Construindo a nossa
capacidade de
resiliência/resistência
Há poucas semanas uma
querida amiga
externou-me toda a sua
preocupação com o número
crescente de
desencarnações que ora
afligem muitas famílias
culminando por me pedir
para que algo escrevesse
a respeito. Muito bem.
Creio que não é mais
novidade alguma o fato
de que vivemos tempos
muito complicados nos
quais as sombras densas
- constituídas de
excessivas preocupações,
aflições, atribulações e
dores - atingem
implacavelmente, de modo
geral, o coração humano.
Com efeito, nenhum de
nós está isento de
passar por esse intenso
torvelinho de
dificuldades, tragédias
e adversidades. A
verdade nua e crua é que
os “tempos são
chegados”... Tempos,
aliás, de aferição de
valores, de conduta e de
progresso espiritual nos
quais cada um de nós
deve necessariamente
mostrar suas conquistas
interiores se, de fato,
as obteve.
Tendo sido devidamente
preparados pela mensagem
de Jesus há mais de dois
milênios, não cabe mais
alegarmos
desconhecimento ou
ignorância no que
concerne aos sagrados
objetivos que nos
competem realizar em
benefício da evolução
dos nossos Espíritos.
Cada um de nós já foi
apresentado, de uma
forma ou de outra, às
doces revelações do
Evangelho redentor.
Portanto, não podemos
mais virar as costas
para tão significativo
assunto da vida. Desse
modo, é chegada a hora
da nossa conscientização
e consequente
transformação para o bem
e o amor universal
(pilares do
desenvolvimento
espiritual).
A hora presente nos
impõe a necessidade de
sermos fortes, a fim de
resistirmos todos os
embates e lutas no
caminho da luz
imperecível. Para usar
um termo da moda,
precisamos ser
resilientes acima de
tudo para suportarmos os
pesos das provações e
expiações da nossa atual
experiência corpórea.
Nesse sentido, cabe
frisar que a resiliência
tornou-se um conceito
proeminente no âmbito
das ciências sociais nas
últimas décadas ganhando
espaço em muitos campos
do saber humano. Aqui o
empregamos obviamente no
terreno religioso para
refletirmos a respeito.
Assim sendo, cientistas
renomados têm proposto
que a resiliência
abrange a
capacidade psicológica
positiva de recuperação
das adversidades,
incertezas, conflitos,
fracassos ou até mesmo
aquelas mudanças
benéficas envolvendo o
progresso e aumento das
responsabilidades.[1] No
entanto, é inegável que
o positivo funcionamento
humano torna-se, talvez,
mais extraordinário e
saliente em contextos
sublinhados por
acentuados desafios da
vida e percalços.
Segundo eles ainda,
quando os indivíduos
estão sendo efetivamente
testados, podemos
identificar os seus
pontos fortes, isto é, o
que são, como surgem e
como são nutridos ou
prejudicados. [2]
Num nível mais básico, a
resiliência compreende
“a habilidade de
prosperar, amadurecer e
aumentar a competência
diante das
circunstâncias adversas
e obstáculos”.[3] Vale
também ressaltar que a
capacidade de
resiliência não apenas
pode se manifestar em
ações puramente
reativas, mas igualmente
em situações que
demandam aprendizado
proativo e crescimento
através da superação dos
desafios.
Essencialmente,
resiliência pode
requerer tanto medidas
proativas como reativas
diante da adversidade
que possa estar nos
atingindo. [4]
Por sua vez, a Doutrina
Espírita emprega com
assuiduidade o termo resistência para
expressar a necessidade
de desenvolvermos tal
capacitação. Pode-se,
assim, inferir que
resiliência e
resistência são termos
similares ou sinônimos,
já que propõem, a rigor,
a mesma coisa. Dito de
outra forma, precisamos
estar aptos a resistir
(ou sermos dotados de
resiliência) para
sobreviver a todas as
tempestades
existenciais. Afinal de
contas, é certo que não
alcançaremos um estágio
evolutivo superior sem
termos as marcas da
resistência gravadas em
nossas almas. Para nós
espíritas-cristãos há
muito a considerar nesse
particular.
