O apego às coisas materiais é sinal notório de inferioridade
1. Quando se fala em perfeição humana, cogita-se de uma perfeição relativa e não absoluta, porque somente Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas. Se fosse dado à criatura humana ser tão perfeita quanto o Criador, ela tornar-se-ia igual a este, o que é obviamente inadmissível.
2. A perfeição humana consiste, segundo os ensinamentos de Jesus, em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem, o que deixa claro que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, visto que implica a prática de todas as outras virtudes.
3. Evidentemente, segundo o Espiritismo, toda a virtude tem seu mérito próprio, porquanto indica progresso do indivíduo na senda do bem. Há virtude sempre que resistimos voluntariamente ao arrastamento ao mal e às más inclinações; contudo, a sublimidade da virtude é o sacrifício do interesse pessoal em benefício do próximo, sem nenhum pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.
4. Reconhece-se a imperfeição espiritual por alguns sinais. O mais grave deles é o interesse pessoal. Aliás, o desinteresse real, verdadeiro, é algo tão raro na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fosse um fenômeno.
5. O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade. E quanto mais se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Com o desinteresse, ao contrário, ele demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro. É, no entanto, indispensável não confundir desinteresse com prodigalidade. Se o desinteresse é uma virtude, a prodigalidade irrefletida constitui sempre falta de juízo.
A paixão não é, em sua origem e em sua essência, um mal
6. Tornar-se um homem de bem é o primeiro passo para quem deseja alcançar a perfeição, tendo-se em vista que homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, amor e caridade na sua maior pureza e usa sempre de compreensão e de misericórdia para com o próximo.
7. O egoísmo, qual verme roedor, continua a ser um mal que se alastra por toda a parte e do qual cada pessoa é mais ou menos vítima. É preciso, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica.
8. Além de combater os vícios que porventura ainda apresente, deve o Espírito imperfeito lutar também contra qualquer subjugação pelas paixões.
9. Nesse sentido, uma distinção entre vício e paixão torna-se aqui necessária. Vício é tudo o que é contrário à virtude, como o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o exibicionismo, a ira, a maledicência, a hipocrisia, a avareza, o ciúme, a inveja, a preguiça, além dos hábitos que geram dependência física e psíquica.
10. A paixão não é, em sua origem e em sua essência, um mal, porquanto o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem e pode levá-lo à realização de grandes coisas. As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso quando passa a governar. O abuso delas é, por conseguinte, o que causa o mal.
A educação constitui a chave do progresso moral
11. As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência; mas o homem desavisado, em vez de as dirigir, permite que elas o dirijam e cai desse modo nos excessos, fato que pode esmagá-lo, porque se verifica então, em última análise, a exageração de uma necessidade ou de um sentimento.
12. Combatendo os vícios e não se deixando dominar pelas paixões, o indivíduo caminhará de modo firme em direção à perfeição, o que, evidentemente, não se realizará de um momento para outro.
13. Conhecidas as causas e identificado o mal a combater, o remédio se apresentará por si mesmo, cabendo a ele tão-somente destruí-lo, se não totalmente, ao menos parcialmente.
14. Poderá ser longo o processo, desde que numerosas sejam as causas, mas não infinito. A cura, no entanto, só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, ou seja, pela educação, não por essa espécie de educação que se preocupa tão-somente em tornar os homens instruídos, mas pela que tende a fazê-los homens de bem.
15. A educação convenientemente entendida constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a arte de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam as plantas novas. Essa arte exige, porém, muito tato, muita experiência e profunda observação.
Respostas às questões propostas
1. Em que consiste a perfeição humana, segundo os ensinamentos de Jesus?
A perfeição humana consiste, segundo Jesus, em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem, o que deixa claro que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, visto que implica a prática de todas as outras virtudes.
2. Qual é a virtude mais meritória?
Toda virtude tem seu mérito próprio, porquanto indica progresso do indivíduo na senda do bem, mas a mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.
3. Qual é, dos sinais característicos da imperfeição, o mais grave?
O mais grave desses sinais é o interesse pessoal. O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade.
4. Há diferença entre vício e paixão?
Sim. Vício é tudo o que é contrário à virtude, como o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o exibicionismo, a ira, a maledicência, a hipocrisia, a avareza, o ciúme, a inveja, a preguiça, além dos hábitos que geram dependência física e psíquica. A paixão não é, em sua origem e em sua essência, um mal, porquanto o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem. As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso quando passa a governar. O abuso delas é, por conseguinte, o que causa o mal.
5. A educação pode exercer um papel importante no progresso moral do indivíduo?
Evidentemente. A educação convenientemente entendida constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a arte de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam as plantas novas.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questões 893 a 896, 907, 908, 917 e 918.
O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, cap. XVII, itens 2, 3 e 8.
Religião dos Espíritos, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, p. 124.