Kennedy Gomes
Martins:
“Vivamos como
seres
espirituais em
experiências
corporais”
A capacidade de
superação dos
traumas e de
valorização da
própria
personalidade
está em nossa
essência imortal
como Espíritos
que somos
|
Kennedy Gomes
Martins (foto),
psicólogo
clínico, natural
de
Sertãozinho-SP,
onde reside,
vincula-se ao
Centro Espírita
Deus e Caridade,
da mesma cidade,
e ao GRAAUS –
Grupo de
Recuperação de
Alcoólicos e
Dependentes
Químicos Augusto
Silva.
Coordenador de
grupos de
estudos
doutrinários e
palestrante, sua
experiência
profissional
aliada ao
conhecimento
espírita traz
informações
importantes,
como o leitor
poderá ver na
entrevista
seguinte.
|
Como psicólogo
de formação e de
atividade
clínica, qual a
maior causa que
leva alguém à
procura de
terapias? |
A psicoterapia é
um valioso
instrumento para
o enfrentamento
das dificuldades
humanas, as
quais se
manifestam em
variadas formas
e situações,
sendo procurada
por vários
fatores de
aflição humana
como depressão,
medo,
insegurança,
fobias,
ansiedade,
conflitos
pessoais,
conjugais,
familiares,
perdas,
problemas de
inter-relacionamentos
grupais e
sociais, e
muitos outros
não citados que
caracterizam as
dificuldades
humanas. A
procura também
ocorre com
caráter
preventivo, ou
seja, como
instrumento de
crescimento,
autoconhecimento
e amadurecimento
interior.
O distanciamento
de Deus e o
materialismo, em
suma, são
quesitos
responsáveis
pela baixa
autoestima
presente em
tantas
criaturas?
Sem dúvida
nenhuma. Pois
quem busca a
realização no
materialismo,
naquilo que é
ilusório,
frustra-se,
decepciona-se,
gerando
profundas
angústias
interiores. A
autoestima, o
autoamor vêm da
sintonia com a
nossa essência,
e todos somos
filhos de Deus.
Quando
distanciamo-nos
dos reais
objetivos da
vida, vivendo
como corpos, só
temos
desilusões.
Quando vivemos
como seres
espirituais,
teremos
encontrado a
finalidade da
vida, vivendo
com mais alegria
e disposição.
As adversidades
causam reações e
lesões
diferentes em
cada pessoa.
Existe uma
receita para
administrar as
ocorrências com
mais equilíbrio?
O indivíduo
sofre não pelo
acontecimento em
si pelo qual
está passando,
mas pelo
significado que
atribui àquilo
que passa.
Assim, duas
pessoas podem
passar pela
mesma
adversidade, com
reações
diferentes, pela
interpretação
que cada uma dá
aos fatos.
Alguns
compreendem as
adversidades
como instrumento
de aprendizado e
de crescimento,
transformando
uma dor em
oportunidade
para mudanças
positivas em sua
vida. Minha
avozinha sempre
me
dizia: – Filho,
há males
que vêm para o
bem. Nunca me
esqueço da
receita da Vó
Meca para
administrar as
adversidades com
equilíbrio e
serenidade.
Muitas pessoas
se sentem
travadas pelo
medo e pela
timidez,
originárias de
causas diversas.
Como vencer
esses quadros?
O sentimento do
medo é natural e
deve fazer parte
do rol das
emoções
saudáveis do ser
humano. Porém, é
preciso
diferenciar:
existe o medo
saudável e o
medo patológico.
O medo saudável
protege-nos dos
perigos da vida.
Vem do instinto
de
autoconservação.
Agora, o medo
torna-se
patológico
quando a pessoa
faz uma
interpretação
distorcida,
irreal de uma
situação ou de
algum objeto. Já
a timidez tem
origem,
geralmente, numa
grande
insegurança
interior. A
pessoa tímida
tem de rever os
conceitos sobre
si mesma.
Normalmente, o
tímido possui
crenças de
desvalia, de
autodesprezo, de
incapacidade. E
todos somos
capazes. Temos,
é claro, nossas
dificuldades,
mas temos também
potencialidades
que podem ser
desenvolvidas e
aprendidas. Para
que ficarmos
somente ao lado
da dificuldade?
Muitos
desequilíbrios
são oriundos de
rancores, mágoas
e mesmo do ciúme
e da inveja.