Posto isto, o Espírito
Emmanuel esclarece que:
“O cristão é um ponto
vivo de resistência ao
mal, onde se encontre.
Pensa nisto e busca
entender a significação
do verbo suportar.
Não olvides a obrigação
de servir com Jesus. É
para isto que fomos
chamados.” [5]
Desse modo, os verbos
resistir, suportar e
aguentar são elementos
decisivos para o sucesso
da nossa encarnação. É
fundamental entender que
em distintos momentos e
ocasiões necessitamos
conjugá-los em nós
mesmos, isto é, no
exercício da nossa fé.
Sendo assim, Emmanuel
também adverte que:
“Contra a aspiração
bruxuleante do bem, no
dia que passa,
levanta-se a pesada
bagagem de sombras
acumuladas em nossas
almas desde os séculos
transcorridos.
Indispensável, portanto,
grande serenidade e
resistência de nossa
parte, a fim de que o
progresso alcançado não
se perca.
O Senhor concede-nos a
claridade de Hoje para
esquecermos as trevas de
Ontem, preparando-nos
para o Amanhã, no rumo
da luz imperecível.” [6]
Portanto, tenhamos plena
consciência de que
haveremos de passar por
intensos e frequentes
testes de resistência ao
longo da vida. Afinal de
contas, como poderemos
mostrar a Deus o nosso
valor sem tais
avaliações? Confiemos,
então, na Providência
Divina, que jamais nos
desempara, e roguemos
forças para suportar as
experiências decisivas –
geralmente adornadas
pela dor, decepção,
perda de entes queridos,
adversidades, fracassos
e reveses – e
indispensáveis à nossa
ascensão espiritual. Nos
dias mais conturbados
recorramos com mais
frequência às sempre
benéficas preces,
meditações, leituras
edificantes e passes,
alimentando, desse modo,
dentro de nós a
esperança e confiança em
dias melhores. Como
pondera Emmanuel,
“Provas, aflições,
problemas e dificuldades
se erigem na existência
como sendo patrimônio de
todos. O que nos
diferencia, uns diante
dos outros, é a nossa
maneira peculiar de
apreciá-los e
recebê-los”. [7]
Sendo essa a realidade
insofismável, lembremos,
por fim, que as
tempestades - por mais
destrutivas e intensas
que sejam - sempre cedem
à calmaria.
Notas:
1. Luthans,
F. (2002). The need for
and meaning of positive
organizational
behavior. Journal of
Organizational Behavior,
23(6), 695-706.
2. Ryff,
C.D., & Singer, B.
(2003). Flourishing
under fire: Resilience
as a prototype of
challenged thriving. In
C.L.M. Keyes & J. Haidt
(Eds.). Flourishing:
Positive psychology and
the life well-lived (pp.
15-36). Washington,
DC: American
Psychological
Association.
3. Conforme
citada em Lopez, S. J.,
Prosser, E.C., Edwards,
L.M., Magyar-Moe, J.L.,
Neufeld, J. E., &
Rasmussen, H. N. (2005).
Putting positive
psychology in a
multicultural context.
In Snyder, C.R. & Lopez,
S.J. (Eds.), Handbook
of positive psychology (pp.
700-714). New
York: Oxford University
Press.
4. Yuossef,
C.M., & Luthans, F.
(2007). Positive
organizational behavior
in the workplace: The
impact of hope,
optimism, and
resilience. Journal
of Management, 33(5),
774-800.
5. Xavier,
F.C. (Pelo Espírito
Emmanuel). (1977). Pão
Nosso. 5ª
edição. FEB: Rio de
Janeiro, capítulo
118.
6. ______.
Idem. Capítulo 136.
7. ______. (1977). Rumo
Certo. 2ª
edição. FEB: Rio de
Janeiro, capítulo
10.
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