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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Trabalhadores da última hora: algumas considerações


Em suas inolvidáveis prédicas, Jesus Cristo também se reportou, de forma alegórica, aos “trabalhadores da última hora”, ensejando muitas interpretações, embora tenha deixado claro que, no seu ministério, o que conta efetivamente é a dedicação e o mérito de cada um. Como o evangelista registrou: “Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos” (Mateus, 20:16). Com efeito, é certo que a maioria de nós não testemunhou as acerbas provas enfrentadas pelos pioneiros da Boa Nova. Ou seja, aquelas pessoas intimoratas que colheram o opróbrio, a cruel perseguição e, por fim, a morte infame apenas por professarem sua fé em Jesus e na sua imorredoura mensagem.

Almas valorosas, é sempre oportuno ressaltar, deram as suas vidas para que a mensagem divina pudesse se instalar no coração humano a despeito de todas as assacadilhas a eles imputadas pelos agentes das trevas de todos os tempos. E graças a eles podemos hoje expressar nossa fé - em paz, vale destacar - no todo poderoso na maioria das nações do mundo. Com exceção aos guetos da radical e extrema ignorância, podemos caminhar com tranquilidade sem temer por nossas vidas devido às nossas convicções religiosas.

Entretanto, cumpre também reconhecer que o ideal cristão ainda não está completamente implantado na psique humana. Em outras palavras, a pureza e a singeleza dos ensinamentos do Mestre Jesus ainda não foram completamente internalizados pela humanidade. Desse modo, mão seria exagero afirmar que os que atualmente se dedicam, com sinceridade de propósitos, ao trabalho de dar continuidade aos postulados cristãos podem ser vistos como os autênticos “trabalhadores da última hora”.

De modo geral, são Espíritos que têm purgado intensamente os seus erros e desacertos ao longo dos séculos, mas agora se veem finalmente despertos à realidade superior. Nesse processo avassalador de conscientização e transformação, nós, espíritas, temos a missão desafiadora de espargir o Evangelho redivivo. Não aquele por muitos pregado como um processo de barganha, semelhante a um negócio vil, do qual nada realmente transformador emerge. Tal prática, aliás, nada de bom pode nos oferecer, pois não atinge o nosso íntimo como deveria nem tampouco nos livra das nossas sombras. Mas o Evangelho luminescente que opera as profundas mudanças do nosso ser rumo ao infinito e às realizações supremas.

Corroborando essa percepção, vale recordar a mensagem do Espírito Constantino, citada n’O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulo XX) – ou seja:

“Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade.”

Analogamente, o Espírito Erasto, na mesma obra nos conclama:

“Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo Infinito!... lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. [...] Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.

Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.”

O Espírito de Verdade, por sua vez, arremata as recomendações nos lembrando que os tempos de “transformação da humanidade” são chegados. Com efeito, parece que chegamos ao limiar de graves mudanças que nos forçam a repensar profundamente a nossa conduta. Posto isto, a sublime entidade espiritual vaticina que “Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado.”

Dentro da realidade ora vivida, “Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: ‘Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no Reino dos Céus’”.

Na atualidade, a Terra demanda a ação e cooperação concreta de Espíritos dedicados à construção do bem maior. Para onde olharmos certamente encontraremos campo de trabalho aguardando nosso esforço e empenho. Nesse sentido, como muito bem argumenta o Espírito Emmanuel, na obra que leva o seu nome no título e psicografada por Francisco Cândido Xavier, “Emprestemos o nosso concurso a toda as iniciativas que nobilitem o penoso esforço das coletividades humanas, e não olvidemos que todo bem praticado reverterá em benefício da nossa própria individualidade”.

Mostremos, pois, o nosso valor!


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita