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Ano 9 - N° 417 - 7 de Junho de 2015

PAULO OLIVEIRA
psdo2010@gmail.com
Santos, SP (Brasil)

 
 

Paulo Oliveira

Alguém tem um tempo aí?

“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo
respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o
tempo que o tempo tem.” (Trava-língua)
 

A correria em que vivemos na atualidade é o sintoma do desequilíbrio causado pela busca frenética para atender aos afazeres e compromissos diários, no intuito de se conseguir o máximo de resultado possível, muitas vezes de forma altamente competitiva, gerando ansiedade e insegurança.


Em meio à dinâmica que estabelecemos para a nossa vida, frequentemente, ao final do dia, temos a impressão de estarmos na mesma situação de um hamster que corre numa roda, despendendo toda a energia num esforço intenso e contínuo, porém sem sair do mesmo lugar. A sensação de vazio e de ter deixado algo pendente, causa um grande desconforto e reforça a ideia de que precisamos correr mais no dia seguinte.


Essa reação gera uma espiral crescente e viciosa que impulsiona o ser a  preencher esse vazio, com mais coisas para fazer. Essa condição está tão impregnada no modelo mental vigente, que ao se perguntar a qualquer indivíduo: “Como é que você vai?”, temos invariavelmente a resposta: “Correndo!”.


As próprias crianças não escapam dessa louca corrida, enfrentando uma rotina estressante,  composta por deveres extracurriculares, que vão desde as artes marciais às aulas de idiomas, informática, entre outras, não permitindo que os nossos pequenos possam viver a sua infância adequadamente, tendo tempo para brincar e aprender a viver. No entanto, é preciso, dizem os pais apavorados, preparar os nossos filhos para enfrentar os desafios que o mundo apresenta.


Será que essa corrida insana nos dá o que precisamos? Estamos felizes, motivados e satisfeitos em nossas vidas? A resposta que, na maioria das vezes, se ouve é um sonoro não! Essas são questões que gostaríamos de colocar à apreciação e reflexão, pois são vitais para o nosso equilíbrio tanto emocional  quanto físico.

O consumismo e suas consequências

Vivemos em uma sociedade do espetáculo, na qual o consumismo incita-nos à busca insaciável da satisfação de nossos desejos, principalmente através da aquisição desenfreada e impulsiva de itens variados, inclusive aqueles que não nos fariam falta alguma, deslocando o foco de nossa motivação do nível interno para o externo, gerando consequências que transcendem mesmo à condição da vida presente.


Alguns poderão afirmar: “Mas, essa corrida tem sentido, pois queremos melhorar nossa condição financeira e sermos mais felizes”. A ideia em si não está errada, porém deve-se considerar que enquanto se prioriza, unicamente, o objetivo de melhor posicionamento social e econômico, está-se deixando de atender ao desenvolvimento da própria emoção. E é exatamente nesse ponto que começam a existir os conflitos entre o ter e o ser.


Joanna de Ângelis chama-nos a atenção quando afirma: “O homem e a mulher da atualidade, após os grandes e inimagináveis voos do conhecimento e da tecnologia, debatem-se, surpresos, nas águas turvas da inquietação e do sofrimento, constatando que os milênios de cultura e de civilização que lhes alargaram os horizontes do entendimento não lhes solucionaram os grandes desafios da emoção”.[1]


E mais adiante completa: “(...) a desumanização dos sentimentos, objetivando a conquista dos patamares do poder, da glória e do prazer, conspiraram dolorosamente contra o ser essencial, que se reveste da estrutura física, a fim de desempenhar o ministério da evolução”.

Que fazer para atingir a felicidade?

 

Nessa desenfreada corrida, ”o ser quase não tem tempo ou lucidez para pensar na grandeza de que se constitui, perturbado pelas paixões a que se entrega e que o devoram”. [2]


A querida benfeitora, com sua clareza de espírito elevado e iluminado, traz-nos o diagnóstico da causa que gera a nossa atual condição de desequilíbrio e de dor: a desumanização dos sentimentos, traduzida para o dia a dia do ser, em doenças características do aparelho psíquico como a depressão, mal que está, cada vez mais, presente na vida das pessoas, exigindo tratamento adequado tanto medicamentoso, psicológico quanto espiritual, uma vez que todo desequilíbrio da alma repercute indelevelmente no campo fisiológico. Em apoio a essa ideia, Emmanuel, o estimado benfeitor espiritual, afirma que “os homens de hoje dispõem de máquinas que os auxiliam a ganhar tempo, mas não a calma, diante das provações que se lhes fazem necessárias
.[3]


O que fazer então para se retomar o equilíbrio espiritual e conseguir atingir a verdadeira felicidade e a paz?


Essa é uma questão que não tem resposta simples e nem fácil, porque depende unicamente de uma mudança de atitude do próprio indivíduo, pela ação da própria vontade.


Enquanto entendermos o mundo como a única fonte de satisfação de nossas necessidades, dedicaremos esforços, e tempo, demasiados para alcançar aquilo que erroneamente acreditamos ser o principal e o indispensável, sendo que a felicidade não está no exterior, mas sim na paz de espírito e no equilíbrio emocional dos indivíduos. Lembremos, nesse sentido, as palavras de Jesus, quando afirma: “O Reino de Deus não vem com aparência exterior”.[4]

 

Assim, depreende-se desse ensinamento que o Reino de Deus está dentro de cada um dos filhos da criação divina. O que precisamos fazer, urgentemente, é buscar, internamente, essa condição, e exteriorizá-la através das atitudes e comportamentos diários. 

