A
origem
capitalista da
lei de atração
O capitalismo,
com sua
filosofia de
meritocracia,
coloca nas mãos
da pessoa total
responsabilidade
por seu sucesso
ou fracasso.
Essa ideologia –
neoliberal,
materialista e
reducionista –
fomentou o
surgimento de
abordagens
“espiritualistas”,
filosofias “new
age”, conaturais
com seus
postulados.
Muitos
“espiritualistas”
abraçaram a lei
de atração como
uma doutrina que
promete poder e
controle
absoluto sobre
tudo que nos
acontece. Com o
seu poder
mental, você
consegue atrair
todas as
circunstâncias
favoráveis para
realizar todos
os seus desejos.
Se você contraiu
uma infecção
hospitalar, a
culpa não é das
más condições e
falta de
infraestrutura
no hospital do
SUS, também não
é culpa do
médico ou da
enfermeira que
não lavou o
material, a
responsabilidade
é totalmente
sua, que atraiu
essa “infecção”.
Falta de estudo
e índice de
analfabetização
não é problema
do governo que
não oferece
condições de
educação com
qualidade, a
responsabilidade
é de cada
criança, jovem,
que não tem as
crenças corretas
pra atrair
escolas de
qualidade.
Um traficante
sequestrou seus
filhos e matou a
mais nova; a
responsabilidade
não é da falta
de segurança
pública, do
crime organizado
ou do
narcotráfico e
da falência do
sistema
prisional: a
responsabilidade
é deles – dos
seus filhos –
que mantiveram
sentimento de
culpa,
autopunição e
atraíram
circunstâncias
desfavoráveis.
Desvios de verba
pública,
corrupção nos
três poderes,
políticos
usurpando seus
cargos para
interesses
próprios;
contudo, a
responsabilidade
é sua que ainda
não se livrou de
sentimentos de
inferioridade e
complexos de
autossabotagem e
atraiu para sua
cidade, seu
estado e seu
país políticos
corruptos.
A solução
proposta por
essa ética
neoliberal
surrealista/espiritualista
é simples:
- purifique seus
pensamentos
- remova as
crenças
limitantes
- vibre na
frequência
cósmica e
- espere com
confiança,
porque o
“universo” vai
resolver
(escolas,
hospitais,
narcotráfico,
corrupção
política,
violência urbana
etc.), enquanto
você está em
posição de yoga
em casa,
meditando e
pensando
positivo.
A doutrina
espírita, que
leva em
consideração a
filosofia de
Descartes, a
física de
Newton, a
teologia
racional e a
ciência,
propõe-nos, com
fundamento na
razão e nos
fatos, um olhar
realista sobre a
fé, a oração e a
compreensão das
questões que
afetam nossa
vida.
Diferente de
outras
abordagens
alienistas que
negam a
realidade, o
Espiritismo,
erigido sobre as
bases éticas do
Cristo,
atualizando com
a proposta
educacional e
transformadora
de Pestalozzi e
seu fiel
discípulo Allan
Kardec (Jan Hus),
nos desperta
para a
responsabilidade
diante de nossas
escolhas. O
destino de cada
um é construído
de forma social,
cultural,
psicológica e
espiritual. O
esoterismo
exclui os
aspectos
externos
priorizando
pensar e sentir.
Kardec, como o
grande pensador
da
espiritualidade
moderna, foge
desse
neurocentrismo
mágico, típico
de mentalidade
infantil, quando
nos lega um
arcabouço
conceitual
maduro, complexo
e profundo.
O Espiritismo
adverte contra
os malefícios do
pensamento
negativo e das
crenças tóxicas,
porém também
relembra o “a
cada um segundo
suas obras” – e
obras significam
atitudes e ações
concretas. A
oração precisa
ser acompanhada
de ação, a
caridade em
palavras segue
atos solidários.
Qualquer escola
de pensamento
que simplifique
os paradoxos da
existência e
tente vender
expectativas
fáceis de uma
vida de riqueza,
saúde e
prosperidade,
ilude e manipula
as pessoas,
porque em vez de
despertar as
consciências
produz
indivíduos
hipnotizados por
ficções
coloridas,
mantendo o povo
no sono da
inconsciência e
da
inconsequência.
O Espírito em
sua jornada
reencarnatória
precisa assumir
responsabilidade
por seu caminho,
mas também
reconhecer as
limitações
impostas por uma
sociedade
injusta e
desumana e, para
mudar isso,
atitudes
individuais e
isoladas são
efêmeras, ao
contrário de uma
mobilização
coletiva
primando por um
mundo de
regeneração com
mais justiça e
oportunidade.