João Paulo
Bittencourt
Cardozo:
“O mal grassa na
Terra porque os
bons são tímidos
e deixam de
ocupar os
espaços”
|
O promotor de
justiça João
Paulo
Bittencourt
Cardozo
(foto), 34
anos, residente
em Sarandi (RS),
fala na presente
entrevista sobre
algumas de suas
experiências na
busca de um
mundo melhor e
concita-nos a
somarmos
esforços em prol
desse ideal,
através da ação
espírita.
O Consolador:
Como se tornou
espírita?
Desenvolvi o
interesse em
razão de uma tia
que é espírita
há várias
décadas e, em
determinado
momento da vida,
comecei a
frequentar um
centro espírita.
|
O Consolador:
Em quais
atividades atua
no Centro
Espírita?
|
Tratando-se de
uma sociedade
espírita
pequena, a
Sociedade
Espírita Joanna
de Ângelis de
Sarandi (RS),
com poucos
trabalhadores,
todos
desenvolvemos
ali várias
atividades.
Assim, além de
estar na
presidência,
participo das
reuniões
mediúnicas,
palestras,
passes,
atendimento
fraterno e
grupos de
estudo.
O Consolador:
E no Movimento
Espírita?
Participo da
Associação
Jurídico-Espírita
de São Paulo (AJE-SP).
Tenho
contribuído com
artigos na
revista A
Reencarnação,
da FERGS, e nos
sites da
Associação
Jurídico-Espírita
do Rio Grande do
Sul – AJERS e da
Sociedade
Espírita de
Auxilio
Fraternidade de
Ijuí (RS).
Também contribuo
na secretaria da
União Municipal
Espírita de
Carazinho (RS) e
respondo pela 1ª
Vice-Presidência
da Associação
Jurídico-Espírita
do Rio Grande do
Sul.
O Consolador:
Quais as
particularidades
em desempenhar
uma importante
função no
Ministério
Público, com
suas
responsabilidades
jurídicas e
sociais,
conciliando-a
com a de
trabalhador e
dirigente
espírita?
O principal
desafio,
certamente, é
procurar olhar
cada questão
apresentada em
âmbito
profissional por
uma perspectiva
mais cristã.
Saber prestar
atenção no drama
humano por
detrás de cada
processo,
procurando dizer
alguma palavra
construtiva,
estimulante,
mesmo que o
problema não
possa ser
solucionado como
se gostaria. A
maior angústia é
saber o quanto
existe para ser
feito, o valor
das ferramentas
que são dadas, e
não conseguir
dispor de tempo
suficiente a
todas essas
demandas. Creio
que isto faz
parte do
processo que nos
estimula a
procurar ser o
mais laborioso e
eficiente
possível. Que
Deus nos ajude a
todos a
conseguir!
O Consolador:
Alguma situação
em especial que
gostaria de
compartilhar?
Em duas
oportunidades,
atuei em casos
de mães
gestantes de
fetos
anencéfalos que
pretendiam
abortar. Saber
da importância
da preservação
da vida e da
necessidade
daquelas
gestações para
os Espíritos
reencarnantes
proporcionou a
luz a encontrar
a solução mais
correta nestes
casos.
O Consolador:
O que pensa
sobre a
participação dos
espíritas em
funções
públicas?
É fundamental.
A
Espiritualidade
Superior, em
O Livro dos
Espíritos,
já nos advertia
de que o mal
grassa na Terra
porque os bons
são tímidos e
deixam de ocupar
os espaços. Cada
espírita, mesmo
que saiba ainda
ter defeitos a
vencer e
qualidades a
aprimorar,
pode-se contar
entre os bons,
tendo muito a
contribuir para
o
aperfeiçoamento
das instituições
públicas, várias
delas muito
desacreditadas
na época atual.
O Consolador:
Fale-nos da sua
motivação para
envolver-se nas
questões da
dependência
química?
A principal
motivação é
perceber, no
cotidiano
profissional, o
drama que é a
dependência
química, e o
quão arrasadora
é a todas as
famílias em que
se apresenta. Às
vezes nos
sentimos
frustrados
diante da
timidez dos
resultados
obtidos,
inclusive na
criação das
estruturas
públicas que
sabemos
indispensáveis à
prevenção,
tratamento e
repressão da
drogadição, mas
temos de buscar
encontrar forças
para prosseguir
em frente.
O Consolador:
Qual a
importância dos
centros
espíritas
acolherem os que
chegam aflitos
pela dependência
ou codependência
química?
