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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 5 - N° 207 - 1° de Maio de 2011

 


Que susto!

 

Menina egoísta e rebelde, Julieta desejava sempre que lhe fossem feitas todas as vontades. Como a mãezinha, consciente do seu papel de educadora dentro do lar, muitas vezes chamasse sua atenção, Julieta ficava brava e inconformada.  

Queixava-se da mãe para quem quisesse ouvir, acusando-a de incompreensão e maldade.        

— Minha mãe é uma megera. Não gosto dela e ela não gosta de mim — afirmava para as amigas. 

— Você está enganada, Julieta. Conheço sua mãe e ela gosta muito de você — considerava Márcia, sua vizinha. 

— Mas se ela não me deixa fazer nada! Vive criando obstáculo em tudo. Ontem mesmo, ralhou comigo porque saí com umas amigas.        

Novamente Márcia, mais sensata, retrucou: 

— Pelo que soube, você chegou muito tarde em casa e não tinha sequer avisado sua mãe que ia se demorar.  

Descontente, Julieta perguntou: 

— E como é que você sabe disso? Anda bisbilhotando minha vida? 

— Claro que não, Julieta. Sua mãe foi à minha casa procurar você. Não sabia onde estava e queria obter notícias suas. Estava extremamente preocupada e a ponto de avisar a polícia do seu desaparecimento. 

Envergonhada perante as demais colegas, Julieta abaixou a cabeça, constrangida, percebendo que elas davam razão para a sua mãe.  

— Hum! Ela faz isso não é por preocupação. Afinal, já tenho doze anos e sei o que faço. Deseja é fazer escândalo para me prejudicar perante os outros. Mas vamos mudar de assunto. Não quero mais falar sobre isso. 

E era sempre assim. Quando possível, não deixava de falar mal da mãe, fazendo-se de vítima. 

Certo dia, Julieta chegou à sua casa e não viu a mãe. “Deve ter ido fazer compras”, pensou.   

Acomodou-se no sofá e ligou a televisão. Ficou entretida durante horas. Sentia fome. Só então lembrou que ainda não almoçara. Como estivesse acostumada a receber tudo na mão, nem pensou em preparar algo para comer. 

A fome, porém, era muita. Onde estaria sua mãe? Fez um sanduíche e comeu, de má vontade. Sentia-se revoltada. Por que sua mãe não fizera o almoço? Quando ela voltasse ia ter que explicar direitinho! 

Mas as horas passavam e a mãe não chegava. Julieta começou a ficar inquieta. O silêncio da casa incomodava. Nunca ficara sozinha antes. O pai, viajante, estava trabalhando, e não tinha hora certa para voltar. Geralmente, chegava bem tarde e ela não tinha como se comunicar com ele. O que fazer? 

Em prantos, resolveu procurar notícias com os vizinhos. Ninguém soube informar nada. A mãe de Márcia tentou tranquilizá-la: 

— Acalme-se, Julieta. Com certeza sua mãe voltará logo.  

— Será? Ela nunca me deixaria sem notícias. Nem um bilhete, nada!... Estou desesperada, dona Vitória. Tanta coisa pode ter acontecido. Pode ter sido atropelada, sequestrada, sei lá! Com tanta violência que existe por aí, acho que ela até pode estar... 

— Nem pense uma coisa dessas, Julieta. Tenha confiança em Deus. Sua mãe vai

voltar.    

— Seria bom avisar a polícia? — sugeriu Márcia. 

— Já avisei. Ficaram de me comunicar se descobrissem alguma coisa. Preciso voltar para casa. 

Márcia e a mãe a acompanharam para que ela não ficasse sozinha. Julieta estava exausta. Acomodou-se num sofá, próximo ao telefone, sob grande aflição.  

Passou por um cochilo. Acordou com o barulho da chave na fechadura. Era sua mãe que chegava. Ao ver aquela figura tão querida, Julieta pulou do sofá, gritando: 

— Graças a Deus! Mamãe, você está viva! 

A senhora sorriu, surpresa: 

— Claro que estou viva, minha filha. Mas o que está acontecendo aqui? — indagou vendo a aflição de Julieta e notando a presença das vizinhas. 

Julieta nem conseguia falar. Em choro convulsivo, mantinha-se agarrada à mãe, como se temesse perdê-la. Dona Vitória explicou o porquê da preocupação de todos, concluindo: 

— Mas, afinal, onde você estava, Regina? 

A mãe de Julieta esclareceu: 

— Precisei acompanhar uma amiga ao médico. Como ela não tem família na cidade, pediu-me que fosse junto. O médico diagnosticou um problema sério e mandou-a imediatamente para o hospital. Ela foi submetida a uma cirurgia de emergência e está passando bem. Enfim, só agora pude voltar para casa. 

— Que susto me deu! Por que não me avisou, mamãe? — reclamou Julieta, magoada. 

— Mas eu avisei, minha filha. Deixei um bilhete para você! Aqui em cima do armário para que você visse logo ao voltar da escola. Não o encontrou? 

— Não vi bilhete nenhum! 

— Porém, eu o deixei aqui em cima! Bem onde você costuma colocar sua mochila. Vamos procurá-lo. 

Levantaram a mochila, que continuava no mesmo lugar, nada. Debaixo da toalha de crochê, nada. Dentro dos vasos, nada. Até que, espiando atrás do móvel, dona Regina, o viu. Caíra entre o móvel e a parede.        

— Aqui está ele!  

Julieta abriu-o e leu: “Querida filha Julieta. Preciso ir ao médico com Hortênsia, amiga que você conhece. Não tenho hora para voltar. Não me espere. Deixei o seu almoço no forno. Um beijo. Mamãe.”    

Ao ler o conteúdo do bilhete, Julieta sentiu-se emocionada. Sua mãe não se esquecera dela. Pensara nela o tempo todo. Ela a amava. Arrependida, Julieta correu para os braços da mãe: 

— Mamãe, perdoe-me. Tenho sido péssima filha. Hoje percebo como deve ter sofrido todo esse tempo; sua preocupação comigo, que nunca entendi; seu carinho através dos cuidados diários, comigo e com papai... 

— Tudo isso é amor, minha filha. 

— Amor que eu nunca entendi. Somente hoje, ao sentir sua falta, o medo de perdê-la fez-me descobrir quanto você é importante para mim. Obrigada por tudo! 

Abraçadas, mãe e filha sentiram que uma vida nova começava naquela casa, com compreensão, entendimento e muito, muito amor.        

                                                                    Tia Célia 



 


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