Como psicólogo,
você recebe
muitos casos
oriundos dessas
questões? São
eles os mais
difíceis de
orientar?
Como ensina a
Doutrina
Espírita, a
maior chaga da
humanidade é o
orgulho e o
egoísmo. Daí
advêm todos
esses
desequilíbrios
interiores
citados. Ainda
somos
Espíritos
ignorantes,
alunos
indisciplinados
que não
aprendemos a Lei
do Amor, tão bem
ensinada e
exemplificada
por Jesus.
Portanto, são
muitos os casos
oriundos dessas
questões. Se são
os mais difíceis
de orientar,
lembremo-nos do
Mestre Maior,
que já faz 2011
anos que nos
ensina, e
teimamos até
agora em não
aprender, nem
praticar.
Como a formação
familiar influi
na
personalidade,
em suas
neuroses, medos
e outros perfis?
A família é a
grande escola de
educação dos
nossos
sentimentos.
Através da
convivência e
dos exemplos
observados, a
criança vai
registrando as
suas primeiras
impressões da
vida e daí vai
construindo sua
personalidade. O
que vivencia no
campo familial
exerce uma
grande
influência na
construção de
seu psiquismo,
tanto para o
norteamento
saudável quanto
para o
desalinho.
Felizmente hoje
nós, pais, já
temos condições
de oferecer uma
psicosfera mais
saudável para
que os filhos
absorvam o
melhor de nossos
exemplos.
Os pais têm na
consciência uma
enorme
responsabilidade,
mas, com a ajuda
dos inúmeros
recursos que já
temos na
atualidade,
poderemos, sim,
cumprir nossa
missão de
ajudá-los na
construção de um
perfil
psicológico
equilibrado e
sintonizado com
o Bem Maior.
Como é, em sua
opinião, a
ligação entre
Psicologia e
Espiritismo?
A Psicologia é a
ciência da alma,
que estuda o
comportamento
humano, os
processos
mentais e a sua
interação. O
Espiritismo, na
definição de
Allan Kardec, é
a ciência que
trata da
natureza, origem
e destino dos
Espíritos, bem
como de suas
relações com o
mundo corporal.
Assim, em seus
conceitos, já
podemos perceber
a existência de
uma grande
interface entre
essas duas
ciências.
Esse elo pode
ajudar? De que
forma?
Sim, sem dúvida
alguma, pois
Ciência e
Religião nunca
se entenderam
bem, pois a
razão não
encontrava
lógica na fé,
enquanto que a
fé caminhava sem
a companhia da
razão. Havia um
vazio entre as
duas, que está
sendo preenchido
pelo
conhecimento dos
mecanismos do
Universo
espiritual e
suas relações
com o mundo
corporal. Uma
vez comprovadas
pelas
experiências
científicas, uma
nova luz se fará
no conhecimento
humano. Esses
estudos estão
sendo
desenvolvidos
por eminentes
cientistas nas
melhores
universidades
nacionais e
internacionais.
O Espiritismo,
trazendo a
síntese do
conhecimento
humano, pode
contribuir muito
com a Psicologia
e as demais
Ciências, bem
como ser
iluminado por
essas. Mas,
temos um detalhe
importante a
dizer,
utilizando-nos
do bom senso e
do respeito: não
podemos
transformar o
Centro Espírita
em consultório
de Psicologia,
nem consultório
psicológico em
Centro Espírita.
Como sente o
perfil
psicológico do
público em suas
palestras?
O público em
geral tem
demonstrado uma
necessidade
muito grande por
estudos e
trabalhos
sérios, onde
exista uma
profundidade.
Nós, expositores
do conhecimento
espírita
cristão, não
podemos ficar
mais em
superficialidades,
em modelos
“palestrantes”,
pelos quais
alimentamos
muito mais
nossas vaidades
e uma caminhada
na paralela do
Bem. Trazemos
grande
responsabilidade
e compromisso na
expansão do
conhecimento
espírita, mas
principalmente
na vivência
daquilo que
ensinamos aos
outros.
Algo mais a
acrescentar?
Lembro-me, neste
instante, do
começo da
belíssima música
do compositor
espírita Moacyr
Camargo, chamada
Louis Armstrong,
que diz assim:
“Eu acredito
Que o mundo será
Bem melhor do
que é
Se enchermos as
almas de flores
E floridos
sermos só aroma.
Sem os espinhos
que tanto nos
feriram”.