Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

Em 1982, Chico Xavier se envolveu em mais um caso judicial, que envolveu o então deputado federal Heitor Alencar Furtado, de 26 anos, filho de Alencar Furtado, ex-líder do MDB cassado pelo AI-5.

Heitor foi assassinado logo após um comício de campanha para deputado estadual pelo PMDB. Depois de viajar 140 quilômetros, ele estacionou seu carro no acostamento para dormir um pouco, próximo da entrada de um posto de gasolina, na cidade de Nova América de Colina. Mal teve tempo de se acomodar no banco e esticar as pernas. Um tiro atingiu seu peito em cheio. A bala saiu da carabina do policial José Aparecido Branco, o Branquinho. Um primo da vítima, Fábio Alencar, assistiu à cena. Ele viajava num carro logo atrás e chegou no momento do disparo. Seu grito veio tarde demais: Não atirem, quem está no carro é o deputado Heitor Furtado.

O estampido ecoou no país inteiro, que ainda enfrentava a tal abertura lenta e gradual. O crime poderia ter motivos políticos. Muitos tentavam adivinhar o nome do mandante do assassinato. Branquinho insistia na tese do tiro acidental. O deputado Ulysses Guimarães, presidente nacional do PMDB, pediu justiça ao ministro Ibrahim Abi Ackel. O presidente Figueiredo manifestou revolta. O ministro da Marinha, almirante Maximiano da Fonseca, censurou o clima de violência generalizada. Tancredo Neves, candidato do PMDB ao governo de Minas, pediu um minuto de silêncio.

O jornal O Estado de S. Paulo imprimiu a manchete: "Arma que matou Heitor não disparou por acidente". Após descrever as perfeitas condições de uso da carabina, o jornal arriscou: "O policial agora pode ser condenado a trinta anos de prisão por assassinato por motivo fútil, caracterizando homicídio doloso". O réu insistia em sua inocência, mas, como todo pobre acusado por poderosos, admitia para si mesmo a hipótese de passar o resto da vida na prisão.

As cartas já estavam marcadas, quando uma testemunha de última hora entrou no jogo: Heitor Alencar Furtado, o morto. Em texto escrito por Chico Xavier e assinado pela vítima, veio a frase curta e grossa: "O disparo foi acidental". O pai do candidato a deputado conversou com Chico, leu e releu a carta, recebeu do além outros textos atribuídos a Heitor e deu o veredicto: As declarações são mesmo de meu filho. Em 1984, o Tribunal do Júri de Mandaguari bateu o martelo após 33 horas de julgamento: a morte foi mesmo provocada por um tiro acidental. O juiz desclassificou o crime de homicídio qualificado para homicídio simples, resultante de negligência, e a pena foi abrandada para oito anos e vinte dias.

Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita