A fé autêntica não fica estagnada em circunstância nenhuma
1. O vocábulo “fé” tem várias acepções. No sentido comum, significa a confiança do indivíduo em si mesmo, pois os que disso são dotados são capazes de realizações que pareceriam impossíveis àqueles que de si duvidam. Dá-se igualmente o nome de fé à crença nos dogmas dessa ou daquela religião, casos em que recebe adjetivação específica: fé cristã, fé judaica, fé católica etc.
2. Existe, por fim, a fé pura, a fé não sectária, que se traduz por uma segurança absoluta no amor, na justiça e na misericórdia de Deus. De todas as espécies de fé, esta é, sem dúvida, a mais sublime e também a mais difícil de ser encontrada, por constituir apanágio de poucas almas de escol, cujo aprimoramento vem de longo tempo.
3. Ter fé em Deus é guardar no coração luminosa certeza de que nosso Pai existe e não deixa ao desamparo nenhum dos seus filhos, convicção essa que ultrapassa o âmbito da simples crença religiosa. Conseguir fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: “eu creio”, mas sim: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento.
4. Essa fé não fica estagnada em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor, pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido. Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e os problemas, com a luz divina no coração.
Levada ao excesso, a fé cega pode produzir o fanatismo
5. Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais que distinguem as diferentes religiões e sob esse aspecto a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega, como o próprio nome indica, tudo aceita sem verificação, tanto o verdadeiro quanto o falso, e pode, obviamente, a cada passo, chocar-se com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Assentada no erro, cedo ou tarde desmorona.
6. Somente a fé que se baseia na verdade garante a sua perenidade, porque nada teme do progresso das luzes, pois o que é verdadeiro na obscuridade também o é à luz meridiana. Duas condições requer a verdadeira fé. A primeira é não rejeitar a razão e poder ser, assim, raciocinada. A segunda condição é prender-se à verdade, sem jamais compactuar com a mentira.
7. Fato digno de nota é que a fé verdadeira não se conquista de uma hora para outra. Ela se adquire com o tempo, é fruto de experiências vivenciadas, embora pareça de algum modo inata em certas pessoas, nas quais uma centelha basta às vezes para desenvolvê-la, o que constitui sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, a dificuldade de ter fé é muito grande, um indício não menos evidente de uma natureza retardatária ou pelo menos refratária a isso.
8. Em seu livro “O Consolador”, Emmanuel estabelece uma distinção entre crer e ter fé. Crer diz respeito à crença. O ato de crer em alguma coisa demanda a necessidade do sentimento e do raciocínio para que a alma edifique a fé em si mesma. Inspiração divina, diferentemente da simples crença, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, como tal, é a base da regeneração.
A fé não se prescreve nem se impõe, mas pode ser adquirida
9. Idêntico ensinamento encontramos no cap. VII – 2a Parte do livro “O Céu e o Inferno”, de Kardec, no qual o guia da médium que serviu de intermediária no caso Xumene explicou por que o Espiritismo não torna imediatamente perfeitos nem mesmo os mais crentes adeptos: “A crença é o primeiro passo; vem em seguida a fé e a transformação por sua vez, mas, além disso, força é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual”.
10. A fé sincera é empolgante e contagiosa. Comunica-se aos que não a têm ou mesmo não desejam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma, ao passo que a fé aparente utiliza tão-somente palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta.
11. É de Kardec este conhecido pensamento: “Fé inabalável somente o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”. A importância da fé é destacada pelo Codificador do Espiritismo em várias passagens de sua obra, como Jesus o fez em diversos momentos, como o trecho, anotado por Mateus, em que o Mestre afirmou a seus apóstolos que, se eles tivessem fé do tamanho de um grão de mostarda, diriam a uma montanha: “Transporta-te daí para ali” e ela seria transportada.
12. “Tudo é possível àquele que tem fé”, ensinou Jesus, consoante lemos em Marcos, 9:23, afirmativa essa que demonstra a importância da fé em nossa vida e nos anima a tudo fazer por conquistá-la, certos de que, conforme asseverou Kardec, a fé não se impõe nem se prescreve, mas pode ser adquirida, não existindo ninguém que esteja impedido de possuí-la. Para crer é preciso, porém, compreender, porquanto – adverte o Codificador do Espiritismo – a fé cega já não tem lugar em nosso mundo.
Respostas às questões propostas
1. Como podemos conceituar a fé?
O vocábulo “fé” tem várias acepções. No sentido comum, significa a confiança do indivíduo em si mesmo, pois os que disso são dotados são capazes de realizações que pareceriam impossíveis àqueles que de si duvidam. Dá-se igualmente o nome de fé à crença nos dogmas dessa ou daquela religião, casos em que recebe adjetivação específica: fé cristã, fé judaica, fé católica etc.
2. Que é fé cega? E que é fé raciocinada?
A fé cega, como o próprio nome indica, tudo aceita sem verificação, tanto o verdadeiro quanto o falso, e pode, obviamente, a cada passo, chocar-se com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Assentada no erro, cedo ou tarde desmorona. A fé raciocinada é a que não rejeita a razão e prende-se à verdade, sem jamais compactuar com a mentira.
3. Existe diferença entre crença e fé?
Sim. No livro “O Consolador”, Emmanuel diz que crer diz respeito à crença. Inspiração divina, diferentemente da simples crença, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, como tal, é a base da regeneração. Idêntico ensinamento encontramos no cap. VII – 2a Parte do livro “O Céu e o Inferno”, no qual o guia da médium que serviu de intermediária no caso Xumene diz que a crença é o primeiro passo; a fé virá em seguida e, por último, a transformação, mas para isso é preciso que muitos tenham de revigorar-se no mundo espiritual.
4. É possível comunicar a fé a alguém por meio da imposição?
Não. Segundo Kardec, a fé não se impõe nem se prescreve, mas pode ser adquirida, não existindo ninguém que esteja impedido de possuí-la. Para crer é preciso, porém, compreender, porquanto – adverte o Codificador – a fé cega já não tem lugar em nosso mundo.
5. Jesus de Nazaré deixou-nos algum ensinamento acerca da fé e de sua importância?
Sim. “Tudo é possível àquele que tem fé”, ensinou Jesus, consoante lemos em Marcos, 9:23, afirmativa essa que demonstra a importância da fé em nossa vida e nos anima a tudo fazer por conquistá-la.
Bibliografia:
O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XIX, itens 1 a 11.
O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, 2a Parte, cap. VII.
Depois da Morte, de Léon Denis, pp. 258 a 262.
Páginas de Espiritismo Cristão, de Rodolfo Calligaris, p. 38.
O Espírito do Cristianismo, de Cairbar Schutel, p. 311.
O Consolador, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, questões 354 e 355.
Roteiro, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, pp. 51 a 53.
Palavras de Emmanuel, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, pp. 93 a 97.
O Espírito da Verdade, de Espíritos diversos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, pp. 70 e 71.
Após a Tempestade, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo P. Franco, pp. 16 a 20.
Estudos Espíritas, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo P. Franco, pp. 113 a 116.