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por Bruno Abreu

 

O caminho para o paraíso


Sabemos, através d’O Livro do Espíritos, que existem planetas de mundos evoluídos, onde reinam o Amor, a Paz e a Felicidade. 

Nós esperamos evoluir, para podermos ser meritosos ao ponto de fazer parte de um destes reinos e vivermos em paz e felicidade. Este desejo está tão gravado em nós que, mesmo antes de termos a Doutrina Espírita, já sonhávamos com este reino, que chamávamos de paraíso.

Comos chegaremos a um mundo destes ou ao paraíso?

Esta é uma pergunta muito importante, se quisermos chegar à paz e à felicidade.

Podemos dizer teoricamente que será através da evolução, mas tudo fica muito abstrato.

Vamos olhar para fora, para a humanidade. Como poderia a humanidade viver em paz e feliz?

Quem causa a tribulação, conflitos, sofrimentos e, consequentemente, a infelicidade à humanidade?

É ela própria, não existe outra fonte.

Como é que esta causa a si própria todo este mal?

Pela ganância, arrogância, egoísmo, orgulho, desejos, vícios, raiva, ódio e todos os outros males que causa.

O que tem tudo isso em comum?

O centro de onde parte e para o qual vivemos. Isto quer dizer: o Eu, para o qual vivemos. Estes males, descritos em cima, são ações, emoções, pensamentos e atos em prol de “mim”.

A ganância é para me enriquecer, o egoísmo é para mim ou porque eu mereço, o orgulho é porque eu sou bom, os desejos são aquisições pessoais de prazer e satisfação, os vícios são a satisfação dos desejos que tomaram conta de mim e me subjugam, a raiva é porque não admito o mal que me fizeram, o ódio é porque alguém me fez muito mal e por aí fora.

Parece-me que é fácil perceber que este “eu” está no centro de todas estas ações, emoções e desejos.

Jesus lembrou-nos que enquanto agradarmos a Mamon não poderemos agradar ao outro Senhor, a Deus.

Vivermos para o “eu” tem sido o cancro da humanidade. Enquanto colocarmos o eu na frente do todo, estaremos condenados ao sofrimento e baixa moral.

Esta forma de estar em nós é tão intrínseca que educamos as crianças, desde muito novas, a esta forma de estar, com termos e incentivos como “tu és o melhor”, “tu é que sabes”, “quem é o melhor bebé do mundo?”, “tens que ser o melhor da escola ou da turma”, “tens que ser alguém na vida”, educando-as para a individualidade e competição.

Até quando pensamos estar a fazer algo de bom para os outros, fazemos o que achamos mais correto, sem perguntar se querem ou se acham correto, e ficamos indignados se o nosso esforço não for valorizado. Esquecemos que o outro também tem a sua forma de estar e os seus gostos.

Como poderemos ultrapassar esta forma de estar egoísta e geradora de sofrimento?

Jesus ensinou-nos que seria através da indulgência e da resignação.

A indulgência é o silêncio da aceitação dos outros como são. Se tentarmos impor a nossa forma de estar, então não existe indulgência.

Para compreendermos esta forma de estar perante os outros, temos de perceber que todos somos diferentes, resultando em vontades e atos diferentes.

O ser humano funciona de uma forma particular, cada um com a sua forma de perceber o mundo, logo com formas de pensar e agir diferentes. A indulgência é compreender a verdade disso. Quando alguém tem uma ação que nos parece errada, ou diz algo que parece não ter nexo, para esta pessoa não é errado nem sem nexo. A indulgência é o silêncio resultante deste conhecimento, que se transforma em sabedoria quando colocado em prática.

As pessoas chocariam muito menos umas com as outras se tivessem consciência de que a razão é um resultado do raciocínio, em que a equação é a perceção de cada um, com base no seu conhecimento mais sua perceção da situação e suas emoções.

A resignação é a mesma forma de estar que a indulgência, mas perante a vida e seus acontecimentos.

A maior parte das coisas que acontecem na vida envolvem outras pessoas. A indignação perante os acontecimentos da vida é falta de resignação. Aceitar silenciosamente os acontecimentos da vida é a resignação.

Não podemos confundir resignação com inércia. Imaginem que vivemos numa zona onde acontece um cataclismo natural e a nossa casa cai. Aceitar esse facto, pois nada podemos fazer, é resignação. Indignarmo-nos com o que aconteceu é falta de resignação. É claro que todos precisamos de um tempo para aceitar, e quanto mais rápido melhor, pois necessitamos de reconstruir ou arranjar um espaço para vivermos.

A indignação leva-nos à frustração, que nos pode levar à raiva e à inércia, através da desistência ou depressão.

A resignação leva-nos a um silêncio que nos dá energia para nos mantermos calmos e percebermos a melhor maneira de continuar, pois a vida é uma caminhada. Rapidamente estaremos a procurar soluções, sem nos entregarmos à desgraça que nos aconteceu.

A indulgência e a resignação são ferramentas da Fé, da confiança de que nada acontece por acaso e que o fardo não é maior do que a força.

De nós partem as duas formas de estar, a egoísta ou a de trabalhar para um todo. A grande diferença entre uma e outra é para onde olhamos. Se queremos um retorno a nós ou a imposição da nossa forma de estar e ver as coisas, criamos um Ego forte e consumidor; se queremos o melhor para todos, tendo uma forma de estar caridosa, damos pouca importância ao Ego, de onde nascem as más tendências como o egoísmo ou o orgulho.

Com última forma de estar, ganhamos a paz e a felicidade.

Imagine o ser humano cheio de indulgência e resignação... Estamos a falar do fim dos conflitos pessoais e com os outros. Estamos a falar do paraíso.

Como diz a frase: “se queres combater a tua depressão, ajuda os que necessitam”, o todo em troca do eu.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita