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Ano 4 - N° 183 - 7 de Novembro de 2010

ALMERINDA TEREZINHA MEDEIROS DE SOUZA
tereca.s@terra.com.br 
Santa Maria, Rio Grande do Sul (Brasil)

 

Capacitação administrativa para gestão de Casas Espíritas

Apenas o conhecimento e vivência doutrinária aliados à boa vontade e disposição não são, para os dias atuais, suficientes para alguém ser um bom Dirigente Espírita


Desde a Codificação, há quase 150 anos, a Doutrina Espírita permanece moderna, plena, íntegra. Diferente foi o ocorrido com o Movimento Espírita, que já viveu, ao longo desse tempo, várias etapas, dificuldades e também muitas conquistas. Muito se construiu e ainda está sendo construído, pois o crescimento do Movimento Espírita é uma realidade não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Os dirigentes e suas equipes nas Casas Espíritas, pessoas abnegadas e trabalhadoras, muito realizam para que estes resultados possam ser comemorados, entretanto é necessário avançar mais e mais. Mesmo com avanços, a administração do Centro Espírita nos dias atuais continua sendo, acima de tudo, uma atividade de muita dedicação e esforço, mas também é uma atividade complexa e variada, por depender quase exclusivamente da colaboração de voluntários, aliada à pouca existência de recursos financeiros para o cumprimento dos objetivos, entre tantas outras dificuldades.

No passado, quando o Espiritismo foi perseguido e ameaçado, o papel do Dirigente foi o do batalhador que defendeu a causa e a Casa com empenho e coragem, colocando-se mesmo em posição de sacrifício em prol da Doutrina Consoladora.

Hoje, os desafios propostos ao Dirigente são outros e envolvem questões quanto à sobrevivência da Casa, ao acompanhamento efetivo do trabalho, considerando que as necessidades e expectativas de todos que procuram a Doutrina se tornam cada vez mais exigentes, assim como o atendimento aos compromissos legais e fiscais, e mais especificamente das instituições beneficentes, entre outros.

Além do conhecimento e vivência doutrinária, da boa vontade e disposição, podemos definir que a preparação e o conhecimento técnico em Gestão são requisitos necessários aos dirigentes e demais trabalhadores das Casas Espíritas. (1)

O CCA reúne dois aspectos inovadores:
o tema e a metodologia

Na prática, isso significa dizer que apenas o conhecimento e vivência doutrinária aliados à boa vontade e disposição não são, para os dias atuais, suficientes para alguém ser um bom Dirigente Espírita.

Todos sabemos que, se pretendemos realizar um trabalho com mais qualidade na Casa Espírita em que nos encontramos, é muito importante conhecer a proposta de atividades, sua estrutura setorial, as pessoas responsáveis e o perfil dos frequentadores e dos próprios trabalhadores. Feito isso, será preciso conciliar o desejo ardente de prosseguir, servindo, com a necessária preparação. Deste modo, sempre imbuídos de boas intenções e instrumentalizados para atuar com eficiência na busca de resultados na tarefa que escolhemos, atingiremos os objetivos máximos da proposta espírita. “À Doutrina Espírita está reservada a sublime tarefa de educar, auxiliar, aliviar, esclarecer e atuar em todas as necessidades humanas”, alertou-nos Kardec.

Com o propósito de preencher lacunas já percebidas por muitos que se dedicam ao árduo trabalho de administrar uma Instituição Espírita, o projeto Capacitação Administrativa para Dirigentes de Casas Espíritas foi desenvolvido. Esse projeto é hoje conhecido pela sigla CCA.

Desde a sua apresentação e aprovação pelo Conselho Federativo Nacional em novembro de 2002, o CCA (2) vem sendo implementado em todas as regiões do País, através de multiplicadores capacitados pelas Federativas Estaduais.

O CCA reúne dois aspectos inovadores: o tema e a metodologia. Por isso requer, de todos os envolvidos no processo, muita persistência e dedicação, pois está quebrando paradigmas e trilhando caminhos antes não percorridos.

