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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 2 - N° 96 – 1º de Março de 2009

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)

 

Flávio Mussa Tavares:

“Meu pai marcou pela correção de seu proceder na vida e pela lealdade aos princípios cristãos e espíritas”

Filho do saudoso escritor Clóvis Tavares, Flávio Mussa Tavares
fala sobre a pessoa e a obra de seu pai, autor de obras
espíritas importantes e um dos pioneiros das
mocidades espíritas no Brasil
 

Nosso entrevistado, Flávio Mussa Tavares (foto), é filho do notável escritor e palestrante espírita Clóvis Tavares, que deixou expressiva contribuição literária para expansão do pensamento espírita. Flávio nasceu e reside em Campos dos Goytacazes (RJ), vincula-se à Escola Jesus Cristo, que atualmente preside.

 Nascido em berço espírita, tem três livros publicados: Mandamentos de Deus, A Morte é simples mudança e Célia Lúcius, Santa Marina. Nas respostas do entrevistado, um pequeno resgate da memória do saudoso Clóvis.  

O Consolador: Clóvis Tavares é um nome respeitado na literatura e no movimento    espírita.    Faça      uma

síntese biográfica dele. 

Nasceu na localidade de São Sebastião, distrito de Campos, no dia 20 de janeiro de 1915, dia de São Sebastião. Viveu uma infância católica, ao lado do Padre francês, Emmille Des Touches. Na juventude, integrou um grupo de jovens que combatiam a exploração do homem pelo homem e foi dirigente político do PCB. Após a morte de sua noiva, tornou-se espírita ao reconhecê-la numa comunicação mediúnica com muitos traços de autenticidade, bastante para convencer um jovem dogmático e ateu. Após sua conversão, funda a Escola Jesus Cristo à qual dedicou-se até os 69 anos, quando desencarnou na mesma cidade. 

O Consolador: Quais foram os livros que ele publicou? 

Escreveu uma série de livros infantis: Dez Mandamentos, Histórias que Jesus Contou, Meu Livrinho de Orações, Vida de Allan Kardec para a Infância. Escreveu também biografias: João Batista, Vida de Pietro Ubaldi, Trinta Anos com Chico Xavier, Amor e Sabedoria de Emmanuel. Escreveu ainda livros com conteúdo filosófico-religioso: De Jesus para os que Sofrem, Sal da Terra, Rocha dos Séculos. Publicou livro de pesquisa biográfica e mediúnica: Mediunidade dos Santos. E um livro em parceria com Chico Xavier: Tempo e Amor. Uma nota triste é que a LAKE, que publica os livros infantis, adulterou à sua revelia o conteúdo do livro Meu Livrinho de Orações

O Consolador: Como ele se tornou espírita? Ele chegou a fundar instituições? A qual se vinculou mais diretamente? 

A sua profissão de fé, solenemente entregue à Federação Espírita Brasileira, na pessoa do Dr. Guillon Ribeiro, deu-se após uma comunicação do Espírito de Nina Arueira, sua noiva prematuramente desencarnada. Logo após, seguindo diretrizes espirituais, fundou a Escola Jesus Cristo. Foi a única instituição espírita à qual se vinculou. 

O Consolador: Quem foi Nina Arueira na vida de Clóvis e que influência exerceu sobre ele? 

Nina Arueira era uma jovem destemida e avançada no tempo, que viveu em Campos na década de 30. Escrevia artigos para os jornais da cidade, fazia conferências em teatros, liderava movimentos estudantis e operários até que vitimou-se de uma febre tifoide que a internou por alguns meses na casa de um senhor espírita que conseguiu convencê-la da verdade espiritual do ser humano e da justiça divina através da lei da reencarnação e de causa e efeito. Após sua morte, o choque emocional de meu pai fê-lo procurar uma senhora em Campos que transmitiu os recados para ele, na mesma forma e na língua em que eles se escreviam particularmente: inglês. A partir daí, conheceu Chico Xavier, o que mudou para sempre seu destino. 

O Consolador: E como foram o encontro e a convivência com Chico Xavier e Pietro Ubaldi? 

Chico Xavier e meu pai se conheceram em 1936, mas passaram a se visitar e trocar correspondência a partir de 1938, o que durou até 1983. De Chico escreveu meu pai um livro de memórias que traz muitas verdades escondidas nas entrelinhas: Trinta Anos com Chico Xavier e Amor e Sabedoria de Emmanuel. As cartas são um repositório de sabedoria. Pietro Ubaldi foi seu correspondente de 1950 até início de 1972.  Meu pai traduziu dele As Noúres, Ascese Mística e Problemas Atuais.  

O Consolador: Após a desencarnação, ele enviou mensagens? 

Meu pai enviou 6 cartas mediúnicas através de seu amigo Chico Xavier, que em breve devem ser publicadas com os devidos comentários num livro que se chama "A Saudade é o Metro do Amor".  

O Consolador: Suas palestras eram caracterizadas pela eloquência e grande inspiração. Comente sobre isso. Elas foram transformadas em livros?  

Suas palestras eram doutrinárias e evangélicas. Falava com o coração e empolgava e sensibilizava a muitos. Além dos livros que já preparamos com suas palestras, Rocha dos Séculos e Sal da Terra, estamos em contato com o produtor de vídeo Oceano Vieira de Melo, que está juntando material para um documentário em DVD sobre a vida e a obra de Clóvis Tavares, que deve ser lançado em 2010. 

O Consolador: Comente a pesquisa de seu pai sobre a personagem Célia do célebre romance 50 Anos Depois, de Emmanuel. 

Papai pesquisava em livrarias do Rio e nos sebos as vidas dos santos, para descobrir se eles foram médiuns e que tipos de mediunidade tinham. Um dia encontrou uma pequena brochura a respeito de certa Santa Marina, que havia vivido em Alexandria. Ao ler a pequena biografia, percebeu tratar-se exatamente de Célia Lúcius, que no mosteiro passou a chamar-se Irmão Marinho e que após sua morte, descoberta sua real identidade, foi chamada Santa Marina. E ele enfatizava como poderia o Chico conhecer este mundo inesgotável de sabedoria, cultura e ciência? Ajuntando seus apontamentos, lancei em 18 de junho de 2008, dia consagrado na Igreja católica, em Veneza, a Santa Marina, o livro que relata as coincidências do livro 50 Anos Depois com os diversos textos das igrejas católica, maronita do Líbano, ortodoxas grega e russa. 

O Consolador: Como filho, quais os aspectos mais marcantes da convivência com Clóvis, tanto no âmbito familiar como nas atividades espíritas? 

Papai marcou pela correção de seu proceder na vida, pela lealdade aos princípios cristãos e espíritas e acima de tudo por viver absolutamente em consonância com os princípios que pregava. Em família, era um pai zeloso e sempre disponível para as nossas necessidades materiais e espirituais.  

O Consolador: E sobre o livro A Mediunidade dos Santos, o que você tem a dizer?  

Mediunidade dos Santos é, segundo Chico Xavier, "a obra-prima do Clóvis”. Todas as informações ali contidas foram confirmadas por meu pai após a sua desencarnação, quando ele se encontrou com alguns dos seus biografados no plano espiritual. Isso ele relata em algumas de suas comunicações pelo lápis de Chico Xavier, que estão inseridas no livro A Saudade é o Metro do Amor, a publicar. 

O Consolador: As obras Amor e Sabedoria de Emmanuel e Os Dez Mandamentos, marcantes na visão deste entrevistador, podem ser consideradas marcos na produção literária do autor? 

São momentos bem diversos. A primeira foi um preito de gratidão ao nobre Espírito Emmanuel, que traz notícias e revelações. Foi o último livro que escreveu e que viu publicado. Já o segundo foi o seu primeiro trabalho publicado, dirigido especialmente ao público infantil, que necessita conhecer os detalhes da primeira revelação. Se a criança aprende a ética judaica expressa no Decálogo, entendia ele, ela está igualmente preparada para absorver a ética do Sermão da Montanha e, após isso, das Leis Morais, de O Livro dos Espíritos.   

O Consolador: Todos os livros que ele escreveu estão disponíveis ou muitos se encontram esgotados? 

Quase todos se encontram nas livrarias e distribuidoras, com exceção de Sal da Terra, que foi uma edição limitada e que em seis meses esgotou-se. Estamos à procura de uma editora que o publique. 

O Consolador: Acrescente informações que você julga importantes para conhecimento dos nossos leitores. 

Meu pai fundou dois orfanatos na Escola Jesus Cristo. Um feminino, que permaneceu por mais de 50 anos, e outro masculino que durou menos, e que foi dirigido por ele mesmo. Educou dezenas de meninos e meninas, usando sempre uma recordação do Dr. Bezerra de Menezes: "Nada Pedir, Nada Reclamar". Fundou em consonância com Leopoldo Machado uma das primeiras Mocidades Espíritas do Brasil em 1940 e iniciou, ainda na década de 30, um estudo sistematizado da Codificação Espírita que permanece até hoje, seguindo o seu modelo, sem férias e aberto à comunidade. 

O Consolador: Suas palavras finais. 

Espero que possamos reconhecer os fundamentos doutrinários do Espiritismo, vivê-los de modo simples e multiplicá-los. Multiplicar bênçãos é um dever de todos que entenderam a parábola do Semeador. E assim, espalhando conhecimento, alegria e fraternidade, foi o que o meu pai fez.
 
 


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