Artigos

por Maria Imaculada Aria Kfouri

 

Sorte e milagre


Ao analisarmos superficialmente estes substantivos abstratos, imediatamente nos remetemos à educação religiosa que desde a infância nos foi ministrada, ora no lar, ora na igreja à qual toda a família e grande parcela da sociedade rendiam culto. Sem deixarmos de ser gratos pela formação que tivemos, hoje, com a maturidade do pensamento filosófico/religioso que construímos em nosso caráter, passamos a questionar e, sem preconceitos, pesquisar outras filosofias para, comparativamente, chegarmos a uma conclusão mais lógica daquilo no qual embasamos nossa efêmera existência.

Esbarramos, ao longo de 74 anos, em pessoas e situações que nos levavam a raciocinar e, sedentos de respostas lógicas convincentes, resultaram alguns apontamentos. Vejamos: - Qual é a lógica na postura de um Pai Eterno, que a alguns dos seus filhos distribui benesses, riquezas, saúde, meios de viver com tranquilidade, beleza física, linhagem familial de educação e cultura refinadas, possibilidades mil de frequentarem boas escolas e universidades, clubes sociais prestigiados, viagens? A outros, os “milagres” da cura, de uma pepita de ouro ou um belo diamante, de um príncipe que surgiu do nada e salvou a bela donzela das garras da bruxa má, de uma proteção individualizada à frente de perigos variados, do arrefecimento da ira da natureza em função de proteger alguns em detrimento de outros filhos de Deus, esse Pai tão mencionado em livros sagrados e nas vozes dos pregadores da dita “Palavra”. Esse raciocínio lógico clama por resposta lógica que condiga com a Bondade do Pai.

Sorte, milagres, azar... Há o que se pensar.

Quando algumas vezes questionei um sacerdote da igreja onde participava de grupos de estudos juvenis, CJC – Comunidade de Jovens Cristãos e JUC – Juventude Universitária Católica, ouvia a resposta: São mistérios de Deus que não devem ser questionados!

Ora, ora, somos proibidos de questionar e atravessarmos toda uma vida duvidando da Perfeição, da Misericórdia, da Bondade daquele que deveria ser nosso Pai Eterno?

E qual a razão das diferenças?

Não temos a liberdade de pensar e questionar por sermos proibidos de querer penetrar nos “mistérios divinos”, por estarmos cometendo uma heresia?

Curiosa e destemida, desafiei a mim mesma, a sociedade da qual faço parte, a família que me olha como uma ovelha desgarrada, e fui atrás de respostas esclarecedoras, lógicas, elucidativas, pois até então me sentia no escuro.

Não fui movida pela rebeldia! Mas sim pela motivação do raciocínio lógico e da fé que gostaria ser esclarecida.

Li os pensamentos de Sócrates, Platão, Rousseau, Pestalozzi, Lobsang Rampa; li Allan Kardec e finalmente minha mente explodiu. Fez-se a Luz!

Li novamente O Livro dos EspíritosO Evangelho segundo o Espiritismo, as obras de Léon Denis, Yvonne do Amaral Pereira, Hermínio C. de Miranda, Jorge Andréa dos Santos, André Luiz e Emmanuel. Não parei e então concluí: - Meu Deus! É neste Deus que eu acredito! É Ele que me abre a mente, dia a dia, para captar a luz da verdade libertadora! Agora entendo que o Universo é governado por Leis embasadas na Lei Maior: a Lei de Amor!

Se a Lei de Amor não for respeitada em sua totalidade, a outra, a Lei de Causa e Efeito, cumprirá o papel de reequilibrar o que foi desajustado pelas criaturas.

Não existem Sorte, Azar, Milagre!

Existem sim o “Esforço” e o “Mérito” e, para que haja condições de todos os filhos de Deus alcançarem a perfeição relativa, aos filhos o Pai concede o tempo, o espaço, o infinito dos mundos onde nascem, renascem, crescem e progridem... Ninguém jamais fica ao desamparo da Lei de Amor, que convoca toda criatura de Boa Vontade a servir. E todo aquele que serve através da renúncia ao que não faz Bem à alma e contribui para o progresso geral será aquinhoado com mais bênçãos, mais oportunidades, maior proteção.

A verdade libertadora me abriu um panorama real do Universo exibindo os infinitos mundos habitados, cada qual com seus avanços morais, tecnológicos, científicos, artísticos, numa ordem crescente de beleza e harmonia. A verdade das “criações mentais” que o sentimento deteriorado ou sublimado pode realizar no entorno do indivíduo, da família, da sociedade, dos mundos... Do trabalho dos Arcanjos guardiões, dos tarefeiros e aprendizes de toda ordem, constituindo a “grande família do Pai”. A Verdade que revela o potencial energético vibracional de cada ser criado por Deus, em franco movimento de aperfeiçoamento eterno.

Se me analisar sob o ponto de vista da Sorte ou do Milagre, digo que meu esforço, minha curiosidade e uma sintonia mais fina com os Espíritos guias me conduziram à busca das questões que realizei e hoje, numa enxurrada de livros e oportunidades, me vejo, já idosa, rejuvenescida, forte, corajosa para continuar abrindo as portas das revelações dos “Mistérios do Pai”, sem medo.

Não tenho medo da opinião dos que preferem a cegueira, o estacionamento filosófico, a escuridão do dogma, a autoridade efêmera da Terra.

Não tenho medo da Verdade, não tenho medo da morte, pois ela não existe.

Não tenho medo do meu próximo, não tenho medo de mim.    


Professora esperantista, evangelizadora e palestrante espírita, Maria Imaculada Aria Kfouri reside em Botucatu (SP).


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita