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Ano 5 - N° 227 - 18 de Setembro de 2011

TÂNIA REGINA REATO
taniareato@hotmail.com
São João da Boa Vista, SP (Brasil)

 
 

 Audiolivros: um resgate da arte da leitura


Por estes dias, ao reler no livro O Evangelho segundo o Espiritismo uma mensagem assinada pelo Espírito de Sanson, não pude deixar de pensar naqueles que se encontram privados dessas leituras por estarem sofrendo da aflitiva condição de deficientes visuais.

Não poderia, tampouco, deixar de me recordar da consoladora lição evangélica que nos esclarece a respeito das possíveis razões dessas provas e expiações, experiências que, se vividas resignadamente, além de demonstrarem a total confiança na justiça de Deus e em seus desígnios, certamente, levarão o Espírito a escalar com mais segurança a longa jornada evolutiva, sejam tais experiências decorrentes de “resgate”, “correção” ou “drenagem de energias acumuladas”. A lição citada chama-nos, porém, a atenção para o dever que o Pai nos atribui de nos esforçarmos quanto possível em não só procurarmos meios de sanar nossas próprias aflições, mas também, e com maior vigor, sanar ou aliviar as aflições de nossos semelhantes.

Podemos conferir esse conselho lendo a mensagem de Sanson, recebida na Sociedade Espírita de Paris em 1863, abaixo parcialmente transcrita:

“Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontrareis, dentro de certo período, em mundos mais adiantados; e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, destinados a se elevarem ao infinito. Assim, não podeis recusar aos vossos irmãos o que Deus liberalmente vos outorgou, porquanto, de vosso lado, muito vos alegraria que vossos irmãos vos dessem aquilo de que necessitais. Para todos os sofrimentos, tende, pois, sempre uma palavra de esperança e de conforto, a fim de que sejais inteiramente amor e justiça”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI, item 10.)

Em se tratando de deficientes visuais falemos um tanto dos companheiros espíritas em passagem por tais provas ou expiações e tentemos nos colocar, um minuto que seja, em iguais condições. Pensemos naqueles que um dia usufruíram o sentido da visão e, amantes da literatura espírita, hoje se encontram impossibilitados de exercê-lo devido a uma limitação total ou parcial.

Podemos imaginar que esse fato, para aquele que sofre de privações visuais, é como se uma luz se apagasse no final do túnel e não se encontrasse o interruptor para acendê-la. É como num casa, embora não faltasse o pão a quem tem fome, esse pão se encontrasse num recipiente transparente guardado por um lacre inviolável... 

Saulo de Tarso experimentou a condição de cegueira 

Junto a estes pensamentos vem-nos à mente a cena de Saulo de Tarso “cego no chão”, descrita por Emmanuel em seu livro Paulo e Estêvão, psicografado por Francisco Cândido Xavier, cujo relato vale a pena recordar:

“Em dado instante quando mal despertara das angustiosas cogitações, sente-se envolvido por luzes diferentes da tonalidade solar... Intimamente, considera-se presa de inesperada vertigem após o esforço mental, persistente e doloroso. Quer voltar-se, pedir o socorro dos companheiros, mas não os vê, apesar da possibilidade de suplicar o auxílio.

—  Jacob!... Demétrio!... Socorram-me!... — gri­ta desesperadamente.

Mas a confusão dos sentidos lhe tira a noção de equilíbrio e tomba do animal (...).

A visão, no entanto, parece dilatar-se ao infinito. Outra luz lhe banha os olhos deslumbrados, e no caminho, que a atmosfera rasgada lhe desvenda, vê surgir a figura de um homem de majestática beleza, dando-lhe a im­pressão de que descia do céu ao seu encontro. Sua túnica era feita de pontos luminosos, os cabelos tocavam nos ombros, à nazarena, os olhos magnéticos, imanados de simpatia e de amor, iluminando a fisionomia grave e terna, onde pairava uma divina tristeza.

O doutor de Tarso contemplava-o com espanto pro­fundo, e foi quando, numa inflexão de voz inesquecível, o desconhecido se fez ouvir:

— Saulo!... Saulo!... por que me persegues?”.

À cegueira às portas de Damasco seguiu-se, dias depois, o benefício da visão, graças ao magnetismo de Ananias, como narra Emmanuel na mesma obra:

“No terceiro dia de preces fervorosas, eis que o hote­leiro anuncia alguém que o procura. (...) Manda entrar. Um velhinho de semblante calmo e afetuoso ali está, sem que o convertido possa ver-lhe...

—   Quem sois? — pergunta o cego admirado.

—   Irmão Saulo, o Senhor, que te apareceu no caminho, enviou-me a esta casa para que tornes a ver e recebas a iluminação do Espírito Santo.

—   Vosso nome?

—   Ananias.

—  Jesus mandou-me, justamente para que tivesses, de novo, o dom da vista.

—  Agora — disse Ananias, impondo-lhe as mãos nos olhos apagados e num gesto amoroso —, em nome do Salvador, peço a Deus para que vejas novamente”.

A preciosa ajuda de Ananias constituiu para Saulo um convite à renovação! 

Os audiolivros beneficiam não apenas os deficientes visuais 

Seria absurdamente pretensioso tentarmos ser os detentores da luz que devolveria a visão aos companheiros de ideal cristão, entretanto poder-se-ia tentar, embora não lhes devolvendo a visão física, a elaboração de um meio de resgatar-lhes a condição de usufruir da vasta literatura espírita por meio da audição, de modo a “oferecer-lhes os olhos” para que vejam além das estrelas...

É conhecido de todos o grande avanço tecnológico dos eletrônicos e ninguém ignora também a existência de audiolivros sobre matérias diversas disponibilizados para compra.

Temos aí a ferramenta ideal que atenderia às necessidades de nossos irmãos e irmãs, adultos e crianças, que se apresentem com deficiências visuais. Eis um recurso que não atenderia tão-somente a esse gênero de deficiência, mas igualmente os deficientes imobilizados pela paralisia em seus diversos graus de imobilidade, a exemplo dos irmãos que se encontram em um leito hospitalar ou em sua própria casa, muitas vezes solitários, e que poderiam usufruir desse lazer instrutivo, esclarecedor e, acima de tudo, consolador, pois os audiolivros podem fazê-los “viajar” pelos belos caminhos relatados nessas histórias em que a misericórdia divina inspira em todos confiança, encorajamento, resignação, esperança e fé.

Espíritas que somos, convictos da existência da vida após a morte do corpo físico, aprendemos com a doutrina acerca da população de desencarnados que habitam o orbe terrestre e que estão presentes em todos os ambientes, o tempo todo. Aprendemos, também, sobre os diferentes níveis evolutivos desses Espíritos. Ora, quantos deles não poderiam acompanhar as histórias relatadas nesses áudios e, assim, beneficiar-se com seu conteúdo, de modo a se instruírem e a se esclarecerem, ampliando sua visão espiritual e conquistando uma melhor condição espiritual?!

Temos já informações de iniciativas voltadas para estas questões, como já foi mostrado em edições anteriores por esta revista. Entre essas iniciativas, podemos citar a da FEB em parceria com a LBV, que disponibiliza algumas obras da psicografia do querido e saudoso Chico Xavier. Os livros são lidos acompanhados de efeitos sonoros que lembram as antigas novelas de rádio, tornando a audição bastante interessante e agradável.

Temos, além dessa experiência, alguns sites que disponibilizam a compra de CDs via net, e várias obras de autores espíritas, como Kardec e Léon Denis, sem, contudo, os efeitos sonoros, fato que não altera em nada o prazer de ouvi-las e/ou estudá-las. 

A Audioteca Sal & Luz é um exemplo desse trabalho 

Outra bela iniciativa que deve ser citada e exemplo a ser seguido para o bem e a expansão da divulgação da doutrina espírita é o da Audioteca Sal & Luz, situada na cidade do Rio de Janeiro, cujo trabalho é voltado para o atendimento dos deficientes visuais. A Sal & Luz conta atualmente com 2.800 associados e uma audioteca formada com livros literários sobre os mais variados temas. Vale ressaltar a propósito disso que, enfrentando grandes dificuldades financeiras, a Audioteca Sal & Luz tem buscado novas parcerias para manter-se ativa.

Num primeiro momento, ao ter notícias acerca da Sal & Luz, imaginei como seria maravilhoso termos no movimento espírita audiotecas constituídas de obras espíritas que pudessem atender às necessidades de confrades e simpatizantes do Espiritismo que enfrentam limitações visuais ou a cegueira completa e irreversível.

Temos no movimento espírita grande número de palestrantes que disponibilizam suas palestras e conferências sobre os mais diversos temas, as quais podem ser ouvidas, vistas e copiadas via internet, graças a inúmeros sites mantidos por companheiros da doutrina conscientes da importância de sua divulgação para o avanço espiritual da humanidade. Trabalhos dignos de nota, pelo valor que aí se encerra, e que suprem a dificuldade que muitos encontram em participar de todos os eventos que são realizados pelo Brasil afora e pelos que, por razões diversas, não podem frequentar como gostariam as casas espíritas e seus grupos de estudos.

Embora haja grande mérito nesses trabalhos, eles não podem atender de forma satisfatória às necessidades dos deficientes visuais, pois que estes não podem ver e, portanto, não podem ter acesso a tais brilhantes e consoladoras exposições disponíveis neste veículo bendito chamado computador. A exceção fica por conta das gravações disponíveis no formato de CD.

Adentrando esse terreno, podemos identificar grupos que não se encontram em condições monetárias que lhes propiciem a compra de um computador ou o custeio da utilização da internet. Em contrapartida, entre esses vamos encontrar um grande número de pessoas que possuem aparelhos de som que lhes permitem ouvir CDs, podendo assim, com facilidade e prazer, ouvir nesses aparelhos toda a literatura espírita, não só palestras e conferências, que estivessem disponíveis no formato de áudio, os chamados audiolivros.

Certamente, esses companheiros, acompanhados por seus amigos espirituais, sentir-se-iam imensamente gratos e solidarizados pelos grupos de amigos espíritas interessados na plena e completa divulgação da doutrina, isenta de exclusão, pois todos teriam acesso a ela. 

A união entre as Federativas e as Editoras seria importante 

Com a tecnologia ao nosso favor, somada à nossa boa vontade, é possível, pois, resgatar, mesmo que em parte, a alegria desses companheiros, devolvendo-lhes o contato com a doutrina através da literatura, senão pelos olhos, por meio da audição.

Ao simples toque de um botão “play” poderão chegar aos ouvidos desses irmãos as belas narrativas de um romance como o já citado Paulo e Estêvão.

Livros antigos nas datas, mas atuais no conteúdo; livros atuais, inspirados nos antigos...  Sejam eles didáticos e voltados para os estudos; sejam romanceados e voltados para o exercício da sensibilidade; sejam evangelizadores e voltados para a edificação da alma! Todos instruindo, todos consolando e, acima de tudo, todos balsamizando feridas, estejam sendo ouvidos por encarnados ou desencarnados.

É compreensível que se considere o alto custo que se despenderia para tal projeto por parte daqueles que a ele aderissem. Creio ser somente este o motivo por que um projeto como esse não esteja ainda em funcionamento. Mas creio também que a “união faz a força” e que, em se encontrando companheiros conscientes, essa questão dos custos será superada.

Para tal empreendimento devemos ter em conta questionamentos como este: O que podemos fazer, em relação aos deficientes visuais espíritas ou não, para lhes devolver a bendita condição de, através da literatura espírita, revisarem seus estudos junto às obras doutrinárias e, ainda, atualizá-los quanto às novas obras com novas informações, diretrizes e ensinamentos trazidos na atualidade por Espíritos benevolentes preocupados em nos auxiliar a enfrentar esse delicado período de transição planetária?”

Que se unam as Federativas, as Uniões regionais e intermunicipais, as Editoras espíritas e tantos mais quantos queiram e possam trabalhar encontrando mecanismos que favoreçam tal projeto!

Cabe aqui, por sinal, um parêntese: Seria bastante interessante, para o assunto em questão, que as Editoras passem a lançar seus livros também na versão de audiolivros, firmando acordos com as empresas, senão elas próprias, que já atuam nesse mercado.

As Casas Espíritas poderiam intermediar a compra desses CDs junto às empresas e/ou editoras que os disponibilizassem e, por sua vez, estas poderiam promover condições para que as mesmas casas adquiram os audiolivros com vistas a formar uma audioteca, a fim de que seus frequentadores ou quem mais se interessar, portadores de deficiências várias, acompanhadas de carências monetárias, se tornem associados dessas audiotecas e passem a usufruir desse recurso e, na sequência, adquirir o bem imperecível do CONHECIMENTO!
 

                                                


 

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