O tema - Administração -, aliado aos saberes da Psicologia, da Andragogia e da Pedagogia, visa favorecer os participantes na aquisição de competências renovadas para o desempenho da difícil e nobre missão que receberam, valendo ressaltar que a metodologia utilizada - estudo a distância e atividades presenciais em sala de aula - é inovadora no Movimento Espírita.

O CCA tem como objetivo desenvolver as
competências de gestão

Nas atividades de autodesenvolvimento a distância, o educando adquire conhecimentos e aplica-os em atividades práticas, para, posteriormente, trazer aos encontros com os demais participantes as suas experiências, dúvidas e aprendizagens, com o fim de sistematizar o que aprendeu e dirimir as possíveis dúvidas.

Podemos com segurança afirmar que o enfoque central do Curso está no aspecto andragógico (educação do indivíduo adulto), enfatizando-se a necessidade que o adulto tem de aprender a partir de suas experiências, percebendo e sistematizando os conhecimentos. Essa preocupação com a construção de uma aprendizagem sólida e bem fundamentada, considerando que o processo de capacitação dispõe de um tempo escasso que precisa ser otimizado, é a razão para o Curso adotar uma estratégia mista de ensino-aprendizagem: o Ensino Presencial e a Educação a Distância (autodesenvolvimento), uma atividade ainda pouco utilizada nas lides espíritas.

O CCA tem como objetivo geral desenvolver as competências de gestão empreendedora no Dirigente Espírita, preservando os valores Doutrinários, capacitando-o a desempenhar com espírito crítico e consciência o seu papel na unidade fundamental do Movimento Espírita.

Ainda, como objetivos específicos, o CCA visa possibilitar:

a) o entendimento básico das questões que envolvem a administração dos recursos materiais e dos colaboradores que compõem a Casa Espírita;

b) a compreensão dos processos administrativos em geral, e especificamente os relacionados com a organização espírita; e

c) uma visão atualizada da gestão de pessoas e da administração focada em resultados, sejam estes avaliados a curto, médio e longo prazos.

Para cumprir esses objetivos, o programa está estruturado em cinco unidades, conforme descrito abaixo:
 

Unidade

Capítulo

Conteúdo Programático

 

 

I. A CASA ESPÍRITA

1

Conceito, funções e atividades

2

A Casa Espírita e seu papel na sociedade

3

A Estrutura de uma Casa Espírita

4

Aspectos jurídicos da Casa Espírita

5

A Casa Espírita e sua sustentabilidade

 

 

 

II. O DIRIGENTE DE UMA CASA ESPÍRITA

1

Características e definições do papel doutrinário e administrativo do Dirigente Espírita

2

Contexto de trabalho do Dirigente Espírita

3

Valores direcionais na atuação do Dirigente Espírita

4

Avaliar e ser avaliado

5

Dirigente como condutor de mudanças

6

Prestar contas: hoje e amanhã

 

III. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO MOVIMENTO ESPÍRITA

1

Movimento Espírita - definições e histórico brasileiro

2

Trabalho federativo e de unificação do Movimento Espírita

3

Estrutura do Movimento Espírita brasileiro

4

Missão espiritual do Brasil

 

 

IV. O DIRIGENTE ESPÍRITA E OS COLABORADORES

1

A união na Casa Espírita

2

A equipe na Casa Espírita

3

Conhecimento dos integrantes da equipe

4

Comunicação e relacionamento da Equipe

5

Melhoria do relacionamento na equipe

6

O Caráter de servidor do Dirigente Espírita

7

Aprendizagem e crescimento da equipe

 

V. O DIRIGENTE ESPÍRITA E SEU PROCESSO DE TRABALHO

1

Planejamento de atividades e responsabilidades

2

Administrando o tempo

3

Reuniões produtivas

4

Gestão de Resultados

5

Ferramentas da Qualidade

O conteúdo programático do CCA é bastante abrangente e oportuno, abordando todos os aspectos relacionados com as atividades gerenciais e operacionais de uma Casa Espírita. Utiliza uma linguagem atual de acordo com a moderna Ciência Administrativa, respaldada por conteúdos extraídos das obras da Codificação e outras complementares. Também podemos afirmar que o Curso combina um forte conteúdo conceitual com uma contínua reflexão sobre a realidade do Movimento Espírita.