Nosso papel,
enquanto
espíritas, é
consolar os
aflitos, e o
principal meio
de que dispomos
para tanto é
ensinar a
realidade das
coisas e que o
sofrimento, por
mais atroz que
se apresente, é
sempre uma
situação
temporária, se
conseguirmos
fazer o que nos
cabe para vencer
as suas causas.
Por isso, como
trabalhadores
espíritas,
cabe-nos
oferecer toda a
estrutura de
nossos centros
aos dependentes
e codependentes,
recebendo-os de
braços abertos,
viabilizando-lhes
o acesso ao
conhecimento da
Doutrina
Espírita, ao
tratamento
espiritual e ao
apoio aos seus
grupos
familiares. Mas
nossa
incumbência não
se limita a
isso. Temos que
saber que
fazemos parte de
uma sociedade em
que outras
pessoas e
organismos
sociais já estão
em atuação
contra a
dependência
química, e que
esforços
isolados, na
maioria das
vezes, não
bastam. Assim,
temos de
conhecer toda a
estrutura já
existente e nos
associar a ela,
trabalhando em
rede, de modo a
dar um bom
encaminhamento a
que o dependente
e o codependente
químicos
encontrem todo o
apoio necessário
a enfrentar o
problema em
todas as suas
facetas.
O Consolador:
Como tem sido
sua experiência
profissional
para o
enfrentamento
dos desafios
surgidos com os
dependentes
químicos do
crack, onde o
descontrole é
total?
A tendência de
todos os que,
profissionalmente,
trabalham com
dependentes
químicos do
crack é a
frustração.
Realmente
gostaríamos de
dispor de
estruturas que
fossem eficazes
para o
tratamento.
Entretanto, elas
inexistem, e as
pesquisas
científicas vêm
demonstrando
que, do ponto de
vista médico, a
recuperação de
um dependente de
cocaína e seus
subprodutos, em
que se inclui o
crack, tende a
ser uma sucessão
de idas e
vindas,
recuperações e
recaídas, por
vários anos. Por
isso, procuro
ver a questão
sob o prisma do
Espírito
imortal, que
sempre terá
condições de se
recuperar, não
importa quanto
tempo isso leve,
sabendo que
invariavelmente
se deve investir
no ser humano,
por mais
degradante que
seja a sua
situação no
momento atual.
Além de buscar
com rigorismo
aplicar a lei
aos traficantes,
pois o rigor das
leis penais é
ainda uma
necessidade no
atual estágio da
Humanidade,
procura-se dar
ênfase à
prevenção ao uso
de crack,
buscando com
criatividade
trabalhar
conjuntamente
com as escolas e
famílias no
estabelecimento
de campanhas que
evitem a
dependência
química antes
dela
começar.
O Consolador:
Como analisa as
condições das
casas espíritas
para o
cumprimento da
sua função de
escolas de
almas?
Do
ponto de vista
da atualidade,
as situações são
certamente muito
variadas,
havendo
instituições
que, de há longo
tempo, vêm sendo
exitosas em ser
verdadeiras
escolas de
almas, ao tempo
em que outras,
por diversos
motivos, não têm
alcançado os
mesmos
resultados.
Nisso a
necessidade de
todos
reconhecerem a
importância do
Movimento
Federativo e de
nele se integrar
em participação
efetiva, pois
somente ele tem
condições de
fazer chegar a
todos as
experiências que
dão certo, a fim
de que possam
ser repetidas
por toda a
parte.
O Consolador:
Como avalia o
momento atual da
divulgação do
Espiritismo?
Creio que
estamos numa
época de
transição para
outra de uso bem
mais eficaz dos
meios de
comunicação
existentes para
a divulgação da
Doutrina
Espírita. Os
passos dados nos
últimos quatro
anos pelo
Departamento de
Comunicação da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul
são um grande
exemplo disso.
Não bastasse o
incremento que,
nesse curto
espaço de tempo,
o DECOM deu à
página na
internet, com
sua dinamização
e implantação de
uma Web TV, ao
jornal Diálogo
Espírita e
outros meios,
começaram a ser
dados aos
centros
espíritas
subsídios
concretos a que
cada um deles
estabeleça
vínculos mais
firmes com os
meios de
comunicação de
suas
comunidades, o
que se torna um
estímulo bem
mais palpável à
divulgação do
Espiritismo.
O Consolador:
Como o amigo
percebe o
desafio da
criminalidade?
O aumento da
criminalidade é
uma decorrência
dos valores que
a sociedade,
ainda
adormecida, tem
levado às
últimas
consequências,
especialmente o
individualismo e
o consumismo.
Valores de um
mundo artificial
a que
diariamente
permitimos
acesso aos
nossos lares
quando ligamos a
televisão sem
maiores
critérios.
Certas nações,
por um certo
ponto de vista,
parecem haver
capitulado a
estes valores,
substituindo
políticas
públicas que
poderiam
emancipar suas
camadas mais
empobrecidas por
encarceramento
em
estabelecimentos
prisionais.
Assim, sem
dispensar as
leis penais, nos
aspectos em que
ainda
necessárias,
temos de nos
concentrar,
enquanto
sociedade, em
renovar nossos
valores,
salientando a
importância do
ser em
detrimento do
ter, e de se
investir em
políticas
públicas que
realmente possam
tornar cidadãos
aqueles que, até
então, estão
completamente à
margem do corpo
social.
O Consolador:
Frente à
constatação do
crescente
interesse do
público em geral
pelo
Espiritismo,
quais as ações
que competem aos
dirigentes de
uma casa
espírita visando
prepará-la para
bem atender os
que chegam?
Creio que todos
nós
trabalhadores
devemos procurar
estar cientes da
responsabilidade
disso
decorrente,
propondo-nos a,
antes de tudo,
receber bem quem
acorre às
instituições de
que fazemos
parte. Receber
bem significa
saber ter a
postura de
receptividade
que as pessoas
esperam, como
instrumentos que
devemos ser da
Doutrina
Espírita em seu
aspecto
consolador.
Saber ter a
sensibilidade de
perceber o que
possa estar
acometendo o
íntimo daquele
que nos procura,
acolhendo
carinhosamente e
sabendo
encaminhar ao
serviço espírita
que melhor possa
atender aos seus
anseios. Numa
instituição de
poucos
trabalhadores
como aquela a
que pertenço,
todos somos a um
mesmo tempo
dirigentes e
dirigidos. Desse
modo, temos que
saber nos
influenciar
mútua e
constantemente,
para que
consigamos nos
vigiar em nossas
rotinas como
trabalhadores,
induzindo-nos à
autorreflexão e
à permanente
melhoria.
O Consolador:
Qual a
importância do
trabalhador
espírita pautar
sua conduta
pelas leis
divinas e pelas
leis humanas?
A Doutrina
Espírita
mostra-nos que
as leis humanas
são o reflexo de
uma época,
imperfeitas como
a Humanidade que
as cria, ao
tempo em que as
leis divinas
são, como o
próprio Criador,
perfeitas e
imutáveis. A
obediência à lei
humana, desde
que conforme à
Constituição
Federal do País,
é algo a que nos
devemos submeter
como cidadãos de
um Estado
Democrático de
Direito. O
interessante, no
ponto evolutivo
em que estamos
como Nação –
regendo-nos por
uma moderna
Constituição que
incluiu em seu
corpo todos os
Direitos Humanos
que o
amadurecimento
do planeta no
Século XX
enunciou como
conquistas –, é
que, se
soubermos
realmente fazer
ao próximo
somente o que
gostaríamos que
nos fizessem,
como nos
recomenda a Lei
de Justiça, Amor
e Caridade,
naturalmente
estaríamos
sabendo
respeitar os
direitos de
todas as
pessoas. Para
tanto, não nos
basta deixar de
praticar o que
poderia
prejudicar os
outros, mas é
indispensável
empenhar todos
os nossos
esforços para
fazê-los crescer
como seres
humanos. E isso,
devemos
ressaltar,
simplesmente por
serem nossos
concidadãos.
O Consolador:
Como
profissional do
Direito, qual a
contribuição que
a Doutrina
Espírita pode
dar ao mundo na
construção de
uma sociedade
mais justa?
Creio que a
resposta
anterior já
explica:
deixando-nos
claro qual o
mais perfeito
conceito de
Justiça que
existe – fazer
ao próximo o que
gostaríamos que
nos fosse feito,
em pensamentos,
palavras e ações
–, a Doutrina
Espírita nos
induz
naturalmente a
aperfeiçoar cada
vez mais a nossa
legislação e a
aplicá-la de um
modo que
realmente
consiga
emancipar quem
vive à margem,
fazendo-o ocupar
o seu assento
numa sociedade
de iguais
perante Deus e
as pessoas.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Agradecendo por
este espaço tão
válido de
divulgação do
Espiritismo,
esperamos que
este veículo
possa continuar,
em inúmeras
edições, a sua
trajetória de
iluminar almas e
consolar
corações pelo
conhecimento.