Continuamos nesta edição o estudo do livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, obra publicada por Allan Kardec no ano de 1858. As páginas citadas no texto sugerido para leitura referem-se à edição publicada pela Casa Editora O Clarim, com base na tradução feita por Cairbar Schutel.
Questões para debate
A. A comunicação espírita exige identificação entre o Espírito e o médium, o que se estabelece pela simpatia ou afinidade existente entre ambos. Que qualidades atraem para junto do médium os bons Espíritos? que defeitos os afastam?
B. Há, como alguns pretendem, influência do meio sobre as manifestações? Como podemos sintetizar essa questão?
C. Uma reunião mediúnica é um elemento decisivo para convencer as pessoas que desejam haurir convicções?
Texto para leitura
115. Os médiuns facultativos são aqueles que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por ação da vontade. A faculdade mediúnica, se bem que inerente à espécie humana, está longe de existir em todos no mesmo grau; mas, se poucas são as pessoas em que ela é praticamente nula, as capazes de produzir grandes efeitos são ainda mais raras. (Cap. V, pág. 127.)
116. Os efeitos mais simples são os da movimentação de objetos, as pancadas vibradas pelo levantamento desses objetos ou em sua própria substância. É preciso, porém, notar que a faculdade de produzir efeitos materiais raramente existe naqueles que têm meios mais perfeitos de comunicação. (Cap. V, págs. 127 e 128.)
117. De todos os meios de comunicação, a escrita é o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. É para ele que devem convergir todos os esforços, pois ele permite estabelecer com os Espíritos relações tão contínuas e tão regulares quanto as que existem entre os homens. É, ainda, o meio através do qual os Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau de sua perfeição ou inferioridade. (Cap. V, pág. 128.)
118. A faculdade de escrever é, para um médium, a mais suscetível de se desenvolver pelo exercício. (Cap. V, pág. 128.)
119. O processo é dos mais singelos. Consiste simplesmente em pegar papel e lápis e pôr-se, sem mais preocupação, na posição de uma pessoa que escreve. Para alcançar bom êxito, porém, são indispensáveis certas medidas preliminares. (Cap. V, pág. 129.)
120. É necessário, primeiramente, evocar o Espírito que desejamos se comunique. Não existe para isso qualquer fórmula sacramental. Deve-se evocar, de preferência, um Espírito que nos seja simpático, um parente ou um amigo. Como pode acontecer que ele não possa acudir ao nosso apelo, é útil sempre evocar também o Espírito familiar, seja ele quem for, sem ser preciso saber-lhe o nome, visto que ele está sempre conosco. (Cap. V, pág. 129.)
121. A pergunta dirigida ao Espírito deve ser simples e direta. No início do desenvolvimento da psicografia, é útil que a pergunta suscite uma resposta do tipo sim ou não, para facilitar a comunicação. O que se objetiva, então, é estabelecer uma comunicação. É essencial, porém, que a pergunta não seja fútil, que não se relacione com assuntos de interesse privado e seja a expressão de um sentimento benevolente e simpático para com o Espírito a quem nos dirigimos. (Cap. V, pág. 130.)
122. Outro elemento não menos necessário, para obtenção do fenômeno, é a calma e o recolhimento, reunidos a um desejo sincero e uma firme vontade de obter o contato espiritual. Resta, então, apenas uma expectativa: esperar sem impaciência e renovar todos os dias as tentativas, durante 10 ou 15 minutos, no máximo, de cada vez, e isto durante 15 dias, um mês, dois meses, ou mais, se for preciso. Mas, se ao fim de três meses, nada se obtém, será inútil prosseguir. (Cap. V, págs. 130 e 131.)
123. Um meio que geralmente dá bom resultado, seja para apressar o desenvolvimento, seja para fazer uma pessoa psicografar, consiste em empregar, como auxiliar momentâneo, um bom médium escrevente ou um outro já desenvolvido. Se se põe a mão dele sobre a mão que deve escrever, é raro que esta não o faça imediatamente. (Cap. V, pág. 132.)
124. É suficiente, algumas vezes, magnetizar fortemente o braço e a mão da pessoa que deseja escrever. Em algumas experiências, basta que o magnetizador se limite a colocar a mão sobre o ombro do paciente e este põe-se prontamente a escrever sob essa influência. O mesmo efeito pode ser obtido, sem contato algum, e apenas pela ação da vontade. (Cap. V, pág. 132.)
125. O poder que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns a que denominamos médiuns formadores. E o mais estranho é que essa faculdade existe em pessoas que não são, elas próprias, médiuns escreventes. (Cap. V, págs. 132 e 133.)
126. A fé no aprendiz de médium não é condição de rigor. Ela secunda, sem dúvida, os esforços, mas não é indispensável. O desejo e a boa vontade bastam. Há pessoas incrédulas que escrevem mediunicamente, sem o querer, ao passo que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que a faculdade depende de uma predisposição orgânica. (Cap. V, pág. 133.)
127. Recomenda-se evitar tudo o que pode embaraçar o livre movimento da mão. É mesmo preferível que esta não repouse completamente sobre o papel. A ponta do lápis deve apoiar-se suficientemente para escrever, mas não tanto que experimente resistência. (Cap. V, págs. 133 e 134.)
Respostas às questões propostas
A. A comunicação espírita exige identificação entre o Espírito e o médium, o que se estabelece pela simpatia ou afinidade existente entre ambos. Que qualidades atraem para junto do médium os bons Espíritos? que defeitos os afastam?
As qualidades que atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor do próximo e o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os repelem são: o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se prende à matéria. Um médium por excelência seria, pois, aquele que, com facilidade de execução, reunisse no mais alto grau as qualidades morais. (Obra citada, cap. VI, págs. 142 e 143.)
B. Há, como alguns pretendem, influência do meio sobre as manifestações? Como podemos sintetizar essa questão?
Sim. É enorme a influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes. Em resumo, as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade, quanto mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de se instruir sem pensamento preconcebido houver para o bem. Nessa situação três elementos podem influenciar alternada ou simultaneamente: o conjunto dos assistentes, pelos Espíritos que eles atraem; o médium, pela natureza de seu próprio Espírito, que serve de intérprete; e a pessoa que orienta os trabalhos. Esta pode, sozinha, dominar todas as outras influências e, mais do que isto, todas as condições desfavoráveis do meio; pode, por vezes, obter notáveis resultados graças ao seu ascendente, se o fim a que se propõe é útil. Os Espíritos superiores atendem ao seu apelo e em seu favor. Os outros se calam como alunos diante dos mestres. A influência do meio faz compreender que quanto menos numerosos somos nas reuniões, tanto melhor estas decorrem, pois que, assim, é mais fácil obter homogeneidade. As pequenas reuniões íntimas são sempre mais favoráveis às belas comunicações. (Cap. VII, págs. 147 a 149.)
C. Uma reunião mediúnica é um elemento decisivo para convencer as pessoas que desejam haurir convicções?
Não. A convicção não se adquire senão pela experiência. Quanto às pessoas que nunca tiveram qualquer experiência, não é aí que devem receber as primeiras lições e nem tão pouco haurir convicções. Correriam o risco de conceber uma imagem distorcida dos seres que compõem o mundo espírita, pouco mais ou menos como quem julgasse toda a população de uma grande cidade pelos habitantes de seus subúrbios.(Cap. VIII, págs. 150 e 151.)