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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 6 - N° 294 - 13 de Janeiro de 2013

 
 


Tirando o peso

 

Augusto era um menino bom, mas tinha um defeito: estava sempre a reclamar de tudo: da aula que fora chata, da comida de que não gostava, do brinquedo que havia se quebrado, da irmã que se intrometia sempre em sua vida.

No entanto, o que mais incomodava a mãe dele, dona Meire, é que um irmão dela, por problemas de saúde, viera para a casa deles e estava ali há algum tempo, sem perspectivas de poder voltar à sua própria residência.

E Augusto, com o passar dos meses, foi ficando cada vez mais irritado com a presença do tio. Não suportava

ter alguém alterando a rotina familiar.

Certo dia em que ele estava especialmente chato, a mãe o chamou para conversar:

— Guto, o que está acontecendo com você? Vejo-o sempre irritado, nervoso...

— Não é nada, mamãe. Vai passar.

A mãe pensou um pouco e considerou:
 

— Quando temos algum problema, meu filho, não adianta fugir dele. É preciso enfrentá-lo! Conte-me: o que o está incomodando?

Afinal, o garoto confessou:

— Ah, mamãe! Estou cansado da presença do tio Felício aqui em casa! Parece que não temos liberdade para nada! Como o tio não pode sair para passear, nós também não saímos!...  Minha  irmã  vive  me

incomodando! E agora, ainda bem que as aulas terminaram, porque eu não aguentava mais ter que estudar todo dia!...

E, aproveitando aquele momento, ele se queixou de tudo e de todos. Quando terminou, a mãezinha sorriu e disse:

— Guto! Você reclamou de tudo! Parece que não gosta de nada! Afinal, do que é que você gosta?!... O que o faz ficar feliz?

Diante das palavras da mãe, o menino arregalou os olhos, espantado. Jamais havia se dado conta de que não gostava de nada. Então, ele revirou sua cabeça procurando encontrar algo de que gostasse.

— Também não é assim, mãe. Eu quero mudar, mas não consigo. Por exemplo, gosto muito de participar de corridas!...

A mãe pensou um pouco e considerou:

— Interessante!... Guto, para participar de uma corrida o que você faz antes?

— Eu exercito as pernas.

— Antes disso. Em relação às roupas, o que você faz?

— Ah! Eu tiro tudo que possa pesar. O professor diz que a roupa deve ser bem leve. Para correr, quanto menos roupa melhor!

— Isso mesmo. Então, como você tira o máximo de peso para poder correr melhor, na vida também precisamos ficar mais leves quando desejamos melhorar nosso comportamento. Só que é outro tipo de peso que devemos tirar: o egoísmo, o ciúme, a inveja, a irritação, o costume de reclamar de tudo e de todos. Entendeu?

O menino baixou a cabeça e reconheceu:

— Entendi, mamãe. Acho que você tem razão. Muitas vezes, sinto inveja e ciúme de outras pessoas, quando recebem mais atenção do que eu.

A mãe abraçou o filho carinhosamente, explicando:

— Guto, quando a mamãe ou o papai parecem dar mais atenção a sua irmã ou ao seu tio Felício, é que eles estão precisando mais naquele momento. Não se esqueça de que você é nosso filho do coração e que o amamos muito.

— Eu sei, mamãe. É egoísmo mesmo! Vou tentar agir diferente — o garoto prometeu, aliviado.
 

Daquele momento em diante, Augusto procurou mudar. Entrou no quarto do tio perguntando como ele passara a noite e se estava melhor. Surpreso com a súbita atenção do sobrinho, o tio respondeu e começaram a conversar. Guto ficou durante horas ouvindo o tio a falar de sua cidade e contando casos engraçados. O tempo passou e ele nem percebeu. Antes de sair do quarto, o tio lhe disse:

— Guto, sei que estou incomodando vocês.

Todos esses meses aqui na sua casa!... Desculpe-me. Notei que você não gosta muito, mas fique tranquilo, logo irei embora.

— Não, tio Felício!... Pode ficar o tempo que quiser. Às vezes eu sou meio chato, mas gosto de você.

— Então, venha cá e me dê um abraço, garoto!

Quando a mãe e a irmã entraram no quarto com o almoço do doente, encontraram ambos rindo, abraçados. Deixando a bandeja na mesinha, as duas aproximaram-se e participaram daquele grande abraço.

Naquele momento, Augusto sentiu como se toneladas de peso tivessem sido tiradas de seus ombros frágeis. Com lágrimas nos olhos, terminado aquele momento tão especial, ele disse à mãezinha, enxugando o rosto:

— Mamãe, acho que já estou preparado para correr!

A irmã e o tio trocaram um olhar surpreso, sem entender. Mas Augusto sabia que sua mãe tinha entendido, e era isso que realmente importava.                                           

MEIMEI


(Recebida por Célia Xavier de Camargo, em Rolândia-PR, em 17/12/2012.)    

 


 


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