Pelo que podemos observar, temos no CCA mais uma excelente oportunidade de aperfeiçoamento do nosso trabalho nas tarefas espíritas, em todos os níveis, porque tanto os Dirigentes quanto as equipes de trabalho não nascem maduros e produtivos.

Uma equipe que funcione é sempre uma busca, uma aproximação do ideal. Para isso, a cooperação e a orientação aos seus integrantes tornam possível que interpretações divergentes possam conviver e formular novas ideias e maneiras criativas de atuar.

Desta forma, todas as pessoas precisam ter uma visão ampla do que estão fazendo, perceber o impacto de sua atuação no todo. O foco da atuação de cada um se amplia; ao invés de realizar atividades isoladas, passa-se a valorizar os resultados que a equipe, como conjunto, é capaz de gerar para fora (o público com que se trabalha) e para cada um dos indivíduos envolvidos.

Também cresce a importância de serem definidos objetivos claros e de pactuar prioridades; cresce, também, a necessidade de planejar coletivamente o processo necessário para atingir os objetivos, aproveitando os talentos e experiências existentes no grupo e evitando duplicações.

A contribuição individual e seu impacto no trabalho da equipe são mais facilmente compreendidos, aumentando a participação e o envolvimento. A troca de informações entre os membros da equipe precisa ser organizada de maneira dinâmica, de forma que os canais de comunicação disponíveis possam ser mais bem utilizados. A ênfase passa a ser em resultados compartilhados, ao invés de um conjunto de resultados individuais.

O trabalho que se realiza exige de todos
muita persistência e disciplina

Ao modificar o caráter do trabalho em equipe, muda, fundamentalmente, o papel do Dirigente de uma instituição, programa ou projeto. Sua responsabilidade passa a ser pelo processo como um todo. Deve ser capaz de captar o sentido da equipe e de deixar que ela própria se organize e proponha soluções.

Em certo sentido, deixa de ser o centro de decisões, o que permite que apareçam outras lideranças relevantes para o que se quer realizar. Sua melhor atuação está em levantar as questões-chave para o projeto ou para a organização. Que lições aprendemos? O que podemos aprender com o trabalho na prática? Por que está funcionando? Por que não está? Como fazer melhor da próxima vez? Que novos desafios esta realidade nos coloca?

Por fim, coloca-se como necessidade organizar a memória do trabalho, de forma que as informações estejam disponíveis para todos e possam ser compartilhadas de maneira rápida e prática. Se existe autonomia entre os membros de uma equipe, é esperado que participem com novas propostas ao longo do trabalho, aproveitando oportunidades.

No fundamental, o que se pode esperar é que sejam capazes de criar soluções e de direcionar seus melhores esforços a objetivos comuns e que os resultados apareçam em várias frentes: beneficia os públicos com que a organização se relaciona, as pessoas individualmente e a própria imagem institucional.

Todas estas reflexões deverão estar presentes nos organizadores, monitores e facilitadores do CCA. O trabalho que se realiza exige de todos muita persistência e disciplina pelo aspecto diferenciado em que este ocorre. Contudo, os resultados alcançados compensam os esforços que estão sendo implementados.

Finalmente, lembremos as palavras de Emmanuel: “Auxiliemos o próximo, sustentando, ainda, todos aqueles que procuram auxiliar”.

 

Notas:

(1) Este artigo baseia-se no documento Introdução ao Curso de Capacitação Administrativa para Gestão de Casas Espíritas, organizado pela Comissão Assessora da Secretaria Geral do Conselho Federativo Nacional da FEB – Brasília, junho de 2003.

(2) A sigla CCA refere-se ao Curso de Capacitação Administrativa para Dirigentes Espíritas (CCA), desenvolvido e aprovado pelo Conselho Federativo Nacional (CFN) em 2002, o qual vem sendo trabalhado e aperfeiçoado, desde então, em todo o País. 

Para entender melhor do que trata o CCA, veja a entrevista que a Autora concedeu a esta revista, clicando em http://www.oconsolador.com.br/ano3/149/entrevista.html 


 


 

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