Ninguém pode servir a dois senhores
 

No entanto, para que isso aconteça, precisamos rever o critério que estamos utilizando para tomarmos nossas decisões, ou seja, para fazermos nossas escolhas. Quando alguém age, está colocando em prática uma decisão tomada. Ao corrermos desesperadamente para o que nos é solicitado diariamente, estamos agindo, como consequência desse processo individual de tomada de decisão. Quando optamos por focalizar somente nossas intenções e interesses materiais, atendendo às exigências do dia a dia enlouquecido, estamos dando mais tempo para aquilo que realmente valorizamos: as imposições do mundo. Porém, Jesus, através do ensinamento de que “ninguém pode servir a dois senhores[5], alerta que se privilegiarmos exclusivamente o mundo, em seus requisitos materiais, necessariamente estaremos deixando de pensar em Deus e servi-lo.


O Mestre não pede que nos isolemos, mas sim que vivamos de forma equilibrada diante das necessidades impostas pelo mundo, não nos esquecendo, no entanto, de valorizar primordialmente o nosso crescimento espiritual.


Assim, a utilização do tempo disponível segue uma hierarquia de importância em função daquilo que realmente valorizamos. Nessa condição de atender exclusivamente às questões diárias, a principal alegação é a de que não se tem tempo para pensar em “coisas de religião”, pois, como já mencionado, é necessário buscar, à exaustão, aquilo que precisamos para viver bem, obviamente, dentro da ótica do aqui e agora.


Mas, será que realmente não temos tempo para pensar nas coisas do espírito? Não seria, talvez, mais uma questão da vontade de realizar essa busca, do que, de fato, da quantidade de tempo disponível? 

Tempo cronológico e tempo subjetivo

 

Para apoiar esse raciocínio gostaríamos de questionar: Mas, o que afinal significa não ter tempo?


Quando nos referimos ao tempo, na civilização moderna, geralmente empregamos uma só palavra para representá-lo. Existe, porém, uma clara diferenciação conceitual entre o tempo cronológico e o tempo subjetivo. Enquanto o primeiro representa o tempo mensurável (horas, minutos e segundos), o segundo refere-se à percepção que cada um faz dessa quantidade de horas à sua disposição.


Assim, refletindo, podemos começar a perceber que a organização do tempo dá-se, fundamentalmente,  pela priorização do realizar coisas, conforme nossos interesses. É certo que teremos de atender nossas responsabilidades e compromissos, pois disso não devemos nos alhear. Porém, à luz destas reflexões, poderemos reorganizar o nosso dia, mesmo diante da correria, para encontrarmos espaço para pausas necessárias, no sentido de atender às necessidades espirituais inadiáveis, que funcionam como um reabastecimento de energias, que atuarão no restabelecimento e manutenção de nossa saúde espiritual.


Na tentativa de trazer as soluções apresentadas pelos Espíritos amigos com relação a essa saúde espiritual citada, transcrevemos abaixo o trecho que é uma verdadeira receita de luz:

Assim é que orar em nosso favor é atrair a Força Divina para a restauração de nossas forças humanas, e orar a benefício dos outros ou ajudá-los, através da energia magnética, à disposição de todos os Espíritos que desejem realmente servir, será sempre assegurar-lhes as melhores possibilidades de autorreajustamento, compreendendo-se, porém, que se o amor consola, instrui, ameniza, levanta, recupera e redime, todos estamos condicionados à justiça a que voluntariamente nos rendemos, perante a Vida Eterna, justiça que preceitua, conforme o ensinamento de Nosso Senhor Jesus-Cristo, seja dado isso ou aquilo ´a cada um segundo as suas obras´, cabendo-nos recordar que as obras felizes ou menos felizes podem ser fruto de nossa orientação todos os dias e, por isso mesmo, todos os dias será possível alterar o rumo de nosso próprio roteiro”. [6] (grifo nosso) 

A Terra, diz Denis, é um campo de batalha

 

Somos mais do que a simples matéria com sensações. É preciso reforçar a ideia de que somos Espíritos, contando os minutos, horas e dias na presente reencarnação, que representa, no entanto, a grande oportunidade oferecida a todos nós que estamos, no momento presente, vivendo uma nova experiência no corpo físico.


Concluímos, a esse respeito, com o pensamento do grande filósofo da Doutrina dos Espíritos, Léon Denis, em seu livro Depois da Morte: “Lembra-te de que a vida é curta. Enquanto ela durar, esforça-te por adquirir o que vieste procurar neste mundo: o verdadeiro aperfeiçoamento. Possa teu ser espiritual daqui sair melhor e mais puro do que quando entrou! Acautela-te das armadilhas da carne; reflete que a Terra é um campo de batalha onde a alma é a todo momento assaltada pela matéria e pelos sentidos. Luta corajosamente contra as paixões vis; luta pelo espírito e pelo coração; corrige teus defeitos, adoça teu caráter, fortifica tua vontade. Eleva-te, pelo pensamento, acima das vulgaridades terrestres; dilata as tuas aspirações sobre o céu luminoso”.

 

 

[1] JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). O Despertar do Espírito  [psicografado por  Divaldo Pereira Franco], 4ª. ed., Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2000. Introdução.

[2] Idem

[3] EMMANUEL (Espírito). Confia e Segue [psicografado por  Francisco Cândido Xavier], 15ª. ed., GEEM-Grupo Espírita Emmanuel, São Bernardo do Campo, 2012. Cap. 12.

[4] Lucas, 17:20

[5] Mateus, 6:24

[6] ANDRÉ LUIZ (Espírito). Evolução em Dois Mundos. [psicografado por  Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira], 22ª. ed., FEB, Rio de Janeiro, 2004. Item 15 – 2ª. parte – Passe Magnético.

 

 


 
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