O caminho para o paraíso
Sabemos, através d’O Livro do Espíritos, que
existem planetas de mundos evoluídos, onde reinam o
Amor, a Paz e a Felicidade.
Nós esperamos evoluir, para podermos ser meritosos ao
ponto de fazer parte de um destes reinos e vivermos em
paz e felicidade. Este desejo está tão gravado em nós
que, mesmo antes de termos a Doutrina Espírita, já
sonhávamos com este reino, que chamávamos de paraíso.
Comos chegaremos a um mundo destes ou ao paraíso?
Esta é uma pergunta muito importante, se quisermos
chegar à paz e à felicidade.
Podemos dizer teoricamente que será através da evolução,
mas tudo fica muito abstrato.
Vamos olhar para fora, para a humanidade. Como poderia a
humanidade viver em paz e feliz?
Quem causa a tribulação, conflitos, sofrimentos e,
consequentemente, a infelicidade à humanidade?
É ela própria, não existe outra fonte.
Como é que esta causa a si própria todo este mal?
Pela ganância, arrogância, egoísmo, orgulho, desejos,
vícios, raiva, ódio e todos os outros males que causa.
O que tem tudo isso em comum?
O centro de onde parte e para o qual vivemos. Isto quer
dizer: o Eu, para o qual vivemos. Estes males, descritos
em cima, são ações, emoções, pensamentos e atos em prol
de “mim”.
A ganância é para me enriquecer, o egoísmo é para mim ou
porque eu mereço, o orgulho é porque eu sou bom, os
desejos são aquisições pessoais de prazer e satisfação,
os vícios são a satisfação dos desejos que tomaram conta
de mim e me subjugam, a raiva é porque não admito o mal
que me fizeram, o ódio é porque alguém me fez muito mal
e por aí fora.
Parece-me que é fácil perceber que este “eu” está no
centro de todas estas ações, emoções e desejos.
Jesus lembrou-nos que enquanto agradarmos a Mamon não
poderemos agradar ao outro Senhor, a Deus.
Vivermos para o “eu” tem sido o cancro da humanidade.
Enquanto colocarmos o eu na frente do todo, estaremos
condenados ao sofrimento e baixa moral.
Esta forma de estar em nós é tão intrínseca que educamos
as crianças, desde muito novas, a esta forma de estar,
com termos e incentivos como “tu és o melhor”, “tu é que
sabes”, “quem é o melhor bebé do mundo?”, “tens que ser
o melhor da escola ou da turma”, “tens que ser alguém na
vida”, educando-as para a individualidade e competição.
Até quando pensamos estar a fazer algo de bom para os
outros, fazemos o que achamos mais correto, sem
perguntar se querem ou se acham correto, e ficamos
indignados se o nosso esforço não for valorizado.
Esquecemos que o outro também tem a sua forma de estar e
os seus gostos.
Como poderemos ultrapassar esta forma de estar egoísta e
geradora de sofrimento?
Jesus ensinou-nos que seria através da indulgência e da
resignação.
A indulgência é o silêncio da aceitação dos outros como
são. Se tentarmos impor a nossa forma de estar, então
não existe indulgência.
Para compreendermos esta forma de estar perante os
outros, temos de perceber que todos somos diferentes,
resultando em vontades e atos diferentes.
O ser humano funciona de uma forma particular, cada um
com a sua forma de perceber o mundo, logo com formas de
pensar e agir diferentes. A indulgência é compreender a
verdade disso. Quando alguém tem uma ação que nos parece
errada, ou diz algo que parece não ter nexo, para esta
pessoa não é errado nem sem nexo. A indulgência é o
silêncio resultante deste conhecimento, que se
transforma em sabedoria quando colocado em prática.
As pessoas chocariam muito menos umas com as outras se
tivessem consciência de que a razão é um resultado do
raciocínio, em que a equação é a perceção de cada um,
com base no seu conhecimento mais sua perceção da
situação e suas emoções.
A resignação é a mesma forma de estar que a indulgência,
mas perante a vida e seus acontecimentos.
A maior parte das coisas que acontecem na vida envolvem
outras pessoas. A indignação perante os acontecimentos
da vida é falta de resignação. Aceitar silenciosamente
os acontecimentos da vida é a resignação.
Não podemos confundir resignação com inércia. Imaginem
que vivemos numa zona onde acontece um cataclismo
natural e a nossa casa cai. Aceitar esse facto, pois
nada podemos fazer, é resignação. Indignarmo-nos com o
que aconteceu é falta de resignação. É claro que todos
precisamos de um tempo para aceitar, e quanto mais
rápido melhor, pois necessitamos de reconstruir ou
arranjar um espaço para vivermos.
A indignação leva-nos à frustração, que nos pode levar à
raiva e à inércia, através da desistência ou depressão.
A resignação leva-nos a um silêncio que nos dá energia
para nos mantermos calmos e percebermos a melhor maneira
de continuar, pois a vida é uma caminhada. Rapidamente
estaremos a procurar soluções, sem nos entregarmos à
desgraça que nos aconteceu.
A indulgência e a resignação são ferramentas da Fé, da
confiança de que nada acontece por acaso e que o fardo
não é maior do que a força.
De nós partem as duas formas de estar, a egoísta ou a de
trabalhar para um todo. A grande diferença entre uma e
outra é para onde olhamos. Se queremos um retorno a nós
ou a imposição da nossa forma de estar e ver as coisas,
criamos um Ego forte e consumidor; se queremos o melhor
para todos, tendo uma forma de estar caridosa, damos
pouca importância ao Ego, de onde nascem as más
tendências como o egoísmo ou o orgulho.
Com última forma de estar, ganhamos a paz e a
felicidade.
Imagine o ser humano cheio de indulgência e
resignação... Estamos a falar do fim dos conflitos
pessoais e com os outros. Estamos a falar do paraíso.
Como diz a frase: “se queres combater a tua depressão,
ajuda os que necessitam”, o todo em troca do eu.
Bruno Abreu reside em Lisboa,
Portugal.
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