perguntado a ele se abraçaria novamente a pobreza caso voltasse à Terra, através da reencarnação. E Francisco teria respondido que não. Que usaria tudo o que o mundo tem de moderno para melhor divulgar a mensagem do Evangelho, mas que não precisaria possuir aquilo que usasse. Que pregaria o Despojamento. Usar, sem ser dono”.


Pensando dessa forma, lembramo-nos de que vivemos em um corpo físico cuja vida é temporária e que um dia finda. Então, perguntamos: Se nem o nosso corpo nos pertence, aqui no mundo, por que então relutamos em doar nossos órgãos, após o encerramento de nossa vida física, podendo, com isso, salvar outras vidas?

Resolvemos, em face disso, entrevistar uma companheira espírita, Jeanne Policastro Gagliardi Specian (foto), casada há 28 anos e mãe de dois filhos, que trabalha numa Central de captação de órgãos e tecidos. Jeanne frequenta o Núcleo Espírita Hugo Gonçalves na cidade de Londrina, do qual é uma das colaboradoras e também palestrante.

Eis a entrevista que ela nos concedeu: 

Jeanne, onde você nasceu, em que é formada e onde trabalha?

Nasci em Jaboticabal, estado de São Paulo. Sou formada em Enfermagem e Obstetrícia e pós-graduada em Saúde Pública e Gestão Descentralizada de DST/AIDS. Sou funcionária pública da SESA (Secretaria da Saúde do Estado do Paraná) há 28 anos, mas trabalho com captação de órgãos há quase oito anos, na 17ª Regional de Saúde de Londrina. 

Você é de família espírita?

Desde pequena meus pais falavam sobre espiritualidade, mas na forma da Umbanda. Vim conhecer o Espiritismo e frequentar o Centro Espírita Nosso Lar (Londrina) há mais ou menos vinte e cinco anos, levando meus filhos para a Evangelização aos domingos. Fiquei um período afastada e quando retornei trouxe meu marido comigo. 

Como é o nome da instituição captadora de órgãos em que você trabalha e quais as maiores dificuldades encontradas nesse serviço?

O nome é Comissão de Procura de Órgãos e Tecidos para Transplantes, cuja sigla é COPOTT, mas também a chamamos de Central de Transplantes. Quanto às dificuldades, vão desde a falta de conscientização, conhecimento e mesmo da “vontade” de alguns médicos intensivistas, que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva, em realizar e acompanhar  o processo do protocolo de morte encefálica (sem que necessariamente seja para doação de órgãos), além do rodízio dos profissionais de enfermagem, que, muitas vezes, após terem sido treinados, deixam o hospital. E há ainda o problema da cultura e da conscientização da população. 

Você acredita que nós, os espíritas, deveríamos nos empenhar mais em participar de campanhas de doação de órgãos? Por quê?

Acredito, sim, que os espíritas deveriam participar nas campanhas de doação de órgãos, pois, assim como em outras campanhas, estaremos sendo solidários com quem precisa de um órgão para sobreviver. Como sabemos, o corpo é somente um invólucro do nosso Espírito. Se o órgão estiver bom, por que não doar para quem precisa? Isso seria um verdadeiro desprendimento espiritual. 

Como poderia ser essa participação, em sua opinião?

A princípio poderiam ser esclarecidos quais os diagnósticos relacionados com a morte encefálica e como se dá esse processo, para que não haja dúvidas entre a população, independente de o indivíduo ser espírita ou não. Além disso, seria interessante promover periodicamente fórum de debates com a visão espírita acerca do tema. 

Como se dá o procedimento de abordagem junto à família que acabou de perder um ente querido, ou que acabou de receber a notícia da morte encefálica do familiar?

O recomendado, para a equipe de saúde dos hospitais que fazem parte desse processo, é que se faça o acompanhamento junto dos familiares, acolhendo-os e explicando cada passo do protocolo a ser realizado, dando orientações e apresentando o resultado de cada etapa, até o seu término. Assim, quando o protocolo termina e a morte encefálica é constatada, fica mais fácil conversar com a família, pois se cria um vínculo e é dada a oportunidade, aos familiares, de doarem os órgãos de seu ente querido. 

Como a equipe lida com o sentimento das pessoas envolvidas?

Tem-se que conhecer um pouco da história de vida daquele ser humano; como ele vivia, seus hábitos, até para saber se aqueles órgãos são viáveis. Muitas vezes nos deparamos com histórias que ficam por dias em nossas mentes. Ao mesmo tempo ficamos felizes em saber quanto aqueles órgãos vão beneficiar pessoas que estão na fila aguardando por eles, as quais, muitas vezes, por questão de dias ou horas, se não houver o transplante, poderão desencarnar.

De onde vêm as equipes que fazem a captação dos órgãos?

Em Londrina, temos uma equipe que faz a captação de órgãos aqui, em Apucarana, em Arapongas, em Cornélio Procópio e em Jacarezinho. Muitas vezes as equipes também vêm de Curitiba ou São Paulo, conforme o local onde será disponibilizado o órgão. 

Jeanne, gostaria que você deixasse suas considerações finais sobre esse tema.

Falamos tanto da evolução do ser humano! Ora, a doação de órgãos constitui uma evolução tanto humana quanto espiritual. Humana porque até um tempo atrás nem se pensava que o coração de uma pessoa poderia continuar batendo no corpo do outro, prolongando assim a sua vida. Espiritual porque a atitude significa passar do ter, para ser e doar, amenizando a dor do outro e demonstrando assim o amor incondicional pelo próximo.

Falem com seus familiares, deixem expressa sua vontade, assim será mais fácil para eles tomar essa decisão quando chegar a hora.               


